28 Novembro 2022      11:48

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Anfiteatro de Ammaia poderá renascer com música

Há cerca de três anos que os arqueólogos começaram a pôr a descoberto o anfiteatro de Ammaia, nas imediações de São Salvador da Aramenha, a seis quilómetros de Marvão.

De acordo com o jornal Público, este anfiteatro terá estado em funcionamento 400 anos, não se sabendo, porém, quando foi construído. Carlos Fabião, arqueólogo e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ligado a Ammaia desde 2013, não se atreve a estimar quantos espectadores comportaria o recinto.

“Não temos dados para isso. Sabemos, no entanto, que este anfiteatro não tem a ambição do de Mérida, por exemplo. E isso vê-se na dimensão e no facto de as suas bancadas não serem de pedra, mas de madeira”, explica o investigador. “Comparado com outros do mundo romano, é modesto, mas tenho a certeza de que é o anfiteatro com a vista mais bonita de toda a Lusitânia”, acrescenta, apontando para a vila de Marvão no topo da montanha, bem visível de qualquer lugar da arena.

No anfiteatro de Ammaia, há um pequeno nicho no topo poente que parece ter sido usado para qualquer culto religioso, vestígios de paredes rebocadas que, provavelmente, seriam pintadas e, junto à entrada, há um muro cuja função os arqueólogos não conseguem, para já, descortinar.

Para o ano, a equipa de Carlos Fabião e de Joaquim Carvalho, o arqueólogo residente da Fundação Cidade de Ammaia, envolvido nos trabalhos desde o começo das escavações, em 1994, vai tentar apurar se haveria ou não uma porta lateral no recinto e procurar perceber melhor como foram construídos os cárceres.

“Outra prioridade é o esvaziamento da arena, que ainda tem muita terra e pedra, para que se possa avançar com a consolidação da arena e a reconstituição parcial da bancada em madeira, junto à entrada”, afirma Joaquim Carvalho.

Carlos Fabião esclarece ainda que o projeto que vai orientar este renascimento do anfiteatro da cidade já está feito e que, em breve, será apresentado. O seu autor é Pedro Alarcão, da Faculdade de Arquitetura do Porto, um arquiteto habituado a trabalhar em património, incluindo o arqueológico.

Segundo o arqueólogo, o maestro alemão Christoph Poppen, criador do Festival Internacional de Música de Marvão, já esteve neste anfiteatro e “ficou encantado com o que viu e já nos disse que gostava de trazer música para aqui no ano que vem”. “Não sei se isso é possível, porque a guerra na Ucrânia veio baralhar o calendário e tornar tudo muito mais lento e mais caro, mas vamos tentar”, acrescenta o investigador da Faculdade de Letras.

Fabião, que nos últimos três anos escavou com o apoio da Fundação “la Caixa”, prefere não falar do custo estimado, mas garante que tudo vai ser feito de modo a proteger integralmente o monumento. “A bancada será de madeira, como a original, e não será acrescentado nenhum elemento que não seja reversível, que não se possa tirar sem afetar as preexistências ou que crie pressão sobre o que resta da estrutura”.

 

Fotografia de publico.pt