9 Dezembro 2020      08:54

Está aqui

Alunos universitários, responsabilizem-se!

O período de reflexão a que esta fase do ano nos habituou ganha em 2020 uma conotação mais significativa, uma vez que muitos portugueses viveram uma experiência social e de trabalho muito diferentes do que desejaram nas festividades do ano passado. A estratégia a seguir por empresas e trabalhadores face ao próximo ano começa a ganhar forma, e numa semana marcada pelo início da vacinação contra a COVID-19 no Reino Unido, a adoção de atitudes mais positivas começa finalmente a fazer parte do quotidiano.

Existem, no entanto, várias perguntas sem resposta no que toca à empregabilidade, estejamos nós a falar de empresários, trabalhadores ou estudantes. E para estes últimos, o cenário também não é favorável.

Há cerca de três anos, uma das maiores cadeias de retalho do país finalizava um complexo processo de seleção para o seu programa de trainees. Formados nas melhores universidades do país, tinha chegado o momento destes jovens ingressassem num competitivo mercado, com a garantia de se juntarem aos quadros de uma das mais prestigiadas empresas do setor. Foi com elevada expetativa e confiança que os responsáveis desta empresa apresentaram as propostas formais a estes aspirantes a trainees, tendo em consideração a força da marca, a estabilidade, a proposta de valor, e a fantástica experiência profissional que lhes seria concedida. A expetativa saiu gorada: quase metade dos candidatos selecionados rejeitou a proposta que lhes foi feita, alegando que tinham propostas de valor mais elevado noutras empresas.

Apesar de todas as gerações chamarem a si um certo dramatismo quando o tema é a entrada no mercado de trabalho, é evidente que a segunda metade da década passada foi marcada por uma fase muto positiva a este nível, principalmente se falarmos de recém-licenciados ou de jovens. As empresas digladiavam-se pelos melhores candidatos, sendo que o ónus da decisão final pertencia, quase sempre, ao jovem aprendiz. Graças à situação global em que nos encontramos, torna-se cada vez mais claro que esta é uma das mais graves crises de empregabilidade das últimas décadas, não apenas para aqueles que procuram recuperar uma posição no mercado de trabalho, mas também para aqueles que buscam o primeiro emprego, alterando o paradigma de forma dramática. Os estudantes, que outrora aguardavam pacientemente que os seus cursos terminassem para posteriormente ingressarem de forma natural no mercado de trabalho, veem-se a braços com um desafio que os seus padrinhos de curso não tiveram. A entrada no mercado de trabalho tem, para a grande maioria dos novos licenciados e mestres, demasiados pontos de interrogação.

Urge então refletir sobre esta problemática a montante, e no papel que as universidades têm no processo de preparação dos seus alunos para a abordagem ao mercado de trabalho. Ainda que a universidade não possa substituir o papel pedagógico dos pais, tem a responsabilidade de dotar os alunos de competências que lhes permita uma transição suave do meio académico para o profissional, garantindo altos níveis de competitividade.

Responsabilizar os alunos pelo seu próprio futuro

A urgência em ver resultados concretos, a falta de tolerância à frustração e a extrema dependência de tecnologia são apenas algumas das características que a geração que hoje procura começar a sua vida profissional apresenta, e para as quais grande parte das empresas ainda não está preparada. E se há três anos havia espaço para todos, agora só há espaço para alguns. E aqui a Universidade tem dois únicos papéis: partilhar conhecimento e responsabilizar os seus alunos ao longo do seu processo académico, promovendo uma melhor integração no exigente mercado de trabalho.

---------------------------------------------

Sobre o autor: Duarte Meneses é natural de Lisboa mas cedo se apaixonou por Évora e é lá que hoje reside. Licenciado em Psicologia com especialização em Psicologia do Trabalho, é atualmente aluno de Mestrado em Gestão na Universidade de Évora. Trabalhou como Consultor de Recursos Humanos em Portugal e Angola, e atualmente é Gestor de Recursos Humanos em empresas agrícolas da região