7 Fevereiro 2022      11:31

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Alqueva transforma agricultura e torna-se “salvação” de agricultores

A água do Alqueva transformou a agricultura e tornou-se a “salvação” de muitos agricultores no Alentejo, como quatro irmãos de Beja, que criaram um negócio para investir em olival e um agricultor em Cuba que mudou para regadio.

Em declarações à agência Lusa, o agricultor Miguel Gomes, de 41 anos, afirma que “é a nossa salvação. É a única maneira. Só temos água do Alqueva, não dá para regar de outra maneira aqui, não temos nem furos, nem charcas, só Alqueva”.

A parcela de 25 hectares de olival perto de Beja é uma das parcelas de olival da empresa criada por Miguel e os seus irmãos Luís, João e António Gomes, graças à água do Alqueva.

Os irmãos tinham uma exploração agrícola familiar, que “foi vendida”, mas “nunca” quiseram “deixar o campo”, conta o agricultor.

Entretanto, começaram a trabalhar “em grandes grupos de investimento espanhóis” e perceberam “a mais-valia” que é a água do Alqueva e que a cultura do olival é “certa”.

Por isso, juntaram-se para criar um negócio e investir em olival, diz Miguel, lembrando que o investimento começou em 2016, quando arrendaram e plantaram a parcela de 25 hectares.

O negócio foi crescendo e os irmãos Gomes já têm três parcelas de olival de regadio em sebe a produzir, duas no concelho de Beja e uma no de Serpa, num total de 86,5 hectares.

Além disso, vão plantar este ano mais 60 hectares no concelho de Beja, “aproveitando todas as condições com a facilidade da água do Alqueva”, que “dá uma garantia”, sobretudo nos atuais tempos de seca.

“São tempos complicados e sem o Alqueva não havia hipótese para fazer este investimento”, frisa, referindo que na recente campanha olivícola produziram uma média de 3 400 quilos de azeite por hectare.

“Tivemos uma produção muito alta. Se fosse sequeiro, se calhar, nem metade tínhamos”, vinca, explicando que a azeitona produzida é transformada em azeite virgem extra no lagar da Cooperativa Agrícola de Beja e Brinches, à qual vendem a produção.

A “ideia” dos Gomes é “continuar” a investir, “com calma”, para aumentarem a área de olival, refere Miguel, que se dedica “a 100%” à empresa, enquanto os irmãos mantêm os empregos.

Já em Cuba, nas terras de António Vieira Lima, de 46 anos, só há vestígios da plantação de milho do ano passado, mas os pivots de rega não enganam. O Alqueva mudou o negócio do agricultor, que passou a produzir sobretudo duas culturas de regadio.

A “maior mudança” foi, “sem dúvida nenhuma”, a garantia de produtividade, diz à Lusa António, junto a um dos pivots da herdade onde planta 370 hectares de milho.

“No passado, tínhamos sempre a insegurança [sobre] se chove, não chove, temos água, não temos água, e, hoje em dia, a certeza da água abre-nos a porta a podermos fazer investimento quase com a certeza de que iremos ter o retorno”, frisa.

Antes do Alqueva, António fazia um regadio deficitário e baseado em culturas de sequeiro, às quais, “em alturas chave”, dava um “aporte” de água, captada através de furos, para “aumentar o rendimento”.

Em 2008, já com água do Alqueva, António começou a produzir milho, cultura que “dá um rendimento muito superior” e é a que “melhor se adapta” aos solos da herdade. Um ano depois, plantou 15 hectares de vinha numa parcela de terreno fora da herdade.

Em 2021, António produziu 6 000 toneladas de milho, que exportou para Espanha, e 250 toneladas de uva para vinho, que vendeu à Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, da qual é sócio.

“Nunca” poderia ter ido “tão longe no investimento” e seria “completamente impossível” produzir milho e vinha se não tivesse acesso à água do Alqueva, porque não teria certezas de retorno, vinca.

Com a “garantia” do Alqueva, “o investimento é muito calculado, mas com um nível de risco muito inferior”, nota António, rematando: “A água é um custo, mas a falta dela é um custo muito maior”.

Após 20 anos a encher, o Alqueva, que já implicou um investimento de 2.427 milhões de euros, produz energia, reforça o abastecimento público de água a 200 000 habitantes, rega 130 000 hectares e está a expandir-se para beneficiar mais 20 000.

 

Fotografia de sapo.pt