No dia de ontem, 23 de novembro, foram feitas, pelo menos, 35 detenções pela Unidade de Contraterrorismo e pelo DIAP de Lisboa, depois de realizadas cerca de 60 buscas na região do Alentejo, nas quais participaram mais de 400 inspetores. Suspeita-se de tráfico de seres humanos, associação criminosa e branqueamento de capitais, de acordo com a CNN, citada pela TSF. Estas informações foram, entretanto, confirmadas também pela Polícia Judiciária (PJ).
Segundo as mesmas fontes, em causa está, alegadamente, a exploração de trabalhadores estrangeiros, que viviam em condições sub-humanas no Alentejo.
Os suspeitos, que têm idades entre os 22 e os 58 anos, terão enriquecido ao ficar com os ordenados que os empregadores pagavam às vítimas.
No grupo de detidos, está uma solicitadora de Cuba, suspeita de ter ajudado a criar empresas fantasma e a falsificar documentos.
Às vítimas seria prometida, quando estas ainda se encontravam nos seus países de origem, uma vida melhor, com casa, trabalho e ordenado garantidos. No entanto, estas promessas não passariam de um esquema montado por uma rede organizada com base em Beja, mas que incluía também elementos do Leste da Europa, assim como da Índia, do Paquistão ou de Timor.
Este esquema ocultaria um regime de escravatura, uma vez que, à chegada a Portugal, as vítimas ficariam imediatamente em dívida com a rede, dívida esta que ascenderia a milhares de euros depois da cobrança das viagens, da logística e do alojamento. Para além de tudo isto, as atenções da rede estariam também voltadas para as famílias das vítimas, que seriam frequentemente ameaçadas de violência física.
A Ordem dos Advogados, que está a acompanhar toda esta situação através da sua Comissão de Direitos Humanos, já fez saber, através de um comunicado, que, “considerando que os crimes em causa são graves, perturbantes e impróprios do século XXI e que ferem os direitos humanos destes trabalhadores”, se encontra a avaliar as condições de dignidade, de vida e profissionais que foram recusadas a estes imigrantes e que está disponível para prestar todo o apoio legal necessário às vítimas, para que sejam assegurados os seus direitos o mais rapidamente possível.
As vítimas encontram-se a ser ouvidas pelas autoridades para memória futura.
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados considera que estas situações, que devem ser resolvidas, representam um sério e preocupante problema de potencial violação de direitos humanos dos imigrantes que optam por trabalhar em Portugal, lamentando ainda o facto de não existir uma política concertada para o acolhimento a cidadãos estrangeiros no país, o que acaba por ter um efeito negativo na sua reputação internacional.
Considerando que “toda esta situação vai contra a própria Constituição da República”, a Ordem dos Advogados defende ainda que este problema deve ser combatido pelas autoridades competentes, mas também por toda a sociedade.
Fotografia de jornaleconomico.pt