10 Setembro 2022      11:20

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“Alentejanos de gema” – Pedro Nunes

Por Joana Casca

Considerado por muitos o maior matemático português, Pedro Nunes revelou-se como um dos maiores vultos científicos da sua geração. Para além de se dedicar à área da matemática, o alentejano ocupou também o cargo de cosmógrafo-mor para o Reino de Portugal.

Pouco se sabe sobre a sua infância, apenas que nasceu em Alcácer do Sal, em 1502 e que tem ascendência judaica. Tendo desenvolvido o seu trabalho na época dos Descobrimentos, este matemático contribuiu de uma forma muito decisiva para o desenvolvimento da navegação teórica e revelou-se fundamental na instrumentalização das várias viagens feitas pelas tripulações portuguesas.

Formado em matemática e em medicina, foi muito além da sua área de estudos. Foi também inventor de vários instrumentos de medida, entre eles: o “anel náutico", o “instrumento de sombras” e o “nónio”.

Começou os seus estudos universitários em 1517, tendo passado pela Universidade de Salamanca e pela Universidade de Lisboa (que mais tarde foi transferida para Coimbra, passando a designar-se Universidade de Coimbra), onde adquiriu a graduação no curso de Medicina, em 1525. No século XVI, a Medicina exigia também o domínio da Astrologia, da Astronomia e da Matemática, o que fez com que Pedro se tornasse competente também nessas áreas. Prosseguiu os estudos em Medicina e também lecionou várias disciplinas na Universidade de Lisboa, como Moral, Lógica, Filosofia e Metafísica.

Em 1537, quando se dá a mudança da Universidade de Lisboa para Coimbra, o alentejano é transferido para Coimbra para lecionar Matemática, cargo que ocupou até 1562. Para além da sua dedicação ao ensino, foi nomeado Cosmógrafo Real em 1529 e em 1547 tornou-se no primeiro Cosmógrafo-mor do Reino, tendo exercido este cargo até ao seu falecimento. Esta função consistia na supervisão e aquisição de competências e de novos conhecimentos científicos e geográficos e, por isso, foram vários os instrumentos que passaram pelas mãos deste matemático, que se responsabilizava por avaliar e certificar o rigor científico e tecnológico desses mesmos instrumentos.

Em 1531, com apenas vinte e nove anos, o rei D. João III, encarregou-o da educação dos seus irmãos mais novos e, anos depois, foi também responsável pela educação e formação de D. Sebastião.

Pedro viveu num período de transição, durante a qual a ciência passou de um carácter teórico para um aspeto mais prático e experimental. No entanto, este português foi um dos últimos cientistas teóricos, mas também reconhecia a importância da experimentação. Acreditava que o conhecimento científico deveria ser partilhado com todos e, por isso, fez questão que o seu trabalho fosse publicado e traduzido em três línguas diferentes, em português, latim (de forma a atingir a comunidade académica europeia) e castelhano.

Grande parte do seu trabalho está relacionado com navegação. Dedicou-se a vários problemas práticos de navegação relacionados com a correção das rotas, tentando também desenvolver métodos mais precisos para determinar a posição dos navios. Os seus métodos para determinar a latitude e corrigir os desvios das agulhas magnéticas foram utilizados por D. João de Castro, nas suas viagens a Goa e ao Mar Vermelho. Do ponto de vista matemático, também trabalhou em vários problemas mecânicos, tendo sido o último matemático a realizar aperfeiçoamentos pertinentes ao sistema de Ptolomeu.

Pedro Nunes faleceu a 11 de agosto de 1578, em Coimbra. Foi considerado um dos principais rostos da ciência portuguesa, tendo sido um dos pioneiros no que diz respeito ao cruzamento da matemática com os mares, deixando uma obra vasta e inovadora. A sua influência fez-se sentir, essencialmente, nos materiais utilizados pelos navegadores, mudando a forma como estes percorriam o mundo. A sua maior descoberta foi a curva loxodrómica, que revolucionou a navegação e a cartografia, mas foi o instrumento “nónio” que o tornou mais célebre.

Entre as obras escritas por este matemático português, destacam-se: “Tratado da sphera com a Theorica do Sol e da Lua” (Tratado sobre a Esfera acerca a teoria do Sol e da Lua, 1537) e “De crepusculis” (Sobre o Crepúsculo, 1542), onde é apresentado o nónio e resolve o problema da determinação rigorosa da duração dos crepúsculos para dada latitude e dado dia do ano.

Em Portugal, já se realizaram inúmeras homenagens em seu nome e, em agosto de 2009, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Academia de Ciências de Lisboa republicaram as obras completas deste matemático português.