26 Abril 2025      10:57

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Alcochete, Beja e Sines serão cluster de mobilidade para uso militar

O Governo português está a desenvolver um cluster de mobilidade militar, integrado nas discussões dos conselhos de ministros das infraestruturas da União Europeia, com o objetivo de reforçar a logística estratégica no sul do país. Segundo informações avançadas pelo Expresso, as infraestruturas de Alcochete, Beja e Sines foram selecionadas para integrar este projeto, em articulação com o porto de Setúbal. Estas escolhas visam criar hotspots de mobilidade militar, capazes de responder a necessidades logísticas das forças armadas portuguesas e de aliados da NATO.

O futuro Aeroporto Luís de Camões, a ser construído no Campo de Tiro de Alcochete, será um elemento central deste cluster. Planeado para abrir em 2034, o aeroporto está a ser projetado com capacidade para acomodar operações logísticas militares, além do tráfego civil. A sua localização estratégica, próxima de Lisboa e do estuário do Tejo, facilita o acesso a rotas aéreas e marítimas. A deslocalização do atual Campo de Tiro, que ocupa 7.539 hectares e é usado pela Força Aérea Portuguesa para treinos e testes de armamento, está prevista para Mértola, no Alentejo, com custos estimados entre 200 e 250 milhões de euros, suportados pelo Estado. Esta mudança, já decidida pelo Governo, permitirá libertar o terreno para a construção do aeroporto, reforçando a capacidade militar da região.

O Aeroporto de Beja, operacional desde 2011 e com capacidade para receber grandes aeronaves, como o A380, será outro pilar do cluster. Apesar do seu subaproveitamento, com atividade limitada a estacionamento e manutenção de aviões, a infraestrutura é vista como uma solução imediata para operações militares e civis. A sua inclusão no cluster visa potenciar a logística militar, aproveitando a proximidade com Sines (cerca de 100 km) e a possibilidade de integração numa futura linha de alta velocidade Lisboa-Sines-Beja-Évora-Madrid.

O Porto de Sines, um dos maiores da Europa, completa o cluster com a sua relevância para o transporte marítimo militar. A construção do novo Terminal Vasco da Gama reforça a capacidade do porto para operações logísticas de grande escala, incluindo o transporte de equipamento militar. A sua posição estratégica no Atlântico, aliada à ligação com Beja e Alcochete, permite a integração de rotas marítimas, aéreas e terrestres. A melhoria do Itinerário Principal 8 (IP8), que conecta Sines a Beja, está também prevista no plano rodoviário do Governo, facilitando a mobilidade militar na região.

O cluster de mobilidade militar responde às prioridades da União Europeia e da NATO, que buscam reforçar a capacidade de resposta rápida em cenários de crise. A escolha destas infraestruturas reflete a posição estratégica de Portugal no sudoeste europeu, com acesso privilegiado ao Atlântico. No entanto, a implementação enfrenta desafios, como a necessidade de investimentos significativos em acessibilidades, nomeadamente na modernização da rede ferroviária e rodoviária. A articulação entre os Ministérios das Infraestruturas e da Defesa será crucial para garantir a viabilidade do projeto.

A preparação de Alcochete, Beja e Sines para uso militar não só reforça a segurança nacional, mas também posiciona o Alentejo como um hub logístico de relevância internacional, com impactos positivos na economia regional. Contudo, a deslocalização do Campo de Tiro para Mértola tem gerado preocupações locais, com o autarca a lamentar a falta de consulta prévia às populações.