7 Agosto 2022      10:55

Está aqui

Ainda julho

Numa noite quente de julho, os meus olhos pretos transmitem pequenos raios de ansiedade. Um passo em frente e caio para trás. Dou balanço e as minhas costas reproduzem um barulho sonoro similar à dor quando embatem no chão.

Abro os olhos e há uma mão. Tento fazer o mesmo movimento com a boca, mas só tenho a resposta de ar que nem consigo distinguir se vem frio, ou quente. Agarro a mão e sou empurrada, volto duas casas atrás e agora há sangue desenhado pelo meu corpo nu e escaldado. As marcas que decoram as minhas costas do embate, formam símbolos ilegíveis e declaro como as minhas novas tatuagens que simbolizam vida. Vida.

Na incerteza, na dúvida e no receio, gatinho para a frente para (tentar) chegar à vida a cores. Devagar e medrosa, paro quando sou invadida pelo vermelho mais bonito que já conhecera. Aprecio e encanto-me. É aconchegante e um sorriso branco e alinhado forma-se agora na minha cara, revelando uma parte de mim que renasceu.

Algo que cresce em mim, traça o formato do meu corpo, dando-me força para elevar aos poucos, conseguindo manter-me em pé.

Junto determinação, força e garra e, de repente, estou inundada pelo brilho que perdera. Inclino as costas para a frente, não saindo do meu lugar, lugar onde pertencia, lugar onde era a minha casa, lugar inimigo à felicidade.

Curiosa e ansiosa, dou três passos tão pequenos que se me vissem de cima, diriam que me mantera no mesmo sítio. Há um cheiro que me abraça e reconheço-o. Há uma energia contagiante que se faz ouvir acompanhada por uma gargalhada tímida quase inaudível. Há um futuro que me aguarda, esperando passos maiores. Há paz. Há felicidade. Há esperança.