25 Dezembro 2019      10:19

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Chegou o Natal… houve discussão como sempre e há 4 razões para isso

Finalmente, o Natal, a época do amor, da família, das discussões…

Sendo honestos, é quase impossível existir uma refeição em família, ver televisão ou manter uma conversa durante esta época festiva sem que exista uma discussão entre familiares, mesmo evitando os temas quentes como a política ou o futebol.

Esta realidade familiar é até tema de várias cenas nos vários filmes que passam nos variados canais televisivos, nesta época festiva, em que “arte imita a vida” e aquilo que não é a versão do “Natal perfeito”, vejamos: “Sozinho em Casa”, “Amor acontece”, “Natal em família”, “Um Natal muito, muito louco” entre outros, muitos outros. Filmes que, se não no total, pelo menos parcialmente, despem e põem a nu a realidade “louca” de milhares de famílias por esse mundo fora.

Nos encontros familiares as pessoas sentem-se à vontade, num clima de confiança, mas isso nem sempre significa a existência compreensão e, com algum álcool à mistura, podem trazer ao presente aquela velha mágoa emocional que ficou guardado de quando eram crianças, ou de um Natal passado, ou de qualquer coisa que não tenha ficado bem resolvida. Mas se acha que isto só se passa na sua família, desengane-se, Leonard Felder, psicoanalista norte-americano, descobriu que cerca de três quartos de nós tem, pelo menos, um familiar que nos irrita, que nos irrita a sério!

Curioso é que os mesmos defeitos e manias que são inofensivas nos amigos ou conhecidos, se tornam falhas épicas quando relacionadas com os nossos pais e familiares. Haverá algo relacionado com os laços familiares ou com as épocas festivas que seja especialmente irritante?

Um antigo artigo da norte-americana “The Atlantic” sugere quatro teorias que procuram explicar como as nossas famílias nos tornam loucos, durante as festas, e sugere que a solução está na paciência e simpatia.

1 - O narcisismo das pequenas diferenças

Freud notou que as pessoas que viviam próximas umas das outras e eram etnicamente similares – portugueses e espanhóis, alemães do norte e alemães do sul, ingleses e escoceses etc. – eram os que mais brigavam e discutiam com mais fervor.

Aa explicação para isto, de acordo com o psicólogo alemão, deve-se ao “narcisismo das pequenas diferenças”. Por outras palavras, são precisamente as pequenas diferenças em pessoas que são parecidas que formam a base do sentimento de hostilidade entre elas. Poderá por isso que temos tendência a recordar e valorizar as diferenças entre nós e os outros mais que fazê-lo com as semelhanças. Esta teoria de Freud, que até já foi usada para explicar alguns factos de guerras civis, pode também ser aplicada às famílias.

Vejamos: é tão parecida com a sua mãe e agem de modo tão semelhante que por vezes as pessoas até a confundem com ela, mas numas eleições ela votou por um candidato que é o oposto do seu que está sempre com atenção às discussões sobre o salário mínimo, portanto, a sua mãe posiciona-se no seu oposto e ninguém a irrita mais que ela.

 

 2 - Alergias sociais

Nova teoria e novamente o foco no facto de não tolerarmos um familiar poder não estar na pessoa no seu todo mas sim num hábito específico – daqueles que à partida seriam inócuos mas que parece gritante mesmo antes de a sobremesa ser servida. A propósito, não o irrita aquele familiar que conta sempre a mesma anedota?

Joe Palca descreve estas tendências a “alergias sociais” como “pequenas coisas que não provocam muita reação ao início mas que nos podem levar a uma explosão emocional se expostos repetidamente a elas.”

“Os incómodos cumulativos são um dos gatilhos mais comuns nos conflitos relacionais e são normalmente despoletados pela repetição de determinados comportamentos quase irrelevantes.” - diz Logan.

Um psicólogo da University of Louisville, Michael Cunningham, explicou a Palca que no leque de alergias sociais podem estar coisas que vão da falta de educação, como estalar os dedos, a atos não-refletidos como manusear o telemóvel a meio de uma conversa.

Os “alergénicos” que parecem estar em maioria nesta época do ano são os que representam comportamentos intrusivos como haver um familiar que lhe está sempre a dizer que está na hora de se casar, ou ter filhos.

 

3 - Agressões passivas

Perto do final da Segunda Guerra, um coronel do Departamento de Guerra norte-americano descreveu algumas tropas como sofrendo de “reações do tipo neurótico…. Manifestadas pela incapacidade, ou respostas inadequadas, passividade, sabotagem ou explosões agressivas”, resumindo, o cenário de muitos pequenos–almoços no dia de Natal!

A agressão passiva é um incendiário vulgar por detrás de discussões irrelevantes, mas algumas vezes desenvolve-se e ganha o seu lugar a um espaço próprio. A passividade é uma forma de evitar romper aquilo que a pessoa sente como regras sociais arbitrárias, como por exemplo ter que cozinhar bacalhau só porque sim, ou ser forçado a ouvir os conselhos indesejados de um familiar ancião sobre como ser pai ou mãe.

De acordo com Dr. Tory Higgins, do Centro de Motivação da Columbia University, o esforço para evitar o confronto pode ferver demasiado e sair da panela e tornar-se uma tempestade de críticas e gritos quando a pessoa se cansa de ouvir e agradar a toda a gente.  As pessoas passivo-agressivas tornam-se mais complicadas quando “os seus instintos de perigo acendem a luz vermelha devido a exigências que eles compreendem como inaceitáveis ou irrazoáveis.”

O “The Times” sugere que se lide com uma pessoa passivo-agressiva do seguinte modo: “ Para gerir uma variedade imensa de comportamentos passivo-agressivos, os psiquiatras aconselham várias vezes uma espécie de “compromisso de proteção”: não atacar a pessoa – isso só reforça a sua posição como uma autoridade a fazer exigências. Tenha em conta a possível causa da raiva inexpressiva e tente compreendê-la, se possível, durante a discussão.”

4 - As rivalidades familiares não terminam com a infância

Quem não tem aquele primo irritante, ou aquela prima que é se julga superior? Num estudo que envolveu 65 famílias de alunos do 10º ano (norte-americano), escolhidas aleatoriamente, os adolescentes referiram quase tantas brigas com os seus irmãos e irmãs como com os seus pais e o conflito toma proporções maiores quando com opositores e rivalidades do mesmo sexo. Os autores referem que os argumentos nascem de “viver próximo, da competição por recursos limitados e excentricidades pessoais.” E que a forma mais comum de resolução de conflitos era a desistência, o fugir do conflito sem falar deles.

Outros estudos descobriram que os familiares adultos também experienciam o conflito e a rivalidade, mesmo quando já não residem uns com os outros ou com os seus pais. Estas tensões são especialmente pronunciadas entre familiares que forma próximos e são do mesmo sexo.

Remoermos sobre conflitos familiares passados, da infância, pode fazer com que se lute em cima da mesa de jantar como adultos.

A juntar ao facto das pessoas, nesta época, estarem a beber mais, a comer mais comidas com muito açúcar, privados do sono regular e normal e não fazendo tanto exercício como necessário, e não estar ninguém no seu melhor, os moldes das relações antigas podem voltar.

Também é importante lembrar que a irritação é uma marca cultural, incluindo as nossas expetativas e as dos outros, vontades próprias, e até mesmo a língua que falamos.

 

Imagem de tierraregia.com