6 Dezembro 2022      10:45

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Agricultores receiam impacto do Pisão na barragem do Maranhão

A Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia (ARBVS) manifesta-se preocupada com os impactos da construção da barragem do Pisão na barragem do Maranhão, integrante da bacia hidrográfica do Tejo.

Segundo o jornal Público, a ARBVS considerou que o Empreendimento de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato (EAHFMC) terá “impactos significativos nas afluências” à albufeira do Maranhão, levando a uma quebra de um volume de caudal que pode variar entre os 50 e os 72 hm3 anuais.

Foi esta perda de volume nas disponibilidades hídricas que alertou a associação para a necessidade de salvaguardar as afluências que estão concessionadas aos regantes, de forma a que “novos interesses não venham sobrepor-se a direitos adquiridos”.

A preocupação da ARBVS concentra-se nos usos e direitos a atribuir, que “não parecem salvaguardar as necessidades nem os compromissos dos atuais usos agrícolas de jusante”. Esta organização pretende que seja garantido “o volume atribuído para utilização a partir do reservatório do Maranhão de 99 hm3, acrescido das perdas de transporte e evaporação”. A título de exemplo, a associação salienta que a albufeira do Maranhão registou em 2021 um nível de evaporação no espelho de água de 1424 mm, enquanto a precipitação atmosférica ficou pelos 599 mm.

Além disso, a ARBVS reclama uma decisão “prioritária e imediata” sobre os usos precários do regolfo da albufeira. Os agricultores precários têm as suas explorações na periferia dos blocos de rega.

Nos documentos do Título Único Ambiental (TEU) que foram apresentados na discussão pública, esta situação “é adiada para uma fase posterior de exploração”. A decisão é considerada pelos regantes “inexplicável”, por não se regularizarem as situações destes agricultores que, na campanha de 2021, regaram 4280 hectares, dos quais 3970 hectares de culturas permanentes (sobretudo olival e amendoal).

O Estudo de Impacte Ambiental (EIA) elaborado para o projeto do AHFMC antecipa que, no Alto Alentejo, haverá aumentos nos valores médios mensais da temperatura do ar nos meses de inverno e, nos meses de verão, poderão ser superiores aos já registados atualmente. Estes dados “configuram um aumento na amplitude térmica anual (...)”, ao mesmo tempo que a precipitação atmosférica “tenderá a diminuir”, salienta o EIA, sugerindo “uma maior reflexão e ponderação” sobre a construção da barragem do Pisão.

Recorde-se que, até 2025, a barragem do Pisão entrará em funcionamento na mesma linha de água da barragem do Maranhão, com capacidade para reter 116 hm3 e cobrir uma área com 725 hectares.

 

Fotografia de pt.wikipedia.org