24 Março 2022      09:33

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Abertura ao mar da Lagoa de Santo André não se realiza este ano

A operação de abertura ao mar da Lagoa de Santo André, no concelho de Santiago do Cacém, não se vai realizar este ano devido à situação de seca extrema, revelam a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Em comunicado, citado pela agência Lusa, as entidades indicaram que a operação, que permite, anualmente, ligar a lagoa ao mar, não se realiza este ano por causa da “situação de seca extrema, que afeta em particular o sul de Portugal”.

Devido às “condições climatéricas particularmente desfavoráveis” e “relacionadas com a situação de seca extrema”, não terá lugar a operação, “habitualmente executada por esta altura”.

André Matoso, diretor regional da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Alentejo, explicou à Lusa que “esta realidade” de seca extrema “também afeta o corpo lagunar da Lagoa de Santo André”, que apresenta um dos volumes “mais baixos” de que há registo.

Desde 2012 que a APA “assume esta responsabilidade e nunca tinha acontecido ter de suspender ou não abrir a lagoa”, disse o responsável, admitindo “riscos” ou “problemas ambientais para a biodiversidade”, caso se avançasse com esta operação.

“Havia o risco de ficarmos com ainda menos água e, aí, seria um problema ambiental para a biodiversidade ligada à Lagoa de Santo André. Por isso, entendemos que não estavam reunidas as condições para proceder à operação que anualmente é feita”, acrescentou.

O cancelamento da abertura ao mar, inicialmente prevista para o dia 18 e, posteriormente, adiada para 31 deste mês, foi tomada após auscultação das restantes entidades envolvidas no processo, nomeadamente a Capitania do Porto de Sines, a Câmara de Santiago do Cacém e a Junta de Freguesia de Santo André.

De acordo com a APA e o ICNF, a decisão é justificada pelo “volume extremamente baixo de água acumulada na lagoa”, que não garante “potencial hidráulico suficientemente forte” para “a limpeza dos fundos no momento do rompimento da barra”.

Além disso, os níveis baixos de água na lagoa não permitem “manter o canal aberto durante um período de tempo razoável, de forma a garantir a troca de água doce e salgada em volumes minimamente razoáveis”.

“Considera-se que a ligação ao mar, caso fosse executada nesta altura, seria potencialmente prejudicial para as comunidades de peixes, com prejuízos para a atividade piscatória, pois, seria provável a altura de água neste corpo lagunar ficar ainda mais baixa”, adianta ainda o mesmo comunicado.

A APA e o ICNF sustentaram ainda que, “a realizar-se nesta data assumidamente tardia”, a abertura da lagoa não seria benéfica para “a variedade de peixes” naquela reserva natural e “não iria resultar na entrada no sistema de alevins de enguia prateada”.

A decisão teve igualmente em consideração “um significativo número de espécies de aves com elevado valor conservacionista e estatuto formal de proteção”, que “se encontra em plena época de reprodução, com ninhos construídos e posturas iniciadas”.

Recorde-se que a abertura da Lagoa de Santo André acontece todos os anos por altura do equinócio da primavera e, além do espetáculo que a natureza proporciona, visa a renovação das espécies e a limpeza da água.

 

Fotografia de santoandre.pt