22 Janeiro 2017      13:18

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A EXPERIÊNCIA "DE PALMA"

"DESVIOS E RESPECTIVOS ATALHOS: FILMES, LIVROS E DISCOS"

A experiência "De Palma": (quando um sistema articulado e a colagem aos mestres resulta em perfeição).

Ao criar cinema, o que fazer com o Tempo nas sequências basilares – sequências onde o antes, o depois, o espaço, a linearidade ficam claramente circunscrevidos? Reflexão, quando não exigência, primordial. Um olhar sobre os filmes de Brian De Palma leva a dizer que se deve provocar a sua distensão. Pelo alongar de movimentos, pela focalização de gestos e olhares, pelo uso e abuso de planos-sequência, pela evocação de memórias do cinema com rigor, detalhe de linguagem… (algo fica por dizer, é claro, e ainda bem.)

Isto perante os mal amparados espectadores. Processo que remete para os efeitos da distorção temporal relativista. Espectadores, esses, que se julgam (embusteados que foram!) lançados para uma velocidade próxima da luz por um jacto de clímax anticlimático demasiado intenso. Modo de suspensão aparente, equívoco, e também, ou por essa razão, terrivelmente ameaçador.

Teoria física e cinema? Vejamos: um objecto com massa efectiva, por exemplo uma nave espacial tripulada, que viaje a uma velocidade muito próxima da luz, para um espectador que a observe mantendo-se sempre no mesmo referencial, é como se estivesse em travagem; como se dentro dos limites do referencial do espectador tudo ocorresse na absoluta normalidade, mas para o outro ocorresse de forma mais lenta. E a percepção da dessincronia é recíproca - No caso do cinema é a enorme vantagem do realizador.

O que faz o cineasta De Palma? Pois bem, muito do que foi mencionado antes, e bastas vezes de forma…literal (expressão que se pode prestar a equívocos, mas, no contexto, docemente irresistível; coisas da intimidade cinéfila). Não se detendo sequer perante o expediente óbvio para a materialização desse efeito, a tão, e por tantos, detestada câmara-lenta. Homem confiante. O resultado é soberbo.

 

Imagem de cinematicos.com.br