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Rita Medinas

O Medo viaja sem passaporte

Medo de mim. Medo que a minha mente viaje sem a minha autorização.

As minhas veias estão preenchidas de lágrimas zangadas. O meu coração está deprimido, colorido com a cor mais melancólica que alguma vez conhecera.

Os meus ouvidos estão esgotados dos pensamentos que berram uma sinfonia infeliz. Segurando a minha cabeça inquieta entre as duas mãos, grito sussurrando,

"-Ajuda".

Mas é em vão. Não será tudo?

Ao lado do sofá verde pardo há um espelho. Serei corajosa o suficiente para encarar o meu monstro?

Uma súplica de Liberdade

É como se estivéssemos todos a viver dentro do mesmo sonho, aliás, presos nele. Sempre que vemos a saída, voltamos ao início. É quase como um jogo que dura há meses, onde para ganhar, se requer o esforço de todas as partes, onde nem todas estão a colaborar. É o jogo mais difícil que passará por todos nós; mexe com emoções, principalmente com o medo. Há dias e dias que adormecemos junto a esse monstro, pedindo que ele desapareça o mais depressa possível. Mas ele insiste em regressar sempre.

Parece um universo paralelo. Repetimos sempre o dia anterior. Como um flashback.

Medo do Tempo

Tenho fobia ao tempo.

Ao ponteiro que corre mais depressa que o meu próprio piscar de olhos.

Ao barulho irrequieto que conta os passos que os segundos dão. Dias mais tarde, apaixonei-me por ele, o tempo.

Dei por mim afundada numa relação tóxica presa entre quatro paredes. Quatro paredes negras com um cheiro desagradável que se aproximam de mim mais depressa que os ponteiros um do outro.

Foi aí que o vi. Aí sim, o tempo decidiu dar-me tempo e parou.

O meu superpoder

Tenho um superpoder. Num tempo indeterminado, que penso que sejam segundos, consigo voltar anos atrás e sentir tudo. A minha pele regressa ao passado e com ela, a minha mente. O meu coração. Os meus olhos. O ar que, agora, não consigo respirar.

Olho ao meu redor e estou num labirinto. Não sei o que aconteceu. O que me aconteceu. É tão familiar para mim que já não me assusta. Será?

A história da Lua e do Sol

Todos os anos releio a história mais antiga que conheço. Não é um clássico, mas causa O efeito mágico em mim.

Estou a falar da história da Lua e do Sol. Decidi partilhá-la convosco.

Começa com estes dois a apaixonarem-se. Um amor tão único e mágico que faria inveja a qualquer um. Viveram o amor deles enquanto conseguiram, porque o Mundo acabou por “ser criado”.

Na criação deste, foi-lhes dado brilho próprio, para que o Sol iluminasse o dia e a Lua, consequentemente, a noite. Com isto, foram obrigados a viver separados. Imaginem o que ambos sentiram.

Presos em nós

Estou (estamos) presa sem ter cometido nenhum crime. Enclausurada por um erro inconsciente. Mas eu sou a próxima geração. Não posso. Não devo. Não vou sair.

Os acontecimentos recentes levaram-me a passar tempo comigo mesma, descobrindo novas partes de mim que nunca tivera conhecido e aprendendo a lidar com novas emoções e pensamentos.

Respiro fundo várias vezes ao dia porque sei que isto vai passar. Sei que vai passar porque confio em mim e confio nos outros. Sei que, juntos, trabalharemos para chegar ao final desta pandemia negra o mais depressa possível.

Os jardins não nascem de um dia para o outro

Na minha cabeça já só andaria para frente; mas virei as costas. Foi mais forte que eu. Algo me puxou. Caí, de novo. Numa lama suja que me embrulha de uma forma, (in)felizmente, familiar.
Jamais pensaria que os meus passos se enganassem, e regressassem anos atrás. Percebi isso quando senti os meus pés a queimarem, ao mesmo tempo que o vento embalava os meus fios longos de cabelo numa balada desajeitada.

Apanhaste-me

Apanhaste-me. Deste-me a mão e eu saí da poça em que me mantia afogada. A luz decidiu revelar-se de novo. Passado tanto tempo; cumprimentei-a. Aqueceu-me. Transmitiu-me segurança e conforto.

Sorri.

Estava numa dança lenta e apaixonada com ela.

Ainda com a minha mão entrelaçada na tua, guias-me por novos caminhos; não que eu não os tivera conhecido antes. Mas agora, observo noutra perspectiva.

Explodo gratidão. Por ti. Por nós. Pelo que temos, e iremos ter.

Preto

Preto.

O caminho está colorido com um preto delicado e eu estou perdida.

De repente

estou numa casa.

Nunca tinha chegado a esta casa. Sempre estivera muito distante. Há quadros pendurados que gritam agressivamente comigo. Lâmpada que ameaçam tocar na minha face. Uma corrente de ar abraça o meu pescoço. Sou facilmente invadida por maus pressentimentos.

Continuo perdida.

Tento agora caminhar. Voltar à vida. Dou dois passos. Será que consigo subir as escadas?

Volta, renasce

Dirijo o meu olhar para o céu revoltado pintado com um cinzento triste. A minha face está preenchida de lágrimas pesadas e grossas. Elas queimam à medida que fazem o seu percurso. As minhas pestanas estão fracas e frágeis.Busco uma resposta tua. Afinal de contas, é onde moras agora, certo?

Se os meus olhos pudessem falar, neste momento, eles berravam. Berravam de arrependimento, de desespero, angústia e, sobretudo, tristeza.
Tantos sentimentos misturados que nem sei por onde começar.

Porquê?

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