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Poesia

Reencontro

Conhecer lugares

conquistar o mundo

ser dono de tudo

descansar deitado

para sempre

— ser nada.

 

quando te olhei

estavas sentado — esperando —

e nesse gerúndio,

do teu lugar que é meu,

apenas me resta a chaminé

que perfumou para sempre

as ruas da minha infância.

 

Nada pode tirar

o que a vida deu.

Pode-se ser feliz

onde nunca se foi.

 

Conhecer lugares, conhecer lugares e mais lugares!

A filosofia de um adulto tem como base a ganância;

Sapateiro

SAPATEIRO

Por Ricardo Jorge Claudino

.

Mestre sapateiro

sediado em terra singela;

martelo na sola,

martelo ao sol,

mão que segura a sovela

conduz o cerol.

.

Avental posto

Uma viagem elementar

Por Ricardo Jorge Claudino

 

 

Se penso sobre o AR,
Penso no vento
E penso em todas as andorinhas
Que se deixam guiar
Para chegarem até aqui — agora,
E não numa outra estação qualquer.

Se penso sobre a ÁGUA,
Penso nos rios e nas ribeiras
Que nutrem as colheitas.
Só depois penso nas barragens,
Criadas pelo homem, contra a escassez.

Comprei lá uma panela de barro, que ainda uso.

(Eu) Olá, como estás hoje?

(Espelho) Bem, percebes que é a primeira vez que me perguntas?

(Eu) E tens razão. Reconhece que costumas-me dizer coisas irritantes ou desagradáveis.

(Espelho) Refletir sobre o que nos irrita nos outros pode ajudar-nos a entender melhor a nós mesmos.

(Eu) Eu já ouvi essa frase.

(Espelho) Sim, nos livros que estás a ler, mas que não compreendeste.

Arqueologia do Tempo

 

Desenterra-se o tempo
escondido debaixo da terra
porque na superfície estamos exaustos.

.
Nunca vi quem tanta esperança
depositasse no passado:
tu, eu, nós e eles; todos,
os que se perderam sem nunca
se terem encontrado.

.
A arqueologia de nós próprios
é uma viagem até ao fundo
do que suspeitamos ser.

O Destino das Estrelas

Por Ricardo Jorge Claudino

 

De noite,
pelas aldeias e pelos campos,
apagam-se as luzes
que dantes não existiam.

.
Daqui,
graças ao real escuro da noite,
há um reencontro
entre a minha pele
e a luz esbatida das estrelas
— que me falaram há milhṍes de anos-luz atrás.

O som do Calor

Por Ricardo Jorge Claudino

 

 

 

O SOM DO CALOR

Chega o verão
E logo se impõe à primavera;
Assim fosse eu
De firme decisão
Perante a sombra da quimera.

 

— O calor do Alentejo é diferente.
Não me espanta tal afirmação;
Ainda assim há gente que não entende
E que apoquentados vivem
Pela indubitável unicidade desta região.

 

Arado

Por Ricardo Jorge Claudino

 

ARADO

Arar, fertilidade mútua

De quem semeia

O que a terra dá

Genuína permuta.

 

Abençoado arado

Dentes enxadas

Rompendo veios

Aldeia

Vinte e cinco casas

três ruas

duas travessas

o largo da igreja

o sino que toca, de hora em hora,

descansa na madrugada silenciosa.

 

Há sons que caminham

pelas estradas não alcatroadas,

de terra batida, de calçada.

Apanhaste-me

Apanhaste-me. Deste-me a mão e eu saí da poça em que me mantia afogada. A luz decidiu revelar-se de novo. Passado tanto tempo; cumprimentei-a. Aqueceu-me. Transmitiu-me segurança e conforto.

Sorri.

Estava numa dança lenta e apaixonada com ela.

Ainda com a minha mão entrelaçada na tua, guias-me por novos caminhos; não que eu não os tivera conhecido antes. Mas agora, observo noutra perspectiva.

Explodo gratidão. Por ti. Por nós. Pelo que temos, e iremos ter.

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