Está aqui

Juventude

Indenidade

Não te consigo ver.

Está tudo tão cinzento.

Mexe-te, por favor. Esforça-te por mim.

A nuvem insiste estar permanentemente desenhada à minha frente com um olhar incerto que nem o teu sorriso a consegue iluminar.

Não te afastes de mim; eu sei que me consegues ver, eu consigo sentir-te do outro lado.

Chão frio

Chão frio. Cabeça pesada. Alma cheia.

Mãos dormentes. Olhos tristes. Alma depressiva.

Espelho sujo. Canção aborrecida. Alma aflita.

Tempo zangado. Madrugadas infinitas. Alma doente.

Ainda bem que chegaste. Ansiava a tua visita. Deixa-me aclarar-te a mente: o fumo é verdadeiro. Nada dura para sempre. Vamos fugir. Correr até nos cansarmos. Dançarmos até morrermos. Chorar até doer.

Saber (a)mar

Pouso a palma do meu pé esquerdo delicadamente na areia molhada; ficando este com pingas, nunca esquecendo da camada de areia que o pinta serenamente. Respiro fundo e inalo o cheiro da maré cheia que dança ao meu redor: cheira a esperança, cheira a novo, cheira a renovação. Assim que o meu peito baixa, fecho com cuidado os olhos, sentido o mesmo a relaxar. Estou num estado profundo de calma.

Outro passo e tenho os meus dois pés dentro de água. Outro e a água voa pelos meus tornozelos. Ar. Preciso de ar, de novo. Volto a repetir a ação passada e recebo novas sensações.

Deixem-me

Deixem-me. Quero estar sozinha. Quero esta sozinha enquanto o mundo estiver pintado a preto e branco. O mundo continua a transpirar crueldade e não consigo respirar. Larguem-me. Preciso de espaço. Preciso de enxergar com os meus próprios olhos; caso contrário, não acredito.

Suspiro.

Abraço o chão com a palma do meu pé devagarinho. Vivo numa relação intensa com o medo. O meu coração é agredido por olhares penetrantes tendo uma ferida constantemente aberta. O género que tenho tem o poder de mudar o meu destino. O meu fado está mão de outros.

Medo ao espelho

Tenho medo de mim. Medo dos outros. Medo. Medo. E medo. Estou numa bolha há meses; se rebentar, rebento com ela, e depois?

Quero voltar a sentir a liberdade a bombardear cada vaso sanguíneo meu. Quero beijar o vento, balançar ao seu ritmo e sorrir para o sol.  Somos todos peças ingratas que não soubermos dar valor; e agora, choramos implorando por ela. Questiono-me se voltará quando sussurro o seu nome.

Sinto-me parte de um sonho louco coletivo onde se torna um pesadelo de dia para dia. Todos rastejamos até chegar ao toque; mas este corre velozmente.

Dei-te tudo

Dei-te o mundo. Pelo menos o meu.

Dei-te as minhas lágrimas, dei-te a minha dor e continuo do avesso.

Perdi a minha voz, o meu olhar, perdi-me em ti e ainda não me encontrei.

Dei-te o meu ar junto da minha mão e largaste-a. Caiu tão suavemente que só senti quando voltei a ter um frio desconhecido, será? Tão desconhecido assim?

Fiz as pazes com a dor e jogamos xadrez. Caída nela, dá-me forças (ironicamente), não me puxando contra si, não desistindo de mim.

Hoje, contra o vento furioso, despeço-me da tua sombra que me persegue inconscientemente.

Tempo sem senso

O tempo mandou avisar que leva tudo, insistindo que nem o que parece cruel o é. Que tudo acabará por ter um sentido, por mais impiedoso que pareça.

Deito-me com o olhar dirigido para as nuvens, que formando desenhos inconstantes, parecem dançar com o azul claro do céu. Isso é bom, certo? Está claro simbolizando tranquilidade. Fecho os olhos e quem está a nadar agora sou eu. É a minha vez de sonhar com um mundo utópico; será que ele chegará para mim?

O Medo viaja sem passaporte

Medo de mim. Medo que a minha mente viaje sem a minha autorização.

As minhas veias estão preenchidas de lágrimas zangadas. O meu coração está deprimido, colorido com a cor mais melancólica que alguma vez conhecera.

Os meus ouvidos estão esgotados dos pensamentos que berram uma sinfonia infeliz. Segurando a minha cabeça inquieta entre as duas mãos, grito sussurrando,

"-Ajuda".

Mas é em vão. Não será tudo?

Ao lado do sofá verde pardo há um espelho. Serei corajosa o suficiente para encarar o meu monstro?

A Caixa de Pandora

“Pára. Pára de tentar. Pára de esconder o sofrimento e as frustrações debaixo da tua almofada; é lá que descansas a tua mente e onde os teus pensamentos sonham”. Sou a que tudo tem e a que tudo tira. Hesíodo fala sobre mim, e diz: “Dela vem a raça das mulheres e do gênero feminino / dela vem a corrida mortal das mulheres / que trazem problemas aos homens mortais entre os quais vivem, / nunca companheiras na pobreza odiosa, mas apenas na riqueza”.

Uma súplica de Liberdade

É como se estivéssemos todos a viver dentro do mesmo sonho, aliás, presos nele. Sempre que vemos a saída, voltamos ao início. É quase como um jogo que dura há meses, onde para ganhar, se requer o esforço de todas as partes, onde nem todas estão a colaborar. É o jogo mais difícil que passará por todos nós; mexe com emoções, principalmente com o medo. Há dias e dias que adormecemos junto a esse monstro, pedindo que ele desapareça o mais depressa possível. Mas ele insiste em regressar sempre.

Parece um universo paralelo. Repetimos sempre o dia anterior. Como um flashback.

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