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Inês Valadas

OS PORMENORES DAS CASAS QUE CONSTRUÍMOS

Sei pouco desta realidade como dela me contam. Sei pouco da loucura que é sentir-se demasiado e dizer demasiado pouco por isso quando me perguntam o que é o amor nunca respondo concretamente. – Parece tão simples quando pensamos abstratamente no conceito do amor mas de alguma forma as palavras parecem nunca estar ao nível de uma descrição digna.

A ILUSÃO DO DIREITO À EDUCAÇÃO

Que fazemos nós, humanos emaranhados na sua própria humanidade ou na falta dela, aqui neste globo do qual pouco compreendemos e o qual descuramos como se nós mesmos dele não dependêssemos irremediavelmente? Que soberania, inteligência soberba detemos para que dividi-lo, dividirmo-nos, nomear-nos, doar rótulos e adjectivos contraproducentes, na sua maioria, seja legítimo e absolutamente verdadeiro? – Qual de nós, ser superior, digníssima criatura consegue realmente fincar o pé no chão e não duvidar da sua verdade (ainda que não o exponha)?

O GANGUE DO ARGANEL (OU O FLAGELO DO PRECONCEITO)

Admiro aquele género de pessoas que consegue compreender que uma ofensa só é ofensa quando os próprios permitem que o seja. Admiro, sinceramente, as pessoas que vão vivendo a vida com uma atitude relaxada e segura relativamente não aos bens que detêm, mas principalmente á personalidade que vão compondo e ajustando por si e para si, sem necessitar daquele circo social já tão habitual que passa por, numa atitude tanto de desespero quanto de comodismo, inflacionar a opinião dos outros acerca de si para de seguida a adoptar enquanto definição do self.

SOLIDARIEDADE SELECTIVA E OUTRAS HIPOCRISIAS

Devo confessar que nunca fui uma pessoa de cerimónias de bem parecer e á medida que o tempo passa essa minha característica vai-se intensificando, desconfio. O que para uns possa parecer rude da minha parte para mim parece-me apenas honestidade e um quanto de escassez de paciência de que, não se engane, todos sofremos mas poucos admitem. Se durante todo o ano já sofro dessa síndrome quando chegam o Natal e a Passagem do ano essa síndrome aumenta de forma a tornar-se insuportável para uma convivência se não harmoniosa, pelo menos calma entre mim e os restantes seres humanos.

ANIMAIS VERSUS BESTAS

Arriscando-me hoje, e mais uma vez, a ser vexada e vaiada sem fundamento lógico ou argumento comprovativo venho falar-lhe daquele tema actual que muitos mistificam de lobby, extremismo ou hierarquização errónea de importância social (faltando-lhes os dados que o comprovam como sendo mais que frustração humana): os direitos dos animais e como estes são desrespeitados na prática violenta que é a tourada.

HÁ QUE RASGAR

Não sei o que lhe contaram enquanto crescia, caro leitor, mas para bem da elação vou pressupor que foi o mesmo que me contaram a mim. Hoje pergunto-me ainda como foi tão simples e tola a minha creditação dos contos de fadas e dos seus ideais de pouco complexo. Hoje pergunto-me mais do que isso – pergunto-me no que acreditar repetidamente para pôr os pés no chão frio e a cabeça pesada no lugar que lhe corresponde.

HOJE ESCREVO PARA ELES

Lá em casa somos, quase sempre, quatro. Para uma casa parece um número perfeito, equilibrado, mas a verdade é que o mais difícil de equilibrar é mesmo a casa e o número de que ela é feita. – Aposto que nunca pensou acerca de casa, acerca do número de pessoas com que todos os dias partilha o espaço. Não digo pensar numa comum linha condutiva do dia-a-dia natural; digo pensar como se pensa em alguém que é muito mais do que a imagem que nos deixa quando chega a noite.

PAPAGAIOS AMESTRADOS E OUTRAS PERSONAGENS

Ainda não estou eu totalmente recuperada do flagelo dos comentários xenófobos e racistas aos refugiados quando, repentinamente, cai outra calamidade no seio da opinião pública portuguesa: vão acabar com os exames de quarto ano. – Pela forma como falam disso parece até que o céu vai cair, muito ao estilo do juízo final na Bíblia.

ETERNOS VELHOS DO RESTELO

Mal pensava Luís de Camões que os seus velhos do Restelo ainda hoje andariam por Portugal: com uma voz muito mais agressiva que triste, mais jovem que engelhada, mais medrosa que realmente fruto de uma experiência de vida.

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