11 Janeiro 2015      00:00

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Todos somos Charlie

Sim, por muito que custe a aceitar a alguns todos somos “Charlie” não apenas porque tudo o que tem sucedido em Paris merece a nossa solidariedade e indignação, mas porque todos nascemos num Mundo onde deve imperar a liberdade.

Liberdade de pensamento e de expressão.

Esta semana jornalistas e polícias foram assassinados por fazerem o seu trabalho. Há meses atrás, assistimos ao assassino bárbaro de jornalistas que estavam apenas a fazer o seu trabalho.

Assassinar alguém por proferir uma opinião ou por desenhar um cartoon é um claro desrespeito a um dos princípios básicos da sociedade democrática – a liberdade de expressão.

Choca-me ver comentários do género “eles estavam a pedi-las…”.

Nada, nenhum acto, nenhum livro, nenhum pensamento justifica uma morte. Mais, acreditar que os verdadeiros crentes estão dispostos a matar em defesa da sua religião é uma ofensa ainda maior que a eventualmente criada com alguns dos cartoons.

A verdadeira crença aceita e respeita opiniões diferentes. A verdadeira crença não mata em nome de ninguém.

É bom ter opiniões, crenças e valores. Sem eles pouco ou nada seríamos. No entanto, escudar-se atrás destes para afirmar como tenho ouvido que “há limites” é, permitam-me, criar limites onde estes jamais deverão existir.

Se, eventualmente, fosse criado um qualquer limite à produção de cartoons ou textos humorísticos com o fundamento de “colocar vidas em risco” como alguém ousou afirmar na sequência dos acontecimentos de Paris, qual seria o passo seguinte?

Proibir opiniões desfavoráveis a determinadas doutrinas defendidas pelas Igrejas? Proibir a divulgação de uma alternativa dentro de algo em que acreditamos e respeitamos mas que gostaríamos de ver mudado?

Proibir a publicação de determinados livros e filmes?

Até onde se iria? Será que estas pessoas pensaram nisso ou será que quiseram meramente criar polémica.

Obviamente que, embora me choquem, estas são opiniões que têm de ser ouvidas e respeitadas. Caso contrário, estaríamos a entrar em contradição e a praticar o que acabámos de praticar.

No entanto, volto a convidar estas pessoas a pensar um pouco mais naquilo que acabaram de defender na sequência dos acontecimentos desta semana. Até onde estão dispostos a ir para que o que defendem seja aplicável?

O próprio “Sheik” da mesquita de Lisboa veio afirmar que os ataques de Paris, bem como todos os alegadamente feitos em nome da religião, jamais poderão ser associados ao islamismo. É o primeiro a convidar e a afirmar que, se as pessoas não são capazes de viver num País livre ondem imperam opiniões diferentes, que sejam os primeiros a sair dele.

Esta é a opinião que deveria imperar.

Se não concordamos com algo, devemos, claro, expressar o nosso desacordo e actuar de forma civilizada para manifestar o nosso ponto de vista.

Não se mata em nome de nada nem de ninguém!

Não se cala ninguém por se discordar da sua opinião.

Escreve-se, fala-se, debate-se.

Voltando ao início, todos somos “Charlie” porque todos nascemos livres.

Que todos saibamos utilizar a liberdade que temos de forma a que a liberdade do outros seja igualmente respeitada porque, como muito se  tem escrito por estes dias:

“Posso discordar do que dizes, mas defenderei até à morte o direito de o dizeres”.

Quanto a esta que vos escreve: “Je suis Charlie”.