2 Março 2015      10:55

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Portugal 2020: PMEs...cheguem-se à frente!

Esta semana cruzei-me com um velho amigo, empresário pme com largos anos de existência contudo um novato no que toca a fundos comunitários.

Este velho amigo, sem embargo da sua baixa escolaridade, é detentor de uma "inteligência de negócio e de vida" notável, ultrapassando com a maior das facilidades muitos doutores e, mais importante ainda, um insaciável curioso.

Cauteloso, procura informar-se sempre antes de tomar alguma decisão relacionada com a gestão da sua empresa. Perguntou-me sobre o novo quadro comunitário, os tais milhões por que todos anseiam, todos falam mas nem todos compreendem...e muito menos todos conseguem explicar!

Sorri-lhe e começámos a conversar. Deixei-lhe algumas dicas. Uma delas que fosse o mais realista possível. Por exemplo, seria realista alguém inscrever-se numa maratona se atualmente só corre 10km? Porque não adequar a fasquia e inscrever-se numa prova de 10 km e quem sabe daí a 6 meses conseguir correr uma meiamaratona?

Esta noção de realidade será fundamental no novo quadro comunitário. Essencial para cada pme de “per si”, mas também para a nossa região e País. O cumprir e/ou ultrapassar resultados será de sobremaneira importante para o pós 2020, mas isso são outros tostões…

Disse-lhe ainda que, não obstante o Portugal 2020 estar focado nas empresas, há que ter em conta a estratégia individual de cada uma. Para onde quer ir e o que está disposta a fazer para lá chegar. Estou inteiramente convicto que, felizmente, já caiu em desuso a moda terrível de pensar primeiro no apoio/subsidio e só depois no investimento.

Os empresários precisam de se abstrair dos potenciais apoios a que poderão recorrer. O facto de existir um apoio para o investimento x não deve ser regra para avançar com esse investimento. Se para prosseguir a sua estratégia de crescimento uma pme necessita somente de um investimento numa nova máquina que lhe custa 100, porque apresentar um projeto de investimento de 500, obtendo assim um apoio de 250? E se possui somente 100 e tem de recorrer à banca para os restantes 150? O cenário piora e este foi um erro em que muitas pmes caíram no passado.

Acrescentei-lhe ainda que o Portugal 2020 espera-se (e pretende-se) mais acessível, mais desburocratizado e com maior “combate à papelada”. No entanto há que reconhecer que, tendo em conta a caracterização das nossas pme (leia-se micro e pequenas empresas) não é fácil ao comum empresário elaborar, apresentar e executar sozinho um projeto de investimento de quadros comunitários.

É preferível que o empresário se concentre e foque naquilo em que é bom, no seu negócio, na gestão diária do mesmo e se aconselhe e recorra a alguém entendido nestas matérias. E aqui há que ter especial cuidado com alguns “consultores” que surgem muito bem vestidos, com um discurso muito bem construído mas com um total desconhecimento da realidade empresarial da região, fazendo-se munir dos projetos de investimento modelo, candidaturas “chapa 5”, que tanto podem servir para uma padaria na Covilhã como para uma adega em Borba.

Um bom aconselhamento assume particular importância se tivermos em consideração a nova lógica de responsabilização de quem recorre a estes fundos, bem como a de financiar resultados ao invés de despesa.

Os projetos de investimento terão de ser cada vez mais realistas. Não servirá de muito uma pme apresentar um projeto "desenhado" para obter a pontuação necessária, acabando depois na prática em ficar muito aquém do que se havia proposto. Os bons projetos serão os exequíveis, de acordo com as capacidades de cada pme.

De sublinhar ainda que os cumpridores serão beneficiados por isso, através da conversão do incentivo reembolsável em não reembolsável, uma tendência que já havia sido verificada no anterior quadro, no caso dos projetos de inovação produtiva.

Despedi-me do meu velho amigo com uma última dica: chega-te à frente!