10 Janeiro 2015      19:25

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O que acontece à Grécia e à Europa se o Syriza ganha?

s altas instâncias da “velha Europa” estão em alerta e têm advertido a população grega para os riscos de escolherem o “Syriza” para os governar. Dizem que não há problema se sair do euro, outros que não podem sair e até Durão Barroso já reapareceu para vir falar sobre o tema. É este neste clima de indefinição europeia e de algum condicionamento da democracia que no próximo dia 25 a Grécia vai a eleições.

O Syriza é uma coligação esquerdista, não xenófoba, que tem opiniões contrárias às da União Europeia no que concerne às finanças e economia e tem apresentados alternativas à crise e ao sufoco económico que tem assolado a Grécia.

Mas o que é pode acontecer à Grécia e à Europa se o Syriza vencer as eleições?

Nikos Tsafos – autor de Beyond Debt: The Greek Crisis in Context e especialista em assuntos económicos e energéticos - em artigo para a “National Interest” diz que “a Grécia está de novo debaixo das atenções à medida que se aproximam as eleições. Em parte, estas eleições reacenderão os debates de 2012 – austeridade, dívida, desemprego, o euro, crescimento. Tal como da última vez, preveem-se populismos, nacionalismos, protagonismos e promotores do medo. Mas também o mundo mudou desde 2012, e estas eleições podem empurrar a Grécia, e a Zona Euro, para território desconhecido se a coligação esquerdista Syriza vencer e formar um novo governo. Estas podem ser as eleições mais consequentes até hoje na Zona Euro, especialmente quando o Banco Central Europeu (BCE) está a preparar-se para uma nova ronda de flexibilização quantitativa (emitir mais moeda).

Muita coisa pode acontecer em poucas semanas, mas neste momento é o Syriza que lidera as sondagens, à frente da Nova Democracia (ND), o partido centro-direita que governa neste momento. Claro que, a diferença entre os dois reduziu recentemente. Além disso, a agenda eleitoral mudará á medida que partidos os partidos se coligam ou que se formam novos, tornando ainda mias difícil de prever quem vencerá esta disputa renhida. Nem uma vitória do Syriza significa necessariamente um governo do Syriza – em 2012, o país teve duas eleições legislativas em apenas seis meses quando ninguém atingiu uma maioria.

Mesmo depois das segundas eleições, foi necessária uma coligação de três partidos para se chegar à desejada maioria e formar um novo governo (o terceiro partido acabaria por abandonar a coligação ao fim de um ano). Por outras palavras, só porque haverão eleições em janeiro, na Grécia, não significa que exista um novo governo em fevereiro.

Esta eleição tem sido vista como um voto contra a austeridade, ou, como os gregos dizem, o “memorando”, e que tem marcado as relações entre país e credores – a Comissão Europeia e o Fundo monetário Internacional (FMI), referidos (tal como em Portugal) de a “troika”.

Todos estão de acordo que o programa devia sair do país, e foi o governo atual quem determinou a sua suspensão por um ano (sair será exagerado, uma vez que se estima que só em 2050 a Grécia pague todas as suas dívidas).

Do mesmo modo que toda a gente na Grécia defende que a dívida devia ser negociada.

Este consenso, claro, é superficial e conveniente num país que se recusa a ter um debate sério e honesto sobre o tema para perceber o que correu mal. O consenso acaba por esconder as diferenças ideológicas entre os partidos, mas também dentro deles. O Syriza é um partido estadista e anti-capitalista cujo programa em 2012 dizia que “a iniciativa capitalista individual e a procura de lucro são inumanas e uma base ineficaz na organização social”.  

Mas a sua base inclui tanto da esquerda mais jovem como da tradicional, tal como muitos ex-votantes comunistas. O ND, pelo contrário, é uma combinação reformas do mercado livre com conservadores e nacionalistas, tal como populistas, que, logo que tenham a oportunidade, gastarão o que puderem e modo a conseguir votos.

A força para sair do memorando reflete assim a inércia de reverter o “status quo”, mesmo que não sejam expostos deste modo (o Syriza é um partido do anti-estabelecido, do anti-“status quo”, mas a sua classe dirigente é exatamente igual ao que a Grécia vem praticando há décadas). O objetivo é libertar o país dos constrangimentos e supervisões orçamentais que os países credores impõem desde 2010 – em grande parte, de modo a que o sistema volte a funcionar como funcionava antes da crise. A questão para estas eleições é se essa mudança vai ser ordeira ou não.

O ND quer sair do programa e voltar aos mercados o mais rápido possível, ajudado por uma linha de crédito do FMI a que pode recorrer se o mercado se tornar instável. O Syriza quer restruturar a dívida e fundos adicionais sem condicionantes, e está disposto a ir ao limite por estes princípios. A sua abordagem é como se estivesse a usar um colete-bomba e estivesse à espera que o adversário recuasse primeiro.

Claro que o Syriza está em sintonia com os tempos – chama-o de “flexibilização quantitativa” e alega o princípio do BCE “fazer o que for preciso” para salvar a Zona Euro. Na essência, o Syriza quer: que a “troika” esqueça grande parte da dívida grega e que o BCE cubra qualquer dívida que surja.

O problema está em que a Grécia está em pior posição que a Itália ou a Espanha estavam quando negociaram com o BCE a saída do programa de ajustamento. Por um lado, muita da dívida da Grécia foi socializada, e a “troika” é dona de 80% dela. Além disso, 605 da dívida total – nas mãos de europeus, excluindo o BCE – não tem valor, nem será pagável antes de 2020, o que significa que um não pagamento dessa dívida é insignificante.  

Um não cumprimento só afetaria o FMI, o BCE e um pequeno número de investidores, muitos dos quias gregos, que compraram dívida a curto-prazo (4 ou 6 meses) ou médio-prazo (3 a 5 anos). Por outras palavras, um não-cumprimento grego só causará uma pequena explosão – num espaço contido e com muitas pessoas a pensar que a Grécia só terá aquilo que merece depois de muitos anos a brincar com o fogo.

O perigo para a Zona Euro não é o incumprimento grego, mas o adiamento constante por parte de um futuro governo que nem jogará pelas regras nem desistirá do jogo. A Grécia pode ser empurrada para fora da Zona Euro? O que acontece se a Grécia se recusa a abandonar o Euro e adotar uma nova moeda? Durante quanto tempo é que o governo grego poderá pagar despesas vitais antes se ficar sem euros (física ou virtualmente)? Que restrições – em ter dinheiro físico no bolso – é que os gregos tolerarão de modo a manter um braço-de-fero com a “troika”? Pode o BCE emitir moeda excluindo a Grécia, e irá o BCE cortar o financiamento dos bancos gregos? E se o BCE comprar títulos de dívida grega de modo a financiar um aumento dos gastos (por parte dos gregos), como é que isto não levará a um aumento galopante da inflação? Quem decidirá quanto será suficiente? E como é que a opinião pública verá a situação, e quais serão as consequências a longo prazo para uma região que deseja uma união política?

Em cinco anos, a Zona Euro foi poupada às respostas a estas perguntas – as crises têm, sido resolvidas quer pelos países resgatados (Grécia, Portugal, Irlanda e Chipre) quer pela compra de dívida por parte do BCE (Espanha e Itália). Um governo liderado pelo Syriza poderá voltar o jogo ao contrário tal como o fez o atual primeiro-ministro quando foi eleito. Mas, de vez em quando, os líderes recusam-se a fazer mudanças completas. Esta não é uma batalha só para a Grécia, mas sim para toda a Zona Euro – que tipo de União será e com que limites. Atenas pode assim despoletar outra crise, mas agora uma cujos resultados ninguém pode prever e que poderão não agradar a ninguém.”