28 Dezembro 2014      00:00

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Nuvens Negras

Na sua mensagem de Natal, o Primeiro-Ministro brindou-nos com uma história de meias-verdades e a roçar um pouco a ficção científica.

Diz Pedro Passos Coelho que Portugal passou o seu primeiro Natal sem nuvens negras no horizonte, referência figurativa à saída da Troika do nosso País.

Segundo o Primeiro-Ministro, com a saída da Troika Portugal pode respirar de alívio, num País que irá criar oportunidades de emprego e onde, subitamente, tudo parece correr bem.

Afirma igualmente que irão existir oportunidades para os jovens e para as empresas…

De repente parece que voltamos ao ano da candidatura de Pedro Passos Coelho a Primeiro-Ministro, num reviver de promessas e palavras bonitas que acabaram por iludir alguns na esperança de que a intervenção da Troika seria melhor do que a aprovação do PEC IV.

Parece mesmo que a pessoa que de início afirmou “que se lixem as eleições” anda preocupada com o ano eleitoral que se aproxima. Sim, porque para lá das “nuvens negras” surgem eleições legislativas nas brumas ora criadas.

Foi realmente uma mensagem que, numa primeira leitura, demonstrou um País onde até se pode viver.

Mas olhando para o País real as coisas parecem um pouco diferentes. E, agora, é difícil colocar a culpa em terceiros, porque três anos não são três meses e a responsabilidade de reformas e decisões tomadas não pode ser delegada.

O desemprego real não diminuiu. O desemprego real aumenta de dia para dia, com fábricas e empresas a declararem insolvência e a colocarem trabalhadores na rua.

As oportunidades para jovens não estão criadas. Estágios de 9 meses sem garantia de evolução profissional naquela ou noutra área não podem contar para esta estatística.

Formações onde se fala de tudo menos da temática apresentada não podem contar para esta estatística.

Neste horizonte sem nuvens negras, muitas famílias continuarão separadas fruto da emigração de um ou mais dos seus membros.

Neste horizonte sem nuvens negras, muitas famílias continuarão a enfrentar o desemprego e o risco de pobreza cada vez mais elevado.

Os problemas nos sistemas informáticos da Justiça, das Finanças, da saúde e da Segurança Social continuam, causando atrasos e erros calamitosos, prejudicando os seus utilizadores e beneficiários.

Entretanto, os vistos gold continuam com milhares investidos em imobiliário como forma de obter livre trânsito na União Europeia e com escassas centenas de euros investidos no tal emprego real que Passos Coelho tanto quer.

Algo vai mal neste País sem nuvens negras. Algo escondido atrás de nuvens cada vez mais cinzentas que, certamente, apenas revelarão o seu caminho após as eleições.

Esta é a prioridade do nosso Primeiro-Ministro. Só há um pequeno senão no meio disto tudo: os portugueses não são cegos e raramente se deixam iludir duas vezes seguidas.

Esperemos então por melhores previsões. E já agora reais!