3 Janeiro 2015      00:00

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Novas Formas de Escravatura

Na primeira missa do Ano, o Papa Francisco definiu como prioridade a ter em conta o combate às novas formas de escravatura.

Formas essas que, segundo o próprio, se devem ao aproveitamento de pessoas com maiores possibilidades de pessoas que apenas procuram melhores condições para si e para as suas famílias, sujeitando-se a condições muito abaixo das aceitáveis e, em muitos casos, completamente indignas.

Actualmente, num mundo civilizado e que se diz democrático, temos pessoas a sujeitar-se a condições laborais desumanas em troca de um salário miserável ou de alimentação.

Sim, estas situações existem e não só merecem como têm de ser denunciadas.

Vivemos num mundo em que pais colocam os seus filhos em fábricas de roupa e de calçado em troca de salário, sujeitando-os a condições que nenhuma criança deveria ser obrigada a passar.

Num mundo onde existe tráfico de seres humanos para mercados de droga e prostituição.

Um mundo onde centenas de pessoas arriscam a própria vida em embarcações de segurança duvidosa para tentarem a sorte num outro País que os acolha e lhes ofereça melhores condições de sobrevivência.

Um mundo onde mães encontram na entrega dos seus filhos para adopção, a última solução para que estes tenham as condições de vida que elas não lhes podem oferecer.

Um mundo onde licenciados e mestres são forçados a trabalhar praticamente de graça em troca de um estágio na sua área.

Um mundo onde estes licenciados e mestres devido à falta de alternativas procuram emprego noutras áreas sem possibilidade de crescer na área onde se formaram e onde o próprio Estado acabou por investir neles.

Um mundo onde profissionais qualificados e muito longe do final da carreira são convidados a procurar outras alternativas para dar lugar a alguém que custe menos à empresa, independentemente da qualidade do serviço.

Este é o mundo em que vivemos e estas são algumas das formas de escravatura moderna que neles se encontram.

As causas? Corrupção, enriquecimento à custa de terceiros, sede de poder ou, como o próprio Papa Francisco afirmou, a devoção ao “Deus do dinheiro” em vez da dedicação ao próximo.

Esta deverá ser uma das prioridades de todos os Governos mundiais.

Se realmente se pretende uma sociedade evoluída e democrática, todas estas situações têm de ser combatidas, nomeadamente através de uma maior e verdadeira fiscalização, tendo em conta o interesse da sociedade e não o interesse pessoal ou empresarial.

Mais do que em austeridade e ostentação é urgente investir na criação de condições de vida dignas, sem que as pessoas sejam obrigadas a viver para trabalhar e para dar melhores condições aos mesmos de sempre sem as conseguir para si.

Alguém que se predispõe a ter uma fábrica com trabalho escravo, não merece um único euro dos que ganha.

Alguém que contrata outrem apenas porque é mais barato e não por ser uma mais-valia para a empresa, permitindo que esta evolua e criando, talvez, um bom nicho de mercado na sua área, nunca poderá ser considerado um bom gestor.

Uma mãe merece condições para poder criar os seus filhos sem ter que se vender ou vendê-los a terceiros para serem escravos.

Um jovem merece ser contratado pelo que vale em termos profissionais e não por ser mais barato.

Um bom profissional deve e merece ser reconhecido e tratado justamente, até para que, futuramente, possa estar em condições de aceitar terceiros.

Foi sem dúvida uma excelente prioridade reconhecida.

Agora resta ver quem terá a coragem de dar o primeiro passo.