10 Janeiro 2015      23:33

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"Je suis" pela coexistência

Começa mal o ano. O atentado cobarde à redação do “Charlie Hebdo” foi também um atentado à Liberdade de Expressão e à Democracia. Não pode haver lugar à ceifa de vidas em nome de extremismos encapuçados na falta de respeito pelo seu semelhante.

Enquanto as religiões se sobrepuserem à Educação, ao Saber, ao Conhecimento, haverá sempre um louco capaz de matar em nome de um deus.

Nenhum extremismo, de nenhum tipo, seja religioso, político, clubístico, racial, sexista ou outro, é aceitável ou razoável pois a linha que o separa da violência é ténue.

Paris, e a França, estão em luto e em estado de sítio; os fanáticos agem de acordo com o que são, loucos. O mundo reage dizendo em coro “Je suis Charlie”, mas estas uniões não podem ser só em época de crise, de acontecimentos tristes, e deve ser repetida sempre que há uma oportunidade de mudar, de crescer, de evoluir. É desta união que deve nascer a caminhada conjunta por um mundo melhor, mais igual, mais livre e mais fraterno. O inimigo não é o Islão, são os fanáticos; os islâmicos e os todos os outros.

Querem impor medo ao Ocidente e o Ocidente não pode reagir com medo. O problema é que, nas sociedades ocidentais, que se dizem cada vez mais modernas e tolerantes, a cultura praticada tem sido a de não assumir opiniões, a de não assumir que se é a favor ou contra isto ou aquilo, por medo, por ser socialmente incorreto, por estar manietado por algum interesse, ou por simples desinteresse. Isto prejudica a democracia e a própria liberdade. Curiosamente, é do Irão que vem o exemplo: quando o “New York Times” se recusou a publicar cartoons do “Charlie Ebdo”, por receio de atentados, foi um jornal iraniano, o “Shargh Daily” que o fez, sem receios e sem medos, em solidariedade com os franceses.

Os assassinos que vagueavam por Paris mereciam um castigo, o castigo de serem condenados pelos tribunais e leis ocidentais; o castigo de serem mantidos vivos o máximo tempo possível para que pudessem ver com os seus olhos que um “Charlie” deu origem a muitos mais e que a Liberdade de Expressão é um bem mais duradouro que uma vida humana, que doze vidas humanas, e não termina por meios e mãos criminosas.

Impuseram violência ao Ocidente, o ocidente não pode reagir com violência. Se a resposta ao ato de barbárie for mais violência, gerar-se-á uma bola de neve difícil de parar e certamente causadora de cicatrizes grandes. Se isso acontecer, o mundo Ocidental dará aos fundamentalistas mais uma razão para o seu fundamentalismo e isso será tão fanático e extremista como os alvos das nossas críticas.

É preciso combater o fundamentalismo, sem dúvida; com educação, tolerância e solidariedade para com os povos mais necessitados, essencialmente aqueles que sofrem às mãos destes loucos. No mundo há lugar para todos e para que todos tenham as suas diferenças. Não é necessário impô-las aos outros. Não haverá deus ou crença que promova algo mais que o amor, a paz e o respeito pela vida.

Estes atentados, e o facto de, ao que parece, a Europa estar a ser alvo de inúmeros planos de atentados, são só mais sinais que algo vai mal por cá também - a culpa não é só externa - e que é preciso mudar de políticas.

2015 será o Ano para Europeu para o Desenvolvimento, e esse desenvolvimento deve processar-se a todos os níveis.

Mais fundos virão, como expressou notícia do Tribuna.

Mais fundos representam novas oportunidades para milhares de pequenos e médios empresários que, de outro modo, não conseguirão levar avante os seus projetos.

Mais fundos representam novas oportunidades para as autarquias conseguirem dar às suas populações as condições de vida que merecem.

Mais fundos representam a oportunidade de reequilibrar as assimetrias entre norte e sul, litoral e interior. Daí que tenham ficado consternado pelos comentários negativos que esta notícia gerou. Houve fundos mal empregues? Houve fundos que serviram interesses pessoais? Houve fundos que foram entregues só a pessoas do partido X ou Y? Se houve, punam-se as pessoas que cometeram essas irregularidades, mas não menosprezem o poder e a necessidade desses fundos.

Estão bem patentes no Alentejo as diferenças entre os concelhos que os utilizaram e os que não. Note-se o crescimento que Borba, Alandroal, Reguengos, Elvas e outros concelhos tiveram por exemplo face a Vila Viçosa (falo destes por que fazem parte da minha realidade, haverá certamente outros). Cavaram-se dívidas? Sim, a 20 e 30% do valor das obras necessárias. Mau é quando existe a dívida na mesma e as obras ficaram por fazer.

A comunicação social tem a obrigação de expor e divulgar o que de bom tem sido feito com esses fundos e como os portugueses podem usufruir deles. A quantos mais cheguem estas informações, menos serão os riscos expostos acima, e mais serão os projetos e as probabilidades de sucesso e desenvolvimento, com o qual todos teremos a ganhar.

O Alentejo tem - na incerteza se quem é mais corajoso são os que ficam, ou os que partem para o estrangeiro - cada vez mais jovens empreendedores, e quando digo empreendedores não me refiro somente a nível da criação de empresas, mas também de projetos e ideias que visam mudar algo menos bom ou desenvolver as terras onde vivem. Assim, e só assim, o Alentejo conseguirá vencer a desertificação e o abandono. Juntos conseguiremos dar a volta e se, ao nível dos projetos empresariais, a UE ajudar, tanto melhor.

Num país com falta de cultura empresarial, os jovens alentejanos estão a agitar as águas; note-se a rubrica “Made in Alentejo”. São muitos e variados os projetos que se vão fazendo, assumindo os jovens um compromisso com o futuro e com as terras onde desenvolvem os projetos.

O compromisso aliás, é algo em desuso – como referi antes – as pessoas parecem temer assumir opções, escolher. Sei que por vezes não é fácil, e não se devem tomar algumas decisões sem ter os dados todos, mas devemos começar também a saber definir-nos melhor, e se há algo em que nos enganamos, ou mudamos de opinião, assumamo-lo sem receios; afinal isso é crescer, é evoluir, é aprender. 

Talvez por isso goste tanto desta frase do meu conterrâneo Bento de Jesus Caraça: “Se não receio o erro, é porque estou sempre disposto a corrigi-lo”.