13 Setembro 2014      00:11

Está aqui

Handicaps educacionais no caminho? Junto-os todos; no fim construo uma Escola!

Aí está mais um ano letivo, o verdadeiro reinício de vida, o verdadeiro ano novo! À imagem dos anos anteriores, já quase tradição, começa conturbado, com um clima de instabilidade, desmotivação, desespero (em alguns casos); dramas familiares por colocações de professores a muitos quilómetros de distância da residência e da família (isso para os que têm a sorte de ser colocados a fazer algo para que estudaram pelo menos 5 anos), alunos contrariados por que não têm as disciplinas que queriam, pais preocupados com custos, materiais e turmas excessivamente grandes e um sem fim de queixas possíveis. É pena.

Um artigo do Professor Santana Castilho, no Público, falava que até o Estado Novo percebeu a importância da educação e fez por reduzir o analfabetismo reconhecendo o papel que a Educação tem no progresso humano. Neste mesmo artigo cita Joseph Stiglitz, economista norte-americano, Nobel da Economia em 2011, quando se refere à educação como “vital para o êxito das sociedades e que cortar na Educação é agravar as desigualdades sociais.”

 

Há quinze anos quando decidi ser professor fi-lo com um profundo sentido de missão: a educação pode salvar vidas! Hoje tenho a certeza! A Educação é a solução a médio/longo prazo para todos os problemas de uma nação ou cultura. A Educação garante a preservação dos conhecimentos ancestrais, das tradições e ensina a compreender e criar o futuro. A Educação proporciona a todos a oportunidade igual de se construir, de evoluir independentemente da sua proveniência, cor, status socioeconómico etc. Recupero parte do discurso de Barack Obama na abertura do ano escolar de 2009: (…) “Talvez não haja nas vossas vidas adultos capazes de vos dar o apoio de que precisam. Quem sabe se não há alguém desempregado e o dinheiro não chega. Pode ser que vivam num bairro pouco seguro ou os vossos amigos queiram levar-vos a fazer coisas que vocês sabem que não estão bem. Apesar de tudo isso, as circunstâncias da vossa vida - o vosso aspeto, o sítio onde nasceram, o dinheiro que têm, os problemas da vossa família - não são desculpa para não fazerem os vossos trabalhos nem para se portarem mal. Não são desculpa para responderem mal aos vossos professores, para faltarem às aulas ou para desistirem de estudar. Não são desculpa para não estudarem. A vossa vida atual não vai determinar forçosamente aquilo que vão ser no futuro. Ninguém escreve o vosso destino por vocês.”(…) Pura verdade.

São conhecidos os problemas que o sistema educativo nacional apresenta; desconfiamos da intencionalidade por detrás dos atos, mas se queremos continuar a ter esperança que um dia podemos mudar o “estado a que chegamos” (que diria Salgueiro Maia agora?) é na escola que o temos que fazer. Olhemos para os “castigos” governativos como um “handicap” que temos que recuperar. Só assim podemos segurar o pé que nos quer esmagar, mostrar que venceremos apesar de. Pessoalmente, muitas das pessoas que admiro tinham sérios handicaps e nunca desistiram. Churchill - bipolar, com sérios problemas de comportamento enquanto criança e com dificuldades graves na fala enquanto adulto – foi primeiro-ministro britânico durante a 2ª Guerra, político brilhante e foi, em 2002, escolhido pela BBC como o melhor britânico do séc. XX. Einstein, que ao contrário do que é dito muitas vezes, era um bom aluno, falava devagar e hesitava e teve que lutar contra um sistema educativo alemão extremamente rígido que valorizava respostas curtas baseadas na memorização (ou levariam a tradicional reguada nos nós dos dedos) matando a criatividade e a imaginação (vão lá agora sonhar que as coisas podem ser melhores!); tinha boas notas às disciplinas que gostava, mas não às outras. Viu recusada as primeiras tentativas de ingresso no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, e…não preciso explicar quem foi Einstein, certo?

O rei George VI de Inglaterra era gago, fez discursos magníficos durante a 2ª Guerra, e na sua coroação, sem gaguejar mais que qualquer um de nós.

Os mais atuais Messi e Ronaldo, o primeiro tem Síndrome de Asperger, e o nosso Ronaldo tem o passado cheio de dificuldades económicas por demais badaladas. E a lista podia continuar, mas já deu para perceber que o sucesso dá trabalho, para mais quando as variantes estão em contra, no entanto, a vontade é a mais importante força motriz (como disse Einstein). Citando novamente Obama “Não vão gostar de todas as disciplinas nem de todos os professores. Nem todos os trabalhos vão ser úteis para a vossa vida a curto prazo. E não vão forçosamente alcançar os vossos objetivos à primeira. No entanto, isso pouco importa. Algumas das pessoas mais bem-sucedidas do mundo são as que sofreram mais fracassos.”

A escola, a Educação é a base. Não pode continuar a ser gerida sem consensos, sem rumo, ao saber da economia ou das excentricidades e ideologias governativas. Comecemos de cima: que país queremos? Definido isto: Que cidadão pode construir esse país? Passemos a: Que educação pode criar esse cidadão? E temos a base para construir o sistema educativo. Isso sim, sempre e quando as intenções forem boas, as de livre pensamento, pois a Educação foi também arma dos sistemas ditatoriais para implementação da mentalidade desejada.

Paira no ar uma ideia de “mecanização” do pensamento, limitação de oportunidades e isso é um handicapque profissional e pessoalmente tudo farei para combater. Sou alentejano, sei bem o que é viver e crescer com Lisboa de costas voltadas. Se desde o início dos tempos sobrevivemos a isso, continuaremos a fazê-lo. Podem fechar-nos as escolas, os tribunais, os centros de saúde. Nem que voltemos às praças para ensinar, vamos dar a volta com o que temos. Como disse Mandela, “A educação, mais que qualquer outra coisa, melhora as possibilidades de construir uma vida melhor.” E o interior merece tanto como Lisboa, mesmo que isso signifique desigualdade na proporção, aí reside a justiça, uma vez mais.

Bom ano letivo a todos.

 

Imagem: “A escola de Atenas” – Museu do Vaticano retirada de http://angelweing.blogspot.pt/