12 Julho 2014      01:00

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Desemprego. O tratamento diferenciado

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A emergência que nos move, hoje, é a convicção intimamente firmada de que a questão do emprego encerra muito mais significados do que aqueles que lhe são tradicionalmente assacados ora pelos órgãos de comunicação social ora pelos digníssimos economistas que se debruçam sobre o tema. O advento do desemprego de uma, duas ou três pessoas num agregado familiar não se confunde com a manchete sensacionalista de uma taxa de desemprego em queda, desde Maio do ano passado.

O pecado que está subjacente à filosofia dos números é o do esquecimento. Dizer que a taxa de desemprego aumenta ou diminui e traduzir o juízo numa percentagem equivale a esquecer. Trata-se, pois, de ignorar a família portuguesa colhida pelo desemprego sem outras fontes de sustento que não os proventos do seu trabalho. Depois há os eternos jovens que, à falta de conseguirem aceder ao mercado de trabalho, são apenas filhos, adstritos à autoridade dos pais com quem vivem, jamais jovens adultos, responsáveis e produtivos.  

Como se depreende, enunciar os 14,6% de taxa de desemprego em Portugal e a subsequente alusão à trajetória de descida equivale, tão-somente, a fazer tábua rasa da realidade autêntica dos que se vêm confrontados com o desemprego, com tudo o que isso acarreta. O arrazoado que está por detrás deste argumentário é o de que 1% de desemprego pode ser insignificante na óptica dos governantes e analistas, mas é dramático para 1% das pessoas.       

E quando a nossa razão deixar de colher por excesso de altruísmo, sempre haverá de questionar a veracidade dos números. É que o nosso desgoverno impeliu veementemente o nosso povo a sair do país, logrando porventura nos seus intentos de fazer baixar a taxa. E onde se lê taxa, jamais se poderá ler desemprego, já que encaminhar os cidadãos para as fronteiras como estratégia de combate ao desemprego só pode ser encarado como um ato de desresponsabilização face a um problema para o qual não se tem resposta. Mais, a construção de saídas de emergência que encaminham, sem mais, as pessoas para fora das fronteiras, assenta no pressuposto falacioso de que a emigração lhes resolve o problema. Na verdade, a emigração constitui uma opção para o punhado de cidadãos que reúne as condições financeiras, de habilitação e de conhecimento linguístico para ter sucesso no exterior. Os demais serão meros autómatos num mercado onde impera o princípio muito em voga da livre circulação de desempregados.

Desta feita, a emergência social consiste em vociferar aos sete ventos que o desemprego é dramaticamente elevado em Portugal. A trajetória descendente da taxa de desemprego, desde Maio do ano passado, deve ser lida à luz de um fluxo migratório crescente entre os desempregados portugueses, bem como da gestão expedita que tem sido feita das inscrições no centro de emprego, no qual prima o princípio da radiação por tudo, por nada e por qualquer coisinha.

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