28 Agosto 2014      01:00

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Croácia, membro mais recente da UE – um ano depois

Ana Žilić, 27 anos, licenciada em Língua e Literatura Portuguesa e Língua e Literatura Inglesa  pela Faculdade de Letras da Universidade de Zagreb. Mestre em Língua e Literatura Inglesa e Portuguesa pela mesma Instituição.

Considerada uma das mais ricas repúblicas da ex-Jugoslávia, a Croácia teve a sua economia muito abalada pela Guerra da Independência (1991-1995). De 2000 a 2008, entretanto, a economia melhorou consideravelmente, graças à retomada do turismo, ao controle da inflação e à estabilidade da moeda (Kuna). Mas a grande dívida externa, o alto desemprego, a anemia do setor exportador, agravados pela crise económica, levaram o país a uma recessão económica ininterrupta desde 2009.

 A tão esperada adesão à União Europeia, marcada com uma festa grandiosa na praça principal de Zagreb, a 1 de julho de 2013, não trouxe a salvação tão desejada do desemprego e da crise económica. Após nove anos de negociações[1] – as mais longas na história da União Europeia – a Croácia aderiu ao bloco e recentemente celebrou o seu primeiro ano na UE – o que mudou?

Com uma renda “per capita” de €10.325 em 2013, a Croácia é considerada um país de renda média alta, mas com o crescimento negativo (-1%) do seu PIB, em 2013, que continua em 2014 (-0,4 % em relação ao mesmo período do ano anterior), encontra-se em recessão pelo sexto ano consecutivo, batendo assim o recorde da UE. A taxa de desemprego de 16,8 % em abril de 2014, situou-a em 3º lugar na Europa, após a Grécia e Espanha, enquanto a taxa de desemprego de jovens (< 25) atingiu 48,7 %[2].

A dívida pública subiu de 45,1 % do PIB em 2011 para 68,6 % do PIB em 2014, ultrapassando o limite de 60 % do PIB, exigido pela UE.

Entretanto, a Croácia entrou no “Procedimento de Déficit Excessivo”, em que o déficit orçamentário tem de ser reduzido para 3 %, esforçando o governo baixar os salários no setor público, modificar o sistema de pensões e introduzir outras medidas impopulares, acompanhadas por manifestações de cidadãos insatisfeitos. O governo mostrou-se também incapaz de aproveitar os benefícios do bloco, os fundos comunitários, que deviam ter financiado projetos públicos e infraestruturas.  

A Croácia é o único país em que a situação económica não melhorou depois da adesão ao bloco. A falta de reformas necessárias, os governos inadequados dos últimos 11 anos, juntamente com a crise económica, social e moral da União Europeia, resultaram numa desilusão com a união multicultural, que prometia mobilidade (a Croácia não faz parte do espaço Schengen), igualdade, apoio e menos corrupção. Para a maioria dos croatas, nao há mudanças em relação ao período antes da adesão ao bloco. A desilusão não é nada estranha, tomando em conta que já antes do referendo sobre a adesão à UE[3], os cidadãos não mostraram entusiasmo com a ideia da UE, o facto que causou pânico entre a “elite política” e a reforma da Constituição que aboliu o limite de votos necessários para a validade do referendo (antes era preciso 50 % de todo o corpo eleitoral para o referendo ser válido). O seu medo mostrou-se razoável: só 43,5% dos eleitores registrados votaram, 66,3 % sendo para a adesão. A mesma falta de entusiasmo pela UE foi notada em abril de 2013, nas primeiras eleições europeias, quando só votou 20,8 % de eleitores[4].

O que mantém a Croácia acima da linha de água é o turismo. O setor de serviços na Croácia representa quase 70% do PIB, em que 16,5% é só de turismo (12,5 milhões de turistas em 2013). Segundo o “Financial Times”, que fez uma análise da situação na Croácia e chamou-a de “nova Grécia da UE”, a vida nas ilhas e costa lindíssima da Croácia parece perfeita, e por isso é que a situação económica do país às vezes desaparece debaixo do “radar”. O Financial Times estipula o excesso de postos de trabalho no setor público, a inércia do Governo e falta de empresas privadas como as razões principais do problema croata. Mesmo assim, os lucros do turismo estão a crescer e só nos primeiros quatro meses de 2014, a Croácia teve um aumento de 21 % em relação aos rendimentos no mesmo período em 2013.

 

Nome oficial: República da Croácia

Capital: Zagreb

Governo: República parlamentarista

Língua oficial: Croata

Tamanho: 56 594 Km2 (87 661 Km2 com o mar)

                 1244 ilhas e ilhotes (50 habitadas)

População: 4 398 150

Moeda: Kuna (1 Kuna = 100 Lipa, 1 € = 7,55 Kn)

Religião: 86,28 % Católicos

Países vizinhos: A norte faz fronteira com a Eslovénia e Hungria, a nordeste com a Sérvia, a leste com a Bósnia e Herzegovina e ao sul com Montenegro. A Croácia é banhada a oeste pelo mar Adriático e possui uma fronteira    marítima com a Itália.

 

Fontes:

Câmara de Economia Croata: www.hgk.hr/sektor-centar/centar-makroekonomija/gospodarska-kretanja-broj-112013-objavljena-na-web-stranici-centra

Banco Central Croata: www.hnb.hr/publikac/hpublikac.htm

http://europa.eu/about-eu/countries/member-countries/croatia/index_hr.htm

http://blogs.ft.com/the-world/2014/06/the-eus-new-economic-laggard/?Authorised=false

http://blogs.lse.ac.uk/lsee/2014/07/12/croatia-one-year-later/

 


[1] A Croácia candidatou-se em fevereiro de 2003

[2] Banco Central Croata. www.hnb.hr

[3] Fevereiro de 2012.