A íntima convicção é um artefacto legal que confere ao julgador a possibilidade de apreciar um meio de prova com base nas suas crenças.
Se no sistema judiciário este método é usado com parcimónia, é no dominio do escrutínio público que este método adquire toda a sua importância.
Nesta matéria são os políticos e os amadores políticos que levam a melhor. São eles que alimentam a convicção intimamente firmada de que os seus comparsas estão inocentes. Paradoxalmente, quanto aos seus opositores, aqueles moços são tocados diferentemente na sua sensibilidade, já que tendem a considerar que aqueloutros são os principais culpados, seja lá do que for.
Depois pereniza-se o espanto diante da despreparação e desresponsabilização do nosso corpo político. Quando são os meus concidadãos a subsidiarem a cultura de desresponsabilização que corroi as cúpulas, a nivel local como a nivel nacional, não se vislumbra melhor futuro para o nosso país.
Promovem-se assim os ideais de subalternidade, como se uma das condições para existir politicamente fosse calar diante dos gigantes e consentir ordeiramente nos pontos de vista dos outros.
O problema não é de somenos nas nossas vidas, pois o rumo é indelevelmente o do empobrecimento, passando amiúde pelas histórias recambolescas de corrupção que pululam no dominio público. E a história repete-se: de repente surge alguém convencido que é capaz de inverter a espiral recessiva.
O rapazote, que até era convincente nos seus propósitos, apropria-se do poder, que, mais tarde, virá a utilizar em proveito próprio. O problema surge quando existem demasiados indicios para formar a convicção intimamente firmada que o rapazote é culpado e surpreendentemente os meus concidadãos renovam-lhe o seu apoio.
Esta consiste na única forma de que me lembro de promover, sem constrangimentos, a prática de todos os crimes de colarinho branco que o legislador se lembrou de contemplar.
Portanto à vista dos indícios que têm sido veiculados pela imprensa, eu não deixarei de alvitrar a íntima convicção da culpabilidade de José Socrates, nem mesmo se a incrição no mesmo partido faz de nós camaradas.