20 Setembro 2014      00:14

Está aqui

Charcutaria educativa

 

É deprimente o quotidiano do português vulgar. Anda tudo carrancudo, a bater de frente à mínima desculpa, estilo morto-vivo em corredor de supermercado, estilo raiva ao volante, estilo depressivo em tudo o resto. Esta crise está a matar o povo português, e não venham com a história que é o fado, está no sangue e tal, sempre fomos assim…. Não é verdade, pelo menos não totalmente.

Cortam salários, aumentam impostos, aumentam a despesa e continuam as mordomias do estadão central, e tudo em nome de um bem comum que afinal só comum a alguns. Em nome do bem ficam quase todos mal, mas, segundo pede o nosso PM, devemos ter mais filhos! Parece que está a gozar ou é só impressão minha? Pergunto eu ainda, se ele acha que a grande maioria dos portugueses não tem filhos porque não quer? Há um nível de qualidade de vida que permita ter mais filhos?

Pois, pois… há que dispersar atenções das trapalhadas na Educação e na Justiça, mas essencialmente da Tecnoforma. Este anónimo parece que mesmo a preceito, logo após a eleição de Costa no PS, para fazer tremer a, já desgastada credibilidade de Passos. Não sei, não sou vidente, mas palpita-me que daqui a uns tempos vamos ouvir Pedro dizer num debate na TV “Isso é traição. Isso não te fica bem Rui…”

Voltando a Crato, já não há quem aguente as sucessivas trapalhadas do seu ministério. Dizer que o ano começava com normalidade era mentira, e isso que normalidade (tendo em conta os últimos anos) era já, por si só, mau. Conseguiu superar as expetativas, fez pior. Quer pela política, pela ilógica, pelo desconhecimento ou pela matemática pôs a pata na poça, ambas, e daí resultou: nada!

 Colocou professores, que afinal não estavam bem colocados, descolocou-os, e colocou outros, ninguém sairia prejudicado etc., etc. Vejamos então umas contas simples, e sempre nivelando por baixo, a influência que a ausência, ou a recolocação de 150 professores causam. Os 150 professores, pressupondo que são casados, ou vivem com marido ou mulher, mesmo sem filhos, afetam mais 150 pessoas. No total já temos 300 pessoas. Se metade desses casais tiverem um filho, aumenta para 525 pessoas afetadas. Partamos ainda do princípio que cada um destes professores só tem 20 alunos. Assim, os enganos que não existiam e não afetavam ninguém tocam já 3000 alunos, além dos 150 professores, dos 150 cônjuges e dos 75 filhos. Como os alunos (mesmo sendo filhos únicos) têm pai e mãe, os 3000 alunos multiplicam-se por 2 e afetam mais 6000 pessoas. No total, o erro que não existia, afeta, por baixo, mais de 9000 pessoas. Isto claro se fossem só 150 professores e só tivessem uma turma de 20 alunos. Pois é, erros destes precisam de culpados políticos e não técnicos. Crato deveria ter-se demitido; como não o fez, o primeiro-ministro deveria ter demitido o “talhante chefe” desta charcutaria educativa que ameaça fortemente pôr em causa o futuro do país.

Por estes dias encaixa perfeitamente uma ou outra moda, a melancolia do Cante está na ordem do dia, quer por ser Candidato a Património Imaterial da Humanidade, quer pelo magnífico filme de Sérgio Trefaut, “Alentejo, Alentejo” (prémio ao melhor filme do Indie lisboa deste ano) e a quem todo o povo Alentejano (sim, mesmo assim, com A grande) fica a dever um grande obrigado.

Fechando a porta, “Um povo educado, iluminado e informado é um dos caminhos que mais garantias dá de promover a saúde da democracia.” disse esse grande homem que foi Nelson Mandela.

Quero continuar a acreditar que ainda é por aqui que vamos; pelo menos eu sei que vou.

 

Imagem de portaldoeducador.org.