30 Janeiro 2015      21:31

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"A antítese grega" por Gonçalo Camarinhas

Alguém proferiu que os Gregos escolheram “entre o passado e o futuro, entre o progresso e o retrocesso, entre a dependência e a independência nacional”. Não… Não foi Alexis Tsipras. Esse Alguém foi um antigo Primeiro-Ministro Andreas Papandreou no ano de 1981.  

Passado 34 anos Tsipras tem o mesmo discurso mas um pensamento bem mais radical. Tsipras e o seu Partido, o Syriza, esquecem contudo, que ambos os momentos temporais são completamente diferentes um do outro. Em 1981 a dívida pública era de 25% sobre o PIB Grego, enquanto Tsipras chega ao Poder com a dívida pública nos 177% do PIB. Além de no presente a Grécia pertencer à União Europeia, ter assinado objectivos fiscais fixados nos Tratados Europeus e ser um dos Países pertencentes à zona Euro.          

Em 2015, o Syriza vence as eleições Gregas, herdando o pagamento e o comprometimento de 240 mil milhões de euros aos seus parceiros e credores Internacionais que submeteram dois empréstimos com a condição deste País aplicar reformas estruturais e necessárias para o crescimento económico e financeiro Grego.     É certo que o Syriza estava consciente das dificuldades financeiras que o País atravessa e dos resgates financeiros acordados entre a Grécia e os seus credores, quando apresentou um programa político populista e radical ao povo Grego como o perdão da dívida pública, o aumento do investimento público IMEDIATO de pelo menos 4 mil milhões de euros e que nos 5 pilares do plano económico apresente uma despesa de 11,5 mil milhões € e apenas uma receita de 3 mil milhões €.

Bom, com a realidade financeira aqui resumida e comparando-a com o programa político do Syriza, facilmente chegamos à conclusão que existe uma enorme antítese. Que este programa não “encaixa” na Grécia, encaixando eventualmente num País imaginário.                                                                                                  

Alexis Tsipras apostou numa retórica que lhe irá sair cara. Os primeiros resultados desta retórica traduzem-se logo no dia seguinte à sua eleição em que o Syriza decidiu coligar-se com o movimento de Direita dos Gregos Independentes para garantir a maioria absoluta que o País Helénico necessitava. Movimento este que convém lembrar que apenas partilha com o Syriza a nível de doutrina política a renegociação ou o perdão da dívida pública. Sendo possível imaginar que das 12 alas partidárias ( desde anticapitalistas, antiglobalização, anarquistas e lobby gay ) pertencentes ao Partido Syriza, muitas delas ainda estão a digerir tal Coligação. E penso que muitas mais surpresas terão que digerir num futuro próximo, tal como a entrevista que Yanis Varoufakis deu na véspera de ser nomeado Ministro das Finanças à BBC em que admite que houve bluff nas reivindicações que faziam durante a campanha eleitoral.

Admitamos, estamos perante um novo paradigma. Pela primeira vez um Partido de extrema-Esquerda vence as eleições legislativas num País integrado na União Europeia. Colocando não só à prova a capacidade de actuação dos Agentes Políticos Europeus que necessitam fazer uma introspeção das Políticas que falharam no seio do Projecto Europeu, como também irá testar as teorias de toda a “Esquerda do Caviar” e dos Intelectuais revolucionários que sempre primaram pelas suas contestações aos sistemas implementados na Europa e agora têm a oportunidade de colocar em prática, ou pelo menos tentarem, as suas políticas alternativas.

Desculpem-me o negativismo que parece ser raro na opinião pública, mas apenas vejo dois cenários possíveis para o povo Grego:

1º - Tsipras e o Syriza conseguirem apenas o prolongamento do pagamento da dívida pública e a extensão do programa de ajustamento. Aceitando que é necessário continuar com muitas das reformas já iniciadas por Samarás e reconhecendo que muitas das outras soluções apresentadas no seu programa político são inviáveis, demagógicas e injustas para outros Países Europeus que conseguiram com muito sacrifício e responsabilidade concluir o programa de resgate financeiro com sucesso, como o caso de Portugal;

2º - O Syriza reconhecer que o seu programa político falhou redondamente acerca da sua estratégia para a Grécia. Que os restantes líderes e contribuintes Europeus não pagarão o resultado da irresponsabilidade política e das promessas vazias que o Syriza adoptou para vencer as eleições na Grécia, bloqueando as negociações com Tsipras, obrigando-o a pedir a demissão e a Grécia cair novamente em eleições;

Por fim, não acredito que a Grécia saia do Euro ou não decida pagar aos credores os empréstimos cedidos. Pois tal posição originaria a bancarrota e a Grécia é um País que depende em muito das importações, não produzindo o suficiente para se tornarem autossustentáveis. E depois? Quem pagaria os salários da Função Pública Grega?