15 Dezembro 2019      10:01

Está aqui

Viver dói

Querida eu,

Chega de tremer. Faz o teu coração caminhar bem. Calmamente. Não estás numa corrida. Faz com que ele ande num jardim; num dia comum de primavera. O teu (meu) corpo não merece esta dança constante que o teu (meu) cérebro insiste em comandar.

Tenho um punho fechado e pesado permanentemente fixado ao longo do meu esófago.

Não, não tens.

A minha cabeça está a rodar.

É desta vez que vou.

Não aguento mais.

Chega.

Quero impor um fim a isto.

Aperto a mão. Com a força máxima que me é dada. Cravo as unhas.

Estou viva. Está a doer.

 

Por Rita Medinas, natural de Reguengos de Monsaraz, com dezoito anos e estudante do Curso de Português na Universidade de Coimbra.

Quero suspirar de alívio mas esqueci-me como é que isso se faz.

Aperto mais para ter a certeza.

Dói.

Não consigo abrir os olhos. Insisto e luto em mantê-los fechados. Não me sinto preparada para ver o meu mundo a girar e não ter o controlo.

Vou desmaiar.

Desta vez, é que é.

Vou cair.

Estou a cair.

Ouço respirações assustadas. Estarei a sonhar? Os corações que me rodeiam têm o coração a berrar por incertezas.

Estou acompanhada, mas ao mesmo tempo, sozinha.

Tento falar.

É em vão.

O meu coração entra numa disputa negra com o meu corpo. Lutam, lutam e lutam para ganhar o prémio de quem estremece mais.

Consigo afirmar, sem hesitar, que o vencedor é a minha mente. Penso em tudo. Penso em nada.

Volto a cair.

Estou a tombar.

A minha garganta suplica por ar.

Cada vez fecha mais.

Preciso de ar.

Preciso de vida.

Preciso de uma vida normal. Eu quero ser uma pessoa normal.

Na minha mão estão desenhos das minhas unhas. Ganham cor em instantes.

A minha cabeça começa agora a doer.

A minha voz trémula implora por vida.

Vida.

A minha esperança cai tão depressa quanto as lágrimas salgadas da minha face.

Juro que é desta vez.

Sinto-me a fraquejar.

Mais e mais.

Estou cansada.

O punho da garganta persiste em morar naquele sítio. É o seu habitat agora.

Quero-me distrair.

Não consigo.

Esqueci-me como.

Três gotas já foram ingeridas por mim.

Não estão a funcionar.

“Mãe” – tento eu, pedir auxilio. Pelo menos, chamo-a na minha cabeça. Na realidade, não consigo pronunciar uma única sílaba correctamente.

Será que estou viva?

Estou viva?

Cravo as unhas de novo.

Está a doer.

O meu peito salta cada vez mais. Assusto-me com a velocidade. Na verdade, tudo me assusta. Tudo o que mora dentro de mim, vai saltar num instante pelos meus lábios rebentados.

Abro os olhos.

Como esperava, tudo roda. Ou será que tudo parou no tempo e sou a única em movimento?

De repente, tudo se movimenta depressa de mais. Não consigo acompanhar.

Vou cair de novo.

Será um pesadelo?

Quero acordar.

Além da minha garganta, eu fecho.

Estou sem ar.

Preciso de oxigénio. Mendigo por oxigénio.

Sinto-me impotente.

Estou débil.

Tenho dificuldade em assimilar.

Onde estou?

É a vez de uma borboleta fazer o seu casulo na minha garganta.

Deixei de ouvir. Há muito tempo. Mas sei que choro aceleradamente. Eu conheço-me. Sei como isto acontece.

É agora.

Olho para o meu sol.

Será que sobrevivo?

 

 

Por Rita Medinas, natural de Reguengos de Monsaraz, com dezoito anos e estudante do Curso de Português na Universidade de Coimbra.