14 Janeiro 2016      11:16

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UMA QUESTÃO DE TEMPOS!

No meu tempo! Quando ouvimos esta expressão pensamos sempre que está a ser referida por alguém muito mais velho do que nós. Mas também eu já a refiro muitas vezes, isto porque acho que nos últimos tempos tudo evoluiu a uma velocidade estonteante e refiro-me mesmo a tudo!

Ouvir o meu filho perguntar: “Mãe, onde está o carregador do meu tablet?”, ou “Mãe, posso tirar uma fotografia com o teu smartphone?”, ou ainda “Mãe, posso ir ouvir música no meu ipad?” Perguntas como estas nunca as fiz aos meus pais. Por um lado, consigo aceitar e até ver o lado positivo desta evolução, por outro confesso que me assusta e penso muitas vezes se o meu abraço não será trocado por uma simples conversa via skype.

Se eu vibrava com a história da Bela Adormecida e ficava entusiasmadíssima com o simples facto de saber se o príncipe chegaria a tempo de a beijar ou não, ou ficava emocionada ao ver a princesa Bela a dançar com o Monstro, ou aterrorizada ao ver as maldades da bruxa para com a Branca de Neve, hoje, o meu filho prefere ficar colado ao ecrã a ver bonecos só com pés e cabeça, azuis e cor de laranja a fazer piadas sobres vómitos, ou a ver um boneco que se designa como sendo uma esponja amarela que vive num ananás no fundo do mar e que tem como seu melhor amigo uma espécie de estrela do mar, que mora debaixo de uma pedra na rua da Concha mais propriamente na Fenda do Bikini , ou ainda, como dois patos que conduzem uma espécie de foguetão e a sua missão é entregar pães pela Patolândia... Estes patos têm como grande ídolo o Padeiro e contam piadas que só crianças desta idade parecem perceber. Enfim, tempos são tempos e tenho de ser eu, claro, a adaptar-me ao tempo dele.

No entanto, não deixa de ser interessante ver como uma criança de 5 anos coloca um DVD a funcionar ou como liga um computador portátil e diz precisar de uma pen drive para guardar as imagens de super-heróis que acabou de descobrir na sua viagem pela internet.

Se a nós pais já causa estranheza, imaginem os pobres dos avós que ficam todos baralhados com esta nova linguagem e com tanta tecnologia que lhes rouba a atenção dos seus netos. “Avô, o teu telemóvel não presta, não tem jogos nem dá para tirar fotografias!” E o meu pai, coitado, olha para mim com aquela expressão que eu tão bem conheço e sei que está a pensar: “Mas este aparelho que a minha filha me deu e me obriga a usar não serve apenas para receber e fazer chamadas para a tranquilizar de que estou bem esteja eu onde estiver?”

Como posso explicar ao meu pai que o meu filho não sabe lançar um pião? Ou que o rapaz não é muito dado a jogar ao berlinde?

Contudo, é bom ver como jogam os dois à bola no quintal, é bom ver como o meu pai finge estar a perceber o que o neto lhe está a explicar num jogo do tablet, ou como se mostra conhecedor das aventuras e das personagens que o neto descreve dos desenhos animados que vê. É bom ver o entusiamo dos dois enquanto o avô explica, com a paciência que só ele sabe ter, como funciona uma cana de pesca. É bom ver que adoram estar juntos simplesmente a passear, que mesmo distantes em algumas coisas estas idades se aproximam em tantas outras, como no amor, no companheirismo, na amizade e nem mesmo a questão das tecnologias os afasta.

 

Vanessa Chinelo, Professora e colaboradora na Sociedade do Bem

Imagem de capa daqui.