23 Abril 2022      18:08

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A Tentação – não podemos deixar matar o Alentejo

O Alentejo caracteriza-se pela excelência ambiental e patrimonial, estando associado a estas excelentes vantagens uma identidade cultural extremamente forte.

Associado a estas fortes características, altamente diferenciadoras de grande parte de outras regiões, o Alentejo tem associado a si um conjunto de produtos e serviços que são altamente valorizados e diferenciadores: a gastronomia, o turismo (nas suas diferentes vertentes associadas às características do território), produtos regionais (o pão, o vinho, os enchidos, o azeite, a doçaria e compotas, o mel, a cortiça, etc, etc).

Existem outras áreas onde a região tem vindo a retirar benefícios extremamente importantes e que tem muito potencial de desenvolvimento pela frente (destaco a economia verde e economia azul, assim como, áreas no domínio das novas tecnologias).

Apesar de podermos identificar outros setores bastante dinâmicos na região e outros com potencial de crescimento bastante interessante, é na excelência ambiental e patrimonial que se deve retirar as maiores vantagens para a região. Não podem ser desvalorizadas!

Na prática, a nossa vantagem competitiva reside nestas características, sendo que devemos potenciar estas realidades. Claro que existem alguns setores que são contraditórios e que coexistem com o território.

Evidentemente que não podemos inibir o nosso desenvolvimento sem permitir a concretização de atividades que são aparentemente contraditórias (ex: extração de mármore e industria mineira). Na realidade, devemos ter a competência em gerar equilíbrios entre interesses.

No entanto, o que mais me assusta são as novas dinâmicas de produção intensiva em processos de monocultura (ex: olival e amendoal), e no desenvolvimento brutal de novos projetos agrícolas altamente agressores à paisagem e ao ambiente (ex: as estufas no litoral alentejano).

Não sou contra a criação de grandes projetos de amendoal e olival, mas o que não concordo é com a falta de ordenamento existente. De repente, passou tudo a ser amendoal e olival. Extensões infindáveis destas produções, sem que haja um equilíbrio ajustado entre produções e utilização dos recursos.

Então, no que respeita à agricultura intensiva (com recurso a estufas) no litoral alentejano, este tema torna-se ainda mais grave. Deixo um exemplo: em apenas duas décadas desapareceu cerca de uma centena de charcos no interior do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

O Parque Natural do Sudoeste Alentejano, integrado na rede Natura 2000, desapareceu. Era uma área de especial proteção e protegida por rígidas leis. Aquilo que era, desapareceu!

As imagens de satélite conseguidas pela revista VISÃO são, no mínimo impressionantes: as áreas cobertas por estufas no parque natural da costa alentejana são mesmo maiores do que grandes praias ou localidades inteiras muito concorridas da região.

´´Fotografias de satélite revelam grandes áreas cobertas por estufas nesta área protegida. Uma área equivalente a cerca de 1600 campos de futebol, que pode triplicar até 4800, diz o movimento Juntos pelo Sudoeste. ´´

Eu pergunto se é este Alentejo que nós queremos?

Será que não estamos a deixar matar as nossas principais vantagens competitivas (a excelência ambiental e patrimonial)?

A ganância de fazer tudo rápido de mais, e de abusar na exploração dos nossos melhores recursos, vai levar-nos a uma perda de potencial no médio prazo.

Não podemos deixar que a tentação dos lucros rápidos e fáceis vençam o nosso melhor e maior potencial de desenvolvimento.

É preciso fazer algo e já!