3 Fevereiro 2016      16:01

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PULAR A PRÓPRIA SOMBRA

SEM MEIAS NEM PEIAS

A última década confirmou, se dúvida houvesse, que somos governados em modelo de lotaria: enquanto um punhado deles ganham, milhões perdem.

Para ilustrar esta ideia, aludo às dezenas de mil milhões de euros que têm sido injetados na banca, à custa dos milhões de contribuintes que perdem pagando por tamanha desfaçatez.

E, por mais que me expliquem não consigo entender os porquês e os para quês, se o deficit continua a aumentar e a “coisa” teima em não melhorar.

Ora, como o povo diz: para conseguir desatar um nó, é preciso saber ou perceber como é que nó foi dado. Como é sabido, não se pode forçar ao esticão um nó que se queira desatar. Desatá-lo, obriga a compreender de que forma foi executado, quem o fez e porque foi feito. Caso contrario, exige estratégia, técnica, determinação e saber empregar a força adequada, para que se tenha êxito.

Recorro a este pensamento para efetuar a seguinte analogia: governar bem é saber desapertar o emaranhado de nós herdados de anteriores governações. Governar ao “esticão” ou apenas apertar e refazer alguma união não é solução.

Segundo esta linha de pensamento, tomar decisões assertivas é condição fundamental para devolver a esperança e gerar confiança. Não basta, apenas, anestesiar por algum tempo as angústias e sofrimento das famílias, de empresários e trabalhadores. É condição necessária, traduzir o desamparo em segurança; o desespero em lucidez; a ansiedade em resultados; e intransigência intelectual em rigor na mudança.

A razão até pode justificar o passado recente de austeridade, mas o objetivo, agora, tem de ser o mais nobre de todos: a construção de um futuro promissor que não fragmente a força dos nossos desejos, que não comprometa a nossa felicidade. Não é para isso que trabalhamos? Para ter um futuro melhor?

Obviamente, a decisão de reversão da austeridade, a que fomos sujeitos e obrigados, deve ser ponderada e adequada à nossa realidade momentânea. Mas, o que não pode ser comprometido é o direito a essa reversão, fundamentalmente devido ao financiamento 'ad aeternum' da banca. Devemos rejeitar, liminarmente, hipotecar a nossa felicidade devido a isso.

É, também, infame que os responsáveis, pelo estado a que isto chegou, mantenham as fortunas que acumularam. Este é um erro que se comete amiúde. Custe o que custar, todos os que cometeram atos de gestão danosa devem ser, sem exceção, responsabilizados e pagarem por isso. Não é tolerável que sejam sempre os mesmos chamados a pagar e a suportar os erros cometidos por outros.

Independentemente, do aval final que Bruxelas venha a dar ao Orçamento do Estado e da análise técnica da Troika, que defende que o documento não convence e que falta uma estratégia de médio prazo, só espero que não me peçam para saltar a minha própria sombra, é simplesmente absurdo.

Imagem daqui.