As oliveiras falam através do tempo.
Não é por isso que as invejo;
é, sim, por terem passado
por tanto ou tão pouco,
sem nunca moverem raízes.
Escuto-as
sem pressa de abalar.
Ramos milenares sustentam
os mais atrevidos pássaros cantantes;
A mando de quem vieram
para me agoirar?
Nesse instante
o tempo faz-se.
Percebo que tudo é parte da melodia.
Os pássaros, as galinhas, os perus,
os cães, os porcos, os leitões, as ovelhas,
nós e tu.
Enquanto a vida acontece,
o vento embala as folhas pontiagudas
e faz soar o toque que faltava.
Melancolicamente escuto
a mais harmoniosa sinfonia.
Pergunto-me,
são vozes intemporais?
são séculos e milénios imortais?
são histórias que os livros não nos contam?
são poesias?
Não preciso serrar um tronco e contar
os anos que descortinam a sua idade,
velhice não é experiência,
é apenas a sabedoria da efemeridade.
Por favor, traduzam-me
as palavras sábias deste olival.
E rápido...
antes que a música acabe,
antes que o tempo termine sem cor.
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Ricardo Jorge Claudino nasceu em Faro em 1985. Actualmente reside em Lisboa. Mas é Alentejo que respira, por inigualável paz, e pelos seus antepassados que são do concelho de Reguengos de Monsaraz. Licenciado em Engenharia Informática e mestre em Informação e Sistemas Empresariais pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. Exerce desde 2001 a profissão de programador informático. Também exerce desde que é gente o pensamento de poeta. www.claudino.eu