18 Setembro 2019      15:29

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O mais fácil é sempre atacar o mundo rural

Alegadamente preocupada com o ambiente e o futuro do planeta, a Universidade de Coimbra anunciou que as 14 cantinas universitárias vão deixar de fornecer refeições com carne de vaca, a partir de 1 de janeiro de 2020.

Podiam ter anunciado que a energia elétrica utilizada seria de fonte renovável ou que passariam a utilizar painéis fotovoltaicos para gerar a energia para os seus consumos.

Poderiam ter anunciado que deixariam de utilizar veículos automóveis, ligeiros e pesados, e velocípedes consumidores de combustíveis fósseis.

Podiam ter anunciado a eliminação da utilização do plástico ou do papel nas ações desenvolvidas no quadro universitário.

Podia ter enunciado um conjunto de iniciativas de redução das pegadas ecológicas em meio universitário e urbano, sem impactos negativos no esforço de resiliência do Mundo Rural e do Interior, mas isso era pedir demais.

A Universidade de Coimbra, espaço de conhecimento e liberdade, resolveu embarcar no populismo da moda do ataque fácil ao Mundo Rural, sob a capa das preocupações ambientais.

O que já foi espaço de liberdade apresentou-se, nesta questão, como espaço de proibição.

A decisão simbólica e radical, sob a capa da preocupação com o planeta e com a produção de CO2 pelas explorações animais, significa que para a Universidade de Coimbra, como para muitos decisores, o Mundo Rural e o Interior podem estar sujeitos a todas as consequências para que o meio urbano insista e persista em opções que são lesivas do ambiente, da saúde, do clima e do planeta, essas sim com impactos relevantes decorrentes do seu peso demográfico.

Depois de anos de discriminação, abandono e desinteresse das elites e dos decisores, num momento em que a valorização do Interior faz parte do discurso político e de medidas concretas, não aceitamos esta menorização das pessoas e dos territórios do Mundo Rural.

Quem nunca fez nada para que o Interior e o Mundo Rural tivessem mais população, mais oportunidades, mais dinamismos e acesso a serviços que sustentam a qualidade de vida, devia de ser abster de colocar mais dificuldades a quem sempre resistiu perante as dificuldades.

Pode a Universidade de Coimbra persistir nos confortos do ambiente urbano com impactos negativos no planeta e nos simbolismos que consequências negativas para o Mundo Rural, que contarão sempre com uma voz contra de quem defende o Mundo Rural, defende a vida no Interior e defende a existência de equilíbrios que não impliquem que sejam sempre os mesmos a pagar a fatura.

Como voz do Baixo Alentejo estamos e estaremos sempre contra quem, ainda que sob a capa do interesse geral, pense no umbigo. Nos confortos urbanos que se manterão e nas poupanças financeiras na compra de carne de vaca para confeção de refeições nas cantinas universitárias.

O populismo pseudo-ambiental da Universidade de Coimbra prestou um mau serviço à coesão territorial e a uma sociedade com equilíbrios justamente distribuídos.

Temos pena.

 

Pedro do Carmo é deputado do PS por Beja. Licenciado em Direito, é também presidente da Federação do Baixo Alentejo do Partido Socialista