9 Fevereiro 2016      11:20

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O MÉRITO É DO ELEFANTE

Na semana passada um amigo meu partilhou no facebook um estudo que concluía que desempenhar um trabalho de forma competente tinha pouca relevância nas promoções e na progressão profissional, e que na prática o mérito é totalmente irrelevante em muitas empresas e no Estado.

A minha primeira reação: que verdade de la Palice!

Mas não me fiquei por aqui. Pesquisei mais um pouco e acabei por descobrir que se trata de um estudo credível promovido pela Fundação Manuel dos Santos intitulado “Valores, Qualidade Institucional e Desenvolvimento em Portugal”, conduzido por oito investigadores que avaliaram o funcionamento da Autoridade Tributária, EDP, ASAE, CTT, Bolsa de Valores e Hospital de Santa Maria.

Algumas ideias de destaque: a estranheza da quase total irrelevância de mérito de cariz profissional, num país que pertence à União Europeia, moderno e virado para o futuro e o facto das preferências e conexões pessoais assumirem um papel fundamental em determinadas situações.

E se esta noticia tem pouco de novo, a leviandade com que a encaramos e a consideramos de tal forma enraizada na nossa sociedade e economia que pouco ou nada podemos fazer para a combater, é que considero verdadeiramente preocupante.

Será esta a regra? Que incentivo temos para lutar pelo tão desejado mérito profissional se sabemos de antemão que não nos servirá de muito?

Estas preferências pessoais, ou o tal fator c, só me faz lembrar a história do elefante em cima do poste. Todos sabemos que fisicamente isso é impossível de acontecer e até hoje ninguém sabe como é que ele foi lá parar, mas a verdade é que ele está lá! E com um equilíbrio de causar inveja.

Falando em mérito, não podemos deixar de imaginar as “montanhas de mérito” que os gestores públicos tiveram recentemente e que justificam inteiramente o aumento de 150% nos seus vencimentos. Nem consigo imaginar!...vocês conseguem?!

Sem entrar em demasia na política, e sendo esta uma crónica sobre economia, acho importante perceber quem permitiu isto? E com que justificação?

Conclusão: os rendimentos estão mesmo a ser repostos. A diferença é que Para alguns, 20% do corte salarial, para outros estes aumentos.

Este é apenas mais um exemplo… Antes foram as subvenções vitalícias dos políticos. Muito faladas agora, mas depressa passarão a burburinho. Porquê? Porque irá aparecer uma nova…iremos inevitavelmente deparar-nos com outro elefante em cima do poste.

E afinal, somos Nós um país rico ou um país pobre? Se tivermos em linha de conta que:

- A taxa de crescimento real do PIB desde 2000 que não passa dos 2% e em média cresceu 0,3% neste período.

 -A nossa dívida pública ronda os 130% do PIB, crescendo sem parar desde 2000.

- Em 2014, o salário médio líquido em Portugal rondava os 813 euros, mas 34% (1,2 milhões de Portugueses) recebiam menos de 600 euros “limpos” por mês.

- Somos o quinto país da zona Euro onde mais trabalhadores vivem em risco de pobreza (10,5%), sendo o limiar de risco de pobreza os 5.059 euros/anuais.

Assim de repente dá-me a ideia de que vivemos num país com dificuldades financeiras. Dificuldades que não significam necessariamente obstáculos. Sabemos que há caminhos a percorrer, aventuras a começar…. e que tradicionalmente somos esses aventureiros, esses descobridores!

Mas depois vejo estes ordenados astronómicos e penso que afinal devemos viver num país rico! Ou será que temos dois “Portugais”? Um para pobres e outro para ricos?

Talvez seja isto, ou talvez o mérito seja do elefante!

 

 

Imagem daqui