28 Dezembro 2015      11:04

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O ESTADO A QUE A SAÚDE CHEGOU

Nos últimos dias, fruto da denúncia relativa à falta de serviços no Hospital de S. José que levou ao falecimento de um jovem enquanto aguardava assistência especializada, têm surgido mais casos semelhantes que denunciam o estado a que a Saúde chegou.

Temos administradores a gerir hospitais o que, já de si, deveria deixar-nos a todos de pé atrás. Não colocando em causa a competência dos administradores em causa, não devemos ignorar a especificidade da área que pretendem gerir.

O que para ele não passam de números e de tabelas, para os profissionais de saúde consiste em mais ou menos vidas salvas.

O Governo PAF cortou cegamente nesta área e ainda se achou na legitimidade de elogiar o estado em que se encontram os nossos hospitais onde existem doentes amontoados em salas de recepção à espera de alguém que os atenda e analise adequadamente a gravidade do seu estado.

Como se tal não bastasse, ao que parece, os cortes levaram também à necessidade de redução de equipas de especialidades como sucedeu no Hospital de S. José com o serviço de neurocirurgia.

O que se passa nos hospitais, acontece igualmente com as VMER em que, faltando uma única pessoa, não existem condições para a substituir e, assim, prestar assistência em situações de emergência.

Chegamos por isso quase ao ridículo de termos que escolher o dia e a hora a que adoecemos, não vá a equipa que precisamos não estar disponível pois, também ela, tal como todos nós nas nossas funções, necessita de tempo para se restabelecer.

Culpar os médicos da equipa está longe de ser a solução.

Estes profissionais estão desgastados e estão a dar mais que o seu máximo para cumprirem o juramento que fizeram no início da sua carreira.

Não, a culpa não é nem pode ser destes profissionais.

A tal gestão por administradores leva a que estes cortes aconteçam sem que se conheça a verdadeira realidade do serviço que se gere. Poupam-se euros em cortar uma equipa aqui e ali, então corte-se.

Entretanto, profissionais, famílias e utentes continuam desesperados em salas de espera de serviços de urgência esperando que o próximo utente ou o seu familiar não seja a próxima vítima do corte da equipa que necessitam para sobreviver.

Em época natalícia as notícias costumam se boas, mas, infelizmente, este é o Estado a que a saúde em Portugal chegou.

Esperemos que com o novo ano venham as novas equipas e, acima de tudo, uma gestão hospitalar criteriosa sim, mas sem cegueiras.

Imagem: Detalhe da Morte da Virgem do pintor italiano Michelangelo Merisi da Caravaggio.