18 Julho 2019      17:43

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Novas descobertas geram entusiasmo arqueológico no Alentejo

Marvão, Moura, Alandroal e Reguengos de Monsaraz estão a ser palco nos últimos dias de valiosas descobertas arqueológicas por um lado e de uma aproximação da população e visitantes por outro à riqueza arqueológica da região, aspetos que pelo menos não têm merecido nos últimos anos grandes referências na comunicação social.

Por exemplo em Marvão foi ontem identificado o quinto anfiteatro romano conhecido na província da Lusitânia, por arqueólogos na cidade romana de Ammaia. Em comunicado o Município refere que "foi possível confirmar a existência de um novo edifício público" na cidade, um anfiteatro. Trata-se do quinto anfiteatro romano conhecido em toda a província da Lusitânia", depois dos descobertos em Mérida (Espanha), Conímbriga (Coimbra), Bobadela (Oliveira do Hospital) e Caparra (Cáceres, Espanha).

Já mais a sul, em Moura, a descoberta mais recente acaba de ser revelada pelos arqueólogos Mariana Nabais e Rui Monge Soares, que encontraram vestígios importantes de produção metalúrgica datados do século I a.C., do período romano republicano.

Os trabalhos que estão a decorrer permitiram identificar imensos pregos da época romana e também vestígios de bronze, cobre e chumbo. “Pontualmente, temos descoberto vestígios do período calcolítico (cobre)”, salienta a arqueóloga, frisando que “só a análise química das escórias irá determinar se são de cobre ou de ferro”.

“Estamos a descobrir um povoado que pertence à memória de todos e que é um património altamente relevante sobretudo para a população do concelho de Moura”, acrescenta Mariana Nabais ao Público. Até ao momento foram identificadas várias estruturas datadas da época romano republicana (século I a.C.) e também vários troços de muralha à qual estão” adossados diversos pequenos compartimentos provavelmente destinados ao armazenamento de recursos alimentares", como também foi descoberta uma via de circulação junto da qual se terá desenvolvido a zona residencial do povoado. Os materiais recolhidos confirmam a presença romana, mas destacam também uma forte presença de populações da II Idade do Ferro (séculos IV a II a.C.), havendo igualmente vestígios cerâmicos datados do 3º milénio a.C., de cronologia calcolítica.

Em Alandroal está em fase de preparação a nona campanha de escavações no sítio romano republicano da Rocha da Mina em Alandroal. As escavações, que vão decorrer entre 4 e 30 de agosto, serão dirigidas por Conceição Roque e Rui Mataloto e procuram voluntários. Para quem passa pela experiência, a oportunidade é gratificante, pela oportunidade de trabalhar numa extraordinária paisagem, pelas novas relações que se criam e pela permanente eventualidade de encontrar um vestígio que marque o conhecimento do passado. Nunca se sabe o que a caixa de surpresas que é a paisagem alentejana, tem para revelar.

Em Reguengos de Monsaraz por exemplo o complexo arqueológico dos Perdigões, vai abrir as portas no dia 20 de julho para um tipo de visitas tão cheio de história como de sofisticação. O povoado dos Perdigões foi classificado no início deste ano como sítio de interesse nacional, tendo-lhe sido atribuída a designação de monumento nacional. O programa do Dia Aberto nos Perdigões inicia-se às 9h com a partida de todos os interessados desde a Praça da Liberdade para o complexo arqueológico em transporte oferecido pelo Município de Reguengos de Monsaraz. Pelas 9h30 será a visita à escavação arqueológica e às 11h ao Museu dos Perdigões.

A partir das 13h haverá um almoço neolítico/atelier de cozinha pré-histórica acompanhado por uma seleção de vinhos do Esporão, seguindo-se às 16h, na Torre do Esporão, uma palestra do arqueólogo António Valera, Diretor do Núcleo de Investigação Arqueológica da Era Arqueologia, sobre “O Recinto Pré-Histórico dos Perdigões: 20 anos a “construir” um monumento nacional”. 

 O povoado dos Perdigões situa-se a cerca de um quilómetro da cidade de Reguengos de Monsaraz e é um complexo arqueológico composto por vários recintos delimitados por grandes fossos, que inclui uma área de necrópole e um cromeleque ou recinto megalítico cerimonial definido por vários menires, ocupando uma área superior a 20 hectares. Iniciado no Neolítico Médio, há cerca de 5.500 anos, prolongou-se durante toda a Idade do Cobre e chegou ao início da Idade do Bronze, há 4.000 anos, altura em que ocorreram profundas mudanças sociais e cosmológicas que levaram ao seu abandono.

 O local terá assumido desde o início um importante papel para as comunidades que habitavam aquela zona na Pré-História Recente e seria, provavelmente, um sítio aglutinador de populações de várias regiões, tal como um santuário, que aí se reuniam para a prática de cerimónias rituais, algumas delas relacionadas com o culto dos mortos e dos antepassados.

 A Era Arqueologia iniciou as campanhas de escavações arqueológicas em 1997 e desde esse ano foram intervencionadas várias áreas, tendo sido descobertos sepulcros de inumações secundárias e de inumações primárias ou depósitos de restos de cremações humanas com cerca de 4.500 anos, que eram pouco comuns nessa época. Associado a estes contextos de cremações humanas, foi encontrado pela primeira vez em Portugal um conjunto de estatuetas antropomórficas em marfim, de grande naturalismo e beleza estética, que podem representar divindades, pessoas ou estatutos sociais concretos, ou grupos de identidade ou parentesco.