O movimento cívico “Juntos pelo Cercal do Alentejo”, composto por cidadãos ligados à região, opõe-se à construção da central fotovoltaica da Central Power e tenciona utilizar todos os meios possíveis para impedir a concretização do projeto aprovado no passado dia 29 de julho.
De acordo com o Observador, o movimento lançou ainda uma campanha de crowdfunding para recolha de fundos para as despesas desta causa, que já captou mais de 5 000 euros.
Vera Camarena, uma das porta-vozes do movimento, disse ao Observador que a forma como o movimento vai contestar o projeto na justiça ainda está a ser estudado, em função do conteúdo da declaração de impacte ambiental, favorável, mas condicionado, emitida pela Agência Portuguesa do Ambiente no dia 29 de julho. Contudo, uma coisa é certa: as condicionantes e medidas propostas pela APA para mitigar impactos “não são minimamente aceitáveis”, afirmou.
O grupo contesta em particular a dimensão do projeto, que vai ocupar mais de 800 hectares, depois de junção de cinco licenças obtidas pelo promotor no leilão de potência solar; e a sua proximidade à vila do Cercal, cerca de um quilómetro de distância.
Vera Camarena justifica o recurso ao crowdfunding por ser uma maneira fácil e transparente de conseguir fundos, permitindo aos doadores saber como estes vão ser utilizados e assinalando também que será uma luta contra um grande grupo económico, a empresa alemã Aquila Capital.
Note-se que o “Juntos pelo Cercal do Alentejo” é composto por cerca de uma centena de pessoas sem ligações partidárias ou outras, muitas das quais com uma ligação pessoal ao Cercal, seja por residirem, seja por terem investimentos na área, em particular no turismo e na agricultura.
Segundo a responsável, algumas destas pessoas voltaram à vila atraídas por uma estratégia de promoção de turismo sustentável que foi apoiada pelo Turismo de Portugal e que agora ficará comprometida com estes projetos solares.
Recorde-se ainda que o Turismo de Portugal foi uma das entidades que levantou reservas ao estudo de impacte ambiental, alertando para os impactos negativos para a atividade e pedindo mais medidas de mitigação, mas sem dar parecer desfavorável.
Em comunicado, o grupo diz que a decisão “colocará em risco atividades económicas cruciais ao desenvolvimento da região”, tais como o turismo e os serviços de ecossistema, já que implica destruir 816 hectares de terrenos agrícolas férteis.
“O que está a acontecer no Cercal do Alentejo poderá ser tomado como exemplo de um processo de greenwashing (a falaciosa impressão dada aos consumidores sobre determinado produto/ação/ideia, de modo a torná-lo mais ‘amigo do ambiente’ do que na verdade é)”, lê-se ainda no mesmo documento.
Neste sentido, o movimento reconhece a necessidade da transição de fontes de energia de alto para baixo consumo de carbono, mas salvaguarda que a conversão de energia deverá contribuir para “comunidades saudáveis e prósperas, o que não é o caso”.
O movimento cívico refere igualmente que, embora a Declaração de Impacto Ambiental “reconheça como válidos os argumentos de oposição apresentados por mais de 160 entidades”, como o “Turismo de Portugal, a Câmara Municipal de Santiago do Cacém, a CCDR do Alentejo e várias associações ambientais”, justificou o parecer favorável porque a central fotovoltaica “se enquadra no cumprimento das principais linhas de orientação do Governo relativas ao reforço das energias renováveis”.
Assim, o movimento “não aceita que a freguesia do Cercal seja sacrificada em nome de uma opção política do Governo, que é no mínimo discutível, sem que a população tenha sido ouvida em tempo útil sobre uma decisão que afetará o seu futuro e o futuro das próximas gerações”, destaca o grupo na nota de imprensa.