7 Abril 2019      11:49

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Jean Dolande, de Paris, Pequim e Nova Iorque para Évora

Inaugurou ontem seis de abril, em Évora, na Galeria das Casas de Sant’Ana e São Joaquim uma pintura do estilo abstracionismo lírico da autoria do pintor francês Jean Dolande. Esta exposição, com organização de Sejo Viera, é a primeira de um projecto denominado “Jean Dolande around Alentejo”, na qual o público alentejano poderá apreciar a obra de um artista que possui exposições permanentes em Paris, Casablanca e Shanga. No seu vasto currículo constam ainda exposições na 7ª e 8ª exposição de arte contemporânea em Pequim e no museu de Arte contemporânea de Nova Iorque.  

A exposição vai estar patente ao público até ao próximo dia 6 de maio entre as 10:00 e as 18:00 na Galeria Casas de Sant’Ana e São Joaquim, na rua Cândido dos Reis em Évora e é de entrada gratuita.

O Tribuna Alentejo conversou com o artista Jean Dolande e com o organizador da exposição Sejo Vieira, também ele artista.

TA: Como se proporcionou a oportunidade do Jean Dolande expor em Évora?

Jean Dolande - Proporcionou-se apenas graças ao Sejo Vieira, o qual eu conheço por ter sido seu aluno de dança. Participámos de seguida em alguns filmes juntos, e como tal somos amigos há muitos anos. Ele tem desenvolvido projectos muito interessantes aqui em Évora, desafiou-me para aqui expor e mostrar o abstracionismo lírico e aceitei com todo o gosto.

TA: Qual o sentido da sua pintura?

Jean Dolande - O meu trabalho é em primeiro lugar um trabalho emocional, não um trabalho intelectual. O meu estilo é o abstracionismo lírico precisamente por ter ligações com as emoções líricas, como o lirismo da poesia por exemplo. No artista tudo parte das emoções, as artes todas se conjugam. Comecei como actor, como dançarino e até mimo. Um dia fui para a pintura e foi ai que comecei a criar as minhas próprias emoções, que comecei a encontrar as minhas raízes sinceras com a arte, mais até que no teatro ou a dança.

TA: E depois da chegada à pintura, como chegou ao abstracionismo lírico?

Jean Dolande - Eu encontrei na pintura qualquer coisa que me impelia para ir para a pintura. Senti um verdadeiro chamamento e a partir daí comecei a passar para a tela mais o que sentia que o que pensava. Penso que este chamamento para pintura foi já uma forma do meu “eu interior” me levar até ao abstracionismo lírico.

É difícil para quem não está na pintura perceber este “chamamento” para a pintura, mas a verdade é que ele existe. O meu caso por exemplo! Fui actor e dançarino muitos anos em França e quando voltei a Portugal pus-me também na tela, e hoje a tela é para mim a melhor maneira de exprimir rapidamente não só uma emoção como um protesto contra a sociedade, contra o sistema. A pintura é um reflexo, ou uma continuação se preferirem das pinturas rupestres dos tempos pré-históricos. Nós seguimos uma linhagem que vem desses tempos até agora, através dos genes. Os genes funcionam nesta arte, os meus filhos sabem pintar e o meu pai pintava, mas se eu fosse músico os meus ilhós poderiam não ser músicos. Esta capacidade de pintar tem a ver com os genes que herdámos e quando encontrarem um pintor podem-lhe perguntar se o pai ou a mãe dele pintavam. Garanto-vos que certamente alguém na família dele pintava bem.

TA: O que é que o público de Évora pode esperar da estadia do Jean Dolande aqui por Évora?

Sejo Vieira – Permitam-me responder. Nós estamos a criar um projecto que terá três vertentes: a primeira delas é designada “Jean Dolande around Alentejo” e visa levar a obra do Jean a mais concelhos. Depois de Évora o próximo concelho a receber a obra é o município de Arraiolos já em maio. A segunda vertente é desafiar a Delegação em Paris da Fundação Gulbenkian para que um pintor português, eu, um francês, o Jean, e uma pintora romena, a Rodica, exporem cada um com a sua pintura e a sua forma de pintar. A terceira vertente é o objetivo ambicioso de estarmos representados na Feira de arte em Singapura, cada um de nós com o nosso estilo de pintura. A Ródica com uma pintura mais tradicional, o Jean com o abstracionismo lírico e eu com o transrealismo.

TA: Que conselhos dão a novos artistas que estão agora em início de carreira?

Sejo Vieira - O artista em princípio não pode ser vaidoso. Tem de ser humilde porque a arte é uma coisa que não pertence a uma elite. É uma coisa sentida. Existe muita gente que domina os mercados, gente politicamente correcta que faz com que muitas vezes um artista para singrar tem de se submeter, ser engraxador e andar aos pés dessas pessoas como se costuma dizer. Sejam resilientes.

Jean Dolande - Os artistas incomodam através da sua arte, seja qual for a arte ela incomóda quando ela é sincera, quando ela é pura. Felizmente que os artistas existem. Os artistas são muito comprometidos com a sociedade. Temos de lutar por ela e contra aquilo que está errado.