Investigações arqueológicas recentes realizadas em Alqueva podem revolucionar a História e o conhecimento sobre o Alentejo.
A informação recolhida nos últimos 20 anos sobre a evolução da presença humana em 20 concelhos alentejanos foi um estudo sem paralelo a nível nacional, no entanto, estas informações recolhidas carecem ainda de estudo, tratamento e contextualização.
Segundo os vestígios recolhidos em mais de 1700 intervenções arqueológicas realizadas, na região do Lago Alqueva, apontam para a existência de presença humana desde há mais de 200 mil a.C. e estes dados vieram alterar substancialmente o conhecimento desde a pré-história antiga no Alentejo.
Estes números e estas informações estão patentes na exposição “Sob a Terra e as Águas — 20 anos de arqueologia entre o Guadiana e o Sado”, exposta até final do ano no Núcleo Museológico da Rua do Sembrano, em Beja.
Esta exposição é resultado de uma parceria entre a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), a Câmara de Beja e a Direção Regional de Cultura do Alentejo.
Muito se disse sobre o quanto o surgimento do Lago Alqueva iria afetar e influir sobre o património arqueológico das áreas submersas, no entanto, Augusta Cachopo, do conselho de administração da EDIA, garantiu ao “Público” que o efeito foi exatamente o contrário, tendo a EDIA investido já cerca de 20 milhões de euros na recolha de novas informações sobre o passado da região, e já permitiu um aumento do conhecimento sobre a História do Alentejo, essencialmente sobre o período do Calcolítico, Idade do Bronze e Idade do Ferro, mas também sobre o Paleolítico e Neolítico antigo e que permite afirmar com mais segurança que a presença de caçadores/recolectores no Alentejo foi mais marcada que aquilo que se supunha até aqui.
De há 3500 aC, a pesquisa arqueológica realizada tem revelado muitas antas e as escavações revelaram fossas e sepulturas escavadas na rocha e ainda sistemas construtivos compostos por muralhas e bastiões semicirculares.
Segundo o arqueólogo Miguel Serra, foi possível tomar conhecimento de novas povoações que nem se sabia existir; existiam vestígios de duas povoações, Ourique e Sine, e agora, só em redor de Beja são cerca de 60!
Da Idade do Bronze – no seu período Final (1300 a 700 anos a.C) – foram encontrados diversos conjuntos de necrópoles, em Beja, e que permitiram ver e perceber uma quantidade enorme de artefactos rituais, bem como, os adornos opulentos usados para enterrar o Homem do Bronze.
Sobre esta Idade, carece ainda de confirmação um povoado que terá centralizado o poder, crê-se que em Beja, e que, a confirmar-se – na opinião de Miguel Serra, reescreverá definitivamente o modo como a História do Alentejo se processou até aqui.
Da Época Romana surgiram vestígios de uma renovação da Pax Julia (Beja) aquando do aumento de estatuto da cidade e consequente renovação urbanística. Por via das explorações arqueológicas foram ainda descobertas ruínas de barragens, canais e aquedutos desta época.
Com menos relevância, mas igualmente importantes, têm sido as descobertas realizadas sobre a Idade Média e Idade Moderna.
Espera-se agora que os dados recolhidos ao longo dos últimos 20 anos de investigação arqueológica sejam publicados e estejam disponíveis a toda a comunidade arqueológica, mas também ao público em geral.
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