5 Janeiro 2021      08:47

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Morreu João Cutileiro

João Cutileiro faleceu esta madrugada, vítima da doença respiratória que padecia. Nascido em Lisboa, a 26 de junho de 1937, é um dos nomes mais sonantes da escultura portuguesa.

Filho de mãe alentejana, natural de Pavia, e segundo de três filhos, João Cutileiro desde cedo conviveu com artistas e pensadores modernos, sendo que António Pedro, em 1946, o levou para trabalhar no seu atelier.

Mais tarde, frequentou o estúdio de Jorge Barradas e depois de António Duarte onde foi, durante dois anos, assistente de canteiro voluntário, tendo sido aqui o seu primeiro contato com a pedra.

Em 1951, e ainda com 14 anos, Cutileiro apresentou a sua primeira exposição individual em Reguengos de Monsaraz, numa loja de máquinas de costura.

Também desde cedo, João Cutileiro se mostrou preocupado em intervir na sociedade e fez parte da organização juvenil do Movimento de Unidade Democrática (MUD), tendo, em 1960, integrado o Partido Comunista Português, embora por escassos meses por se ter desmanchado essa célula do partido.

Viveu um ano em Cabul com o seu pai – era médico da Organização Mundial da Saúde – e passou Florença, tendo ficado encantado com a obra de Miguel Ângelo e, quando regressou a Lisboa, inscreveu-se na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, sendo aluno de Leopoldo de Almeida, e onde só estudou um ano.

Por influência de Paula Rego, ruma a Londres e à Slade School of Art que frequentou de 1955 a 1959, desenvolveu a sua arte e engenho com o mestre escultor Reg Butler, recebendo, no final do curso três prémios: composição, figura e cabeça.

Dedicou-se ao mármore e de 1961 a 1971 fez cinco exposições em Lisboa e uma no Porto, sendo que desde 1970 que já residia novamente em Portugal, em Lagos, onde realizou uma obra que desafiava o academicismo Estado Novo.

Conseguiu uma menção honrosa no Prémio Soquil em 1971. Nos anos seguintes, expôs esculturas e mosaicos em Wuppertal e Dortmund, na Alemanha, em Évora, e em Washington D.C., na Sociedade Nacional de Belas Artes, e na Jones Gallery em Nova Iorque.

Em 1985 estabeleceu-se em Évora, onde viveu até hoje e manteve a sua casa-museu, onde está grande parte das suas obras.

Expôs em Macau, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Bruxelas, Luxemburgo e muitas outras cidades nacionais e internacionais.

Foi distinguido com o Doutoramento honoris causa pela Universidade de Évora e pela Universidade Nova de Lisboa.

Em 2014 decidiu doar ao Estado a sua casa e um espólio composto por mais de 700 obras, entre peças de escultura e fotografia, o que se efetivou somente em 2018, devido a motivos burocráticos, data em que foi agraciado com a medalha de mérito cultural.

Imagem de ccdr-a.gov.pt