22 Janeiro 2019      11:50

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Especialistas temem pelo futuro da Embraer

Está dado o sinal verde à venda de 80% da Embraer à Boeing. Após várias hesitações e bloqueios políticos e jurídicos, o governo brasileiro decidiu aprovar a venda apesar de vários alertas de especialistas. Para Marcos José Barbieri Ferreira, coordenador do Laboratório de Estudos das Indústrias Aeroespaciais e de Defesa da Unicamp, no Brasil, a venda é boa para a Boeing e "péssima" para a Embraer.

Em entrevista à cartacapital.com.br, o especialista lembra que a Embraer é a única grande empresa brasileira de alta tecnologia que possui uma inserção ativa no mercado internacional. É também a principal empresa estratégica de defesa do Brasil, tendo o domínio de tecnologias sensíveis que são utilizadas em aeronaves, radares, satélites e sistemas de monitoramento. Segundo Ferreira, há um elevadíssimo risco de perda da capacitação tecnológica da Embraer remanescente, comprometendo o desenvolvimento de futuras tecnologias e produtos, particularmente aeronaves, de emprego militar.

Outro sinal preocupante foi a ameaça da agência de classificação de risco S&P Global Rating em baixar a nota da Embraer, logo após se ter tomado conhecimento da luz verde do governo brasileiro para a venda, por ter considerado que a decisão “vai enfraquecer consideravelmente o seu perfil de negócios”.

 A Embraer entregou à Boeing a liderança mundial em jatos com menos de 150 lugares e corre risco de perder a capacitação tecnológica

Pode ler-se naquela peça que segundo Wagner Farias da Rocha, professor de Engenharia Aeronáutica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e aviador da Força Aérea Brasileira, “a transferência de controle da Embraer foi apresentada ao público de forma irregular e resultará na perda da capacidade da Embraer de projetar e produzir aviões, o que levará a empresa a regredir para o estágio tecnológico dos anos 1950”.

Em audiência pública no Supremo Tribunal Federal, Farias da Rocha defendeu que o negócio não era uma joint venture, conforme anunciado, pois transfere os principais ativos para a concorrente Boeing. A empresa afirmou que a operação envolvia a aviação comercial, mas de fato "estão sendo transferidas as unidades de engenharia". “A Embraer que sobrou não conseguirá desenvolver aeronaves, modelos de tipos certificados nem tem engenharia de base para suporte de serviços, modificações e alterar projeto”, previu o professor do ITA.

Para o desembargador Fausto De Sanctis, do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, “a situação retratada é de verdadeira aquisição, travestida de negócio jurídico denominado ‘joint venture'”. De Sanctis manifestou-se em resposta ao recurso movido pela União contra a liminar obtida, no dia 19, pelos sindicatos dos metalúrgicos de São José dos Campos, Botucatu e Araraquara.

Pelo acordo, a Embraer fica com 20% da joint venture e a Boeing com 80%. A Embraer, por sua vez, abre mão, em favor da Boeing, de toda sua parte comercial (lucrativa) recebendo como pagamento ações que representam apenas 20% do capital da NewCo, sem ter direito a qualquer ingerência na mesma, seja como membro de conselho ou na administração”, afirmou na decisão.

Há seis anos instaladas em Évora, as fábricas da Embraer surgiram de um investimento de cerca de 180 milhões de euros e fábricas de última geração e com alta produtividade, especializadas em estruturas metálicas e materiais compósitos.

Entretanto o Estado português admite abandonar o projeto de aquisição de aviões KC-390 caso a Embraer não baixe os valores pedidos. A declaração foi feita no parlamento pelo chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), general Manuel Rolo, que refere uma negociação "férrea" entre o estado português e a construtora brasileira, com duas fábricas em Évora.

a Embraer pediu primeiro 120 milhões de euros, mas depois desceu para 97 milhões de euros, o que está ainda muito acima do valor que o estado português considera aceitável.

“O Estado não quer ver ultrapassado para além deste montante [cerca de 83 ME], estamos numa negociação férrea e começa a prevalecer a opinião de que, se a Embraer não vier para este valor, o Estado português terá de ir para outras opções”, afirmou o general Manuel Rolo, que adiantou que a Embraer pediu primeiro 120 milhões de euros, mas depois desceu para 97 milhões de euros, o que está ainda muito acima do valor que o estado português considera aceitável.

Manuel Rolo considerou também que e apesar da Embraer ter garantido que a venda de 80% à Boeing não afetaria o setor militar da companhia brasileira, esta aquisição “é preocupante no que pode traduzir da orientação estratégica da Embraer", dizendo esperar que não seja esse o motivo da "perturbação do bom clima da negociação inicial".

 

A peça pode ser lida integralmente aqui.

 

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