19 Julho 2017      11:38

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BOATOS VICIOSOS – PARTE 2

O ex-ministro da Economia Manuel Pinho escreveu um longo artigo de opinião no Jornal Público sobre o caso EDP no qual se defende do que diz ser um "boato vicioso". Pois bem, não querendo ser exaustivo relembro outros boatos viciosos mediáticos que, também, têm como denominador comum os bolsos dos portugueses.

Segundo boato: As Privatizações.

O boato Durão Barroso e Goldman Sachs

Em 2004 o Governo liderado por Durão Barroso contratou Goldman Sachs pelo valor de 18 milhões de euros para assessorar na privatização da Galp e na reestruturação da EDP. No entanto, o negócio para além de dispendioso resulta num falhanço total, os objetivos inicialmente fixados não são cumpridos e os interesses dos contribuintes não são, de modo algum, acautelados. Num só ano foram desembolsados cerca de 1,7 milhões de euros para o pagamento dos serviços prestados pelos consultores. Como se não bastasse, o contrato ainda previa mais 13 milhões de euros de remuneração por objetivos e 200 mil euros mensais. Apesar deste negócio ter resultado num redondo fracasso, ainda hoje, os custos associados com esta operação desastrosa têm efeitos perversos no bolso dos contribuintes, nomeadamente, devido às compensações que o Estado Português garante à EDP graças aos contratos designados por CMEC - Custos para a Manutenção do Equilíbrio Contratual. São justamente os CMEC que permitem à EDP obter uma receita adicional suportada pelos consumidores portugueses através das tarifas da eletricidade. E por falar em Goldman Sachs, em 2008 o banco da Goldman Sachs vendeu à Metro do Porto o SWAP mais insólito do mundo pelo valor de 126 milhões de euros da sua dívida, passados poucos meses a Metro do Porto já devia 120 milhões de euros ao banco americano. O responsável por Portugal, no Goldman Sachs, era, desde 2002, António Borges economista e professor universitário, e ex-dirigente do PSD.

O boato Operação Marquês e os negócios ruinosos da Portugal Telecom (PT) no Brasil

Apesar de em Outubro de 2013 a Portugal Telecom (PT) ter anunciado a criação de um "operador de raiz lusófona líder" no seguimento da fusão com a operadora brasileira Oi, acabaria por ser vendida pela Oi à Altice no ano seguinte. Tudo graças ao investimento ruinoso de 897 milhões de euros na Rioforte, que não foi reembolsado pelo Grupo Espírito Santo (GES). Este buraco financeiro obrigou à separação do grupo PT em duas holdings: a PT Portugal e a PT SGPS (atual Pharol que ficou com a dívida da Rioforte e com 27,5% da Oi). Certo é que um investimento que custou à PT cerca de 3,7 mil milhões de euros sofreu uma desvalorização monumental em menos de três anos. E assim, passados pouco mais de um ano, o Grupo Portugal Telecom desapareceu tal como o conhecíamos.

O boato do processo de privatização da TAP e da ANA

Estes processos de privatização são frequentemente citados como um insulto à inteligência dos cidadãos, sendo que foram realizados sem qualquer transparência e sem qualquer respeito pelos contribuintes. No caso da TAP, o governo em gestão liderado por Pedro Passos Coelho aprovou apressadamente o caderno de encargos relativos à privatização, escolheu o comprador da TAP e obrigou o Estado Português a assumir o compromisso de uma dívida de 776,7 milhões de euros da empresa privatizada. No caso da ANA o Estado Português optou por abdicar de uma das empresas públicas mais rentáveis, que ano após ano gera dezenas de milhões de euros de lucros para os cofres do Estado. Ou seja, ao privatizar a ANA o Estado Português renuncia a um instrumento ativo de consolidação das finanças públicas.

Fora os boatos ficam os factos, com as privatizações os sucessivos Governos da República hipotecaram sectores estratégicos nacionais e promoveram monopólios naturais. Certo é que os valores arrecadados com os processos de privatização não resolveram absolutamente nada, apenas garantiram que todos iremos pagar mais pelos os serviços prestados e quando as coisas correrem mal, mais uma vez, todos teremos que pagar pelo prejuízo acumulado.

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Imagem de capa de LEONHARD FOEGER/REUTERS