27 Abril 2021      10:21

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Blockchain, o novo “Novo Mundo”

Blockchain, Bitcoin e Criptomoedas, são três termos que já começam a não ser possíveis de evitar, até pelos menos atentos. É já comum ouvirem-se ocasionalmente estas expressões nos vários meios de comunicação, no entanto, a informação que nos vai chegando atualmente ainda peca pela escassez e superficialidade. O desconhecimento da sociedade face a estes temas é ainda muito acentuado, havendo consequentemente uma postura de desconfiança e cepticismo quando se fala do assunto.

É impossível ignorar um facto tão relevante como o valor actual da Bitcoin, um activo 100% digital e descentralizado, não sendo gerido ou regulado por nenhuma entidade unitária, como um governo ou um banco central, valor esse que recentemente atingiu um máximo histórico de cerca de 50.000€ cada Bitcoin, e cujo valor de capitalização de mercado já ultrapassou largamente o banco com a maior capitalização de mercado no ranking mundial, o gigante J.P. Morgan Chase.

Tal valorização sustentada já está a fazer com que os gigantes da banca mundial apontem os seus faróis à Bitcoin e ao mundo das criptomoedas. Goldman Sachs, J.P. Morgan Chase e Morgan Stanley são alguns desses gigantes que assumiram já estar a desenvolver soluções de investimento envolvendo Bitcoin, bancos esses que, há quatro anos, preconizavam a Bitcoin como uma fraude e uma bolha, hoje, olham para ela como uma oportunidade de negócio indeclinável.

Todavia, há mais. A questão central deste artigo é a Blockchain, a tecnologia que sustenta a Bitcoin e as demais criptomoedas. Cada criptomoeda tem a sua própria blockchain, e o que é a blockchain? Em termos muito genéricos, é uma tecnologia que permite construir uma base de dados em cadeia que, cada vez que uma nova informação é adicionada, essa informação fica nessa cadeia para sempre e é totalmente impossível de alterar a informação que lá consta. Em termos ainda mais genéricos, é uma base de dados incorruptível, a informação que lá for colocada no dia 1 de Julho de 2021, vai lá estar, para todo o sempre, disponível sem que seja possível corrompê-la ou modificá-la.

Essa circunstância é a que permite garantir que cada Bitcoin só é transaccionada uma vez, como acontece com uma moeda normal, não é possível gastarmos duas vezes a mesma moeda de 1€, pois, o comerciante fica com ela na primeira transacção, na segunda, temos de gastar uma nova moeda, no mundo digital, é a tal blockchain que garante essa função de registar que a moeda foi gasta e saiu da nossa posse em tal dia, a tal hora, para tal destinatário. Informação que fica registada para sempre sem ser possível alterar. Tudo isto, sem que haja a necessidade de intermediação de um banco ou de uma instituição estatal central, tudo para que cada transacção seja feita de pessoas para pessoas directamente.

Especificidades à parte, é importante realçar que a Bitcoin surgiu como uma ideia alternativa à banca convencional de estrutura centralizada, às moedas centralizadas em desvalorização constante e às taxas e comissões bancárias, isto tudo em plena crise do “subprime” que gerou um colapso do sistema financeiro internacional, onde a credibilidade da banca andava na lama com a denúncia de esquemas de alta corrupção e situações insustentáveis de crédito malparado. Essa ideia alternativa visava anular os vícios da banca convencional com a sua tecnologia blockchain, de rede aberta (onde qualquer pessoa pode participar nela e ser seu utilizador), sem fronteiras (não sendo condicionada por nenhum país ou bloco de países, mas sim pelos seus utilizadores individuais ao nível mundial), neutra (resistente a interesses particulares), descentralizada (onde nenhum indivíduo ou entidade consegue tomar o seu controlo maioritário) e resistente à censura (onde não é possível alterar ou violar qualquer tipo de informação que já tenha sido registada no passado).

Em 2021, a realidade da blockchain já ultrapassa largamente a do conceito utilizado para sustentar a Bitcoin, sendo hoje possível criar ecossistemas inteiros numa rede descentralizada, são disso exemplo os projectos Ethereum, Cardano, Polkadot, EOS ou STEEM, onde é possível criar um produto ou serviço descentralizado, como é disso exemplo o Audius (uma aplicação que ambiciona competir com o Spotify), o Brave (um browser que ambiciona competir com o Chrome e o Firefox), a 1xBit (uma plataforma de apostas e casino on-line) ou a Uniswapp (serviço que ambiciona ser o Ebay do mercado de tokens digitais únicos (NFT’s), um mercado totalmente novo e virado para a geração Z e geração Alpha).

Como é notório, o universo blockchain é, neste momento, o ecossistema com o maior potencial de negócio e de criação de futuros unicórnios, uma realidade que já ultrapassa largamente o conceito Bitcoin (que não deixa de ser, ainda, o conceito de maior sucesso e com maior valor deste cripto-universo). A sua aplicabilidade, não só ao sector privado, mas também ao sector público, começará provavelmente a ser mais debatida e poderá não demorar a chegar o dia em que começaremos a ver entidades estatais a aplicar esta tecnologia muito mais resistente a corrupção, violações ou truncagens em sectores chave das estruturas estatais públicas.

Podemos apenas conjecturar como teriam sido geridos todos os bancos que nas ultimas décadas faliram, por motivos obscuros, se os seus gestores tivessem presente que existia uma base de dados que registava todas as operações do banco, sem que esta fosse possível apagar, alterar ou censurar para camuflar qualquer actividade menos lícita.

A tecnologia blockchain, embora ainda pouco falada e pouco conhecida, fará parte do nosso futuro, e a sua cripto-revolução ameaça mudar por completo a relação do indivíduo com o dinheiro, com o poder sobre os seus activos, e com a sua intervenção na sociedade civil.