O Alentejo é um dos membros fundadores de uma aliança global de regiões vitivinícolas, recentemente criada, que junta “pequenos e médios produtores”, negócios familiares e projetos sustentáveis, noticia o jornal Público.
Esta aliança, conhecida como The Global Artisan Vintners Alliance ou Global AVA, ou ainda, em português, Aliança Global dos Vinicultores Artesanais, inclui, para já, nove membros.
A ideia surgiu nos Estados Unidos da América (EUA), mais concretamente no condado de Alameda (Califórnia), que tem a indústria vitivinícola de Livermore Valley, um dos nove co-fundadores desta aliança, como a “menina dos seus olhos”, considerou David Haubert, supervisor do governo dos EUA em Alameda.
O responsável, que participou no encontro virtual de apresentação desta aliança, realizado no final da semana passada, foi o grande impulsionador da criação de uma rede que juntasse regiões de todo o mundo, com características em comum, de forma a que estas partilhassem entre si “as melhores práticas” e garantissem um futuro para os seus setores.
Este “sonho”, nas palavras de um membro da equipa de David Haubert, começou a tornar-se realidade há 18 meses, a nível regional, quando alguém da associação económica East Bay Economic Development Alliance (East Bay EDA) ajudou a estabelecer contactos em diversos países que já tinham sido considerados pelo condado de Alameda e pela Livermore Valley Winegrowers Association.
“Uma vez estabelecido o contacto com esses países e identificadas as regiões que melhor se enquadravam na filosofia da aliança, foi fácil”, considerou Lindsey Knight, do condado de Alameda, de acordo com o Público.
Entre os fundadores desta aliança encontram-se, para além de Livermore Valley, outras regiões vitivinícolas do continente americano. São elas a Texas Hill Country, dos EUA, que conta com “60 produtores de vinho” e recebe “1 milhão de visitantes” anualmente, a Chilecito, considerada “a terceira região vitivinícola da Argentina, depois de Mendonza e San Juan”, embora a uma distância ainda relativamente grande, Vale dos Vinhedos, a região da “primeira denominação de origem para vinhos brancos e espumantes no Brasil”, e Ensenada, Baja Califórnia, México.
A nível europeu, para além do Alentejo, fazem ainda parte a Dalmácia, na Croácia, que partilha com a Califórnia a variedade Zinfandel, Chinon, em França, onde nasceu a casta Cabernet Franc, e Badacsony, no Parque Nacional Balaton Uplands, na Hungria.
O primeiro encontro, que se realizou através da plataforma Zoom, ficou marcado pelas apresentações dos responsáveis regionais, bem como das próprias regiões. Entre as nove regiões, tanto se encontram comunidades de 30 produtores, como comunidades que já contam mais 100 ou mais operadores económicos, nota ainda o jornal.
Terem economias do vinho de dimensões semelhantes, partilharem o mesmo tipo de clima e terem “um desejo coletivo de partilhar as melhores práticas” foram os principais fatores que deram sentido a esta aliança.
“Para mim, se puder acrescentar, a chave está mesmo nas pessoas. Procuramos projetos emergentes, produtores que põem a mão na massa, adegas trabalhadas por famílias. Está aí a próxima explosão da indústria”, salientou David Haubert, citado pela mesma fonte.
O responsável reconhece que o setor do vinho tem vindo a enfrentar diferentes desafios, referindo-se à diminuição do consumo de vinho e de outras bebidas alcoólicas e “às mensagens da Organização Mundial da Saúde, que dizem que beber álcool não é seguro”.
“Uma das prioridades deste grupo é certificarmo-nos de que estamos a partilhar informação que é verdadeira. Beber vinho é um estilo de vida. Tem vantagens e, se for consumido sem moderação, traz problemas”, reconheceu.
Na sequência desta mesma ideia, Lindsey Knight recordou que, em diversas zonas identificadas pela ciência como sendo lugares habitados por comunidades que têm vidas mais longas (as chamadas “blue zones”), um dos fatores associados a essa longevidade é o hábito de “beber um copo de vinho por dia”.
A representação do Alentejo nesta aliança está a cargo da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), tendo o seu presidente, Francisco Mateus, sido desafiado para falar acerca da sustentabilidade. “Não é só o clima. Sim, podemos ter pouca água no Alentejo, mas temos de viver com isso. Mas não é só clima, é o resto também.”, considerou, acrescentando que a região do Alentejo “representa mais ou menos 25% do território de Portugal, mas a sua população é só de 400 mil pessoas. Temos de encontrar formas de a agricultura fixar pessoas. Temos de ser sustentáveis [em todas as frentes], de forma a que, digamos, daqui a 200 anos, ainda possamos estar a produzir vinho. E temos de procurar novos consumidores. A quem devemos explicar que não é só beber, queremos que as pessoas tenham prazer. O vinho é algo cultural também”, defendeu o responsável.
A região do Alentejo correspondeu desde o início ao que era procurado pelos americanos, quando consideraram a hipótese de criar a Global AVA, por todo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido em torno da sustentabilidade, com o Plano de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), que foi criado ainda antes do selo nacional de sustentabilidade, a ser uma referência nacional e internacional.
O presidente da CVRA crê que a integração do Alentejo nesta Aliança Global dos Vinicultores Artesanais poderá fazer aumentar a presença dos vinhos da região nos mercados internacionais e conferir uma maior visibilidade aos produtores.
A entrada de outras regiões “boutique” continua a ser considerada, uma vez que a direção executiva da aliança se encontra a desenvolver contactos nos EUA e em vários outros países, como Alemanha, Uruguai, África do Sul ou Nova Zelândia.
“Se tiverem uma região com as características que aqui enunciamos em mente e tiverem um contacto, falem connosco”, foi o desafio lançando por Lindsey Knight.
Foi também já revelado que a Global AVA vai organizar uma primeira conferência em junho, na Califórnia, com um programa composto por diversas ações e iniciativas abertas ao público. Até essa altura, cada uma das regiões vai ser desafiada a organizar um encontro online e a sugerir temas para serem discutidos nesse evento.
Fotografia de enoturismodocentro.pt