23 Junho 2015      13:39

Está aqui

VAI UM TINTO?

Numa das habituais leituras diagonais de artigos noticiosos, encontrei um título sobre vinhos que me interessou. Apregoava que era preferível vender caro do que vender muito.

Sendo eu um grande entusiasta e apaixonado por vinhos foi o suficiente para me inspirar a escrever esta crónica.

Tenho tido a sorte de acompanhar nos últimos anos este setor a nível profissional, contactando em grande proximidade com produtores e empresas da nossa região. Literalmente, a oportunidade perfeita para aliar trabalho e lazer!

Aprendi que o plantio da vinha na região do Alentejo data do período romano, sendo que as vinhas encontram-se na sua maioria plantadas em substrato geológico de rochas plutónicas (granitos, tonalitos, sienitos e sienitos nefelínicos).

Enquanto no passado imperava o modelo de organização em torno da adega cooperativa, hoje assiste-se cada vez mais ao modelo de organização da quinta privada, com estratégias próprias e diferenciadas - um pouco à semelhança dos “châteaux” franceses - e a uma aposta forte no enoturismo.

Trata-se de um sector bastante modernizado, tendo em geral as adegas do Alentejo estruturas produtivas modernas e atualizadas. Face à significativa melhoria na qualidade e ao aumento da quantidade de vinho produzido na região, o sector dos vinhos do Alentejo atingiu um lugar de destaque em Portugal e nos mercados externos.

Durante a última década, assistiu-se a um aumento significativo da plantação de vinha (cresceu 54% de 1997 a 2002), o que veio traduzir-se num forte aumento da capacidade de produção, sendo o volume de produção variável de ano para ano em função das condições climatéricas que influenciam cada colheita.

Se conjugarmos o aumento na capacidade de produção com alguma quebra de procura interna por força da retração de consumo, facilmente entendemos que a estratégia do sector deverá forçosamente passar pelo alargamento a mercados externos, seja em novos mercados seja pelo reforço da presença naqueles em que já se encontra. Constata-se que muitas das empresas do sector vitivinícola alentejano já estão a desenvolver iniciativas de captação de novos mercados internacionais, quer isoladamente quer por adesão a iniciativas coletivas.

A nível nacional, os vinhos do Alentejo mantêm a liderança em termos de quota de mercado, quer em volume, quer em valor, mas denota-se uma quebra generalizada nas quotas a favor de regiões com preço médio inferior.

Este setor tem pontos fortes como a qualidade reconhecida pelo consumidor e premiada a nível internacional, bem como a capacidade profissional dos enólogos e sua influência na qualidade dos vinhos produzidos. Abro um parenteses para referir que tendo em conta a quantidade de medalhas, qualquer dia, um vinho só poderá ser diferente se não tiver nenhuma medalha no seu currículo.

No entanto existem fortes ameaças que não se cingem à forte concorrência internacional e à carga fiscal e barreiras alfandegárias. Existe uma dificuldade de diferenciação do produto pela proliferação de marcas e excesso de produção.

De 2005 a 2010 o número de produtores certificados pela CVRA duplicou, aproximando-se dos 400.

A nível de marcas/referências existem mais de 1000, sendo que existem produtores que sozinhos têm mais de 30 marcas/referências.

Estive em Bordéus no ano passado e achei que o meu anfitrião fez um figurão ao pedir o vinho para o almoço. Com a maior das simplicidades pediu um Cabernet Sauvignon, detalhando ainda o ano e a sub-região. Só isto…

Se a fórmula deste setor pode ser resumida a: aumento produção, diminuição da quota de mercado interna e procura por mercados externos, esta dificuldade deve ser tida em consideração.

Até porque temos muitos produtores com os armazéns cheios de vinho ansiosos por vender. Será que vão preferir vender mais caro em vez de escoar a sua produção?