3 Abril 2015      13:14

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A Sciently é Made in Alentejo

Chama-se Dominika Trembecka-Lucas, tem 31 anos, é investigadora, consultora, comunicadora e jornalista. Nasceu em Cracóvia (Polónia) e apaixonou-se por Portugal quando estava a fazer o seu doutoramento. Vive em Vila Nova de Santo André (Sines) e é fundadora, com o Luciano Lucas, seu marido, da Sciently, uma agência de comunicação que tem como principais objectivos a melhoria da Transferência de Conhecimento e Comunicação da Ciência.   

 

Tribuna Alentejo: Sabemos que nasceu em Cracóvia mas queremos saber mais sobre si e sobre o seu percurso até chegar a Portugal.

Dominika Trembecka-Lucas: Nasci em Cracóvia onde morei até fazer 30 anos. Durante este período viajei bastante e completei os meus estudos.

Estudei em dois liceus em paralelo - o ​"​normal​"​ e o de música, onde aprendi a tocar piano e saxofone. Depois fiz​ ​o mestrado em biofísica. Logo de seguida fiz o doutoramento na biofísica celular... foram 10 anos de vida académica. Durante estes anos também dei aulas de esqui, porque a montanha e o esqui sempre foram grandes paixões.

 

 

Tribuna Alentejo: Com aconteceu essa vinda para Portugal? Teve que ver com a sua área de formação? Com entrou Portugal nos seus planos de vida? E porquê Sines?

Dominika Trembecka-Lucas: O meu encontro com Portugal começou durante o meu doutoramento. Como disse, viajava bastante. Aconteceu que, durante um curso de microscopia organizado pelo Instituto Gulbenkian ​de​ Ciência (em Oeiras), encontrei o meu futuro marido. Ele nesta altura estava viver em Inglaterra, mas pouco depois mudou para Cracóvia. Casámos e depois de eu acabar o meu doutoramento e do nosso filho nascer decidimos vir viver para Vila Nova de Santo André, onde ele viveu até acabar os liceu e onde os meus sogros ainda moram.

 

 

Tribuna Alentejo: Que ligação tem este projecto à sua formação académica? Opera em que mercados? Apenas cá ou fora do País?

Dominika Trembecka-Lucas: A ideia da empresa nasceu durante os últimos meses do meu doutoramento, há dois anos atrás. Nessa altura participei em várias conferências internacionais para apresentar o meu trabalho e percebi que, em geral, cientistas têm uma grande dificuldade em dizer o que fazem de forma perceptível pelo público em geral ou até por cientistas de outras áreas do conhecimento.

Num mundo altamente "online" em que vivemos, a principal forma de comunicação da ciência ainda é através de publicações científicas (por exemplo, Nature, Science, Lancet) - o mesmo método usado desde o século XIX... muito antes da internet. Hoje em dia existem formas de comunicação muito mais eficazes, imediatas e acessíveis do que publicações científicas.

A Sciently tem como principais objectivos a melhoria da Transferência de Conhecimento e Comunicação da Ciência. Penso que é muito importante que o público em geral perceba para que servem os fundos (que vem dos impostos de todos nós) investidos na investigação científica. Mas para isso acontecer é preciso que as descobertas científicas sejam comunicadas num formato adequado ao mundo de hoje e com conteúdo específico para cada público. A Sciently também presta serviços de consultoria empresarial e formação profissional/empresarial (tudo nas áreas das ciências e novas tecnologias).

A empresa foi fundada por mim e pelo meu marido (também formado, PhD, em ciências), e temos 8 colaboradores (todos doutorados em várias áreas das ciências) espalhados um pouco por todo o mundo ocidental. Temos clientes na Europa, e ​América do Norte.

 

 

Tribuna Alentejo: Que cuidados especiais merece a comunicação na área das ciências? Como é diferente da comunicação das outras áreas?

Dominika Trembecka-Lucas: A comunicação na área das ciências é difícil, porque o nível de conhecimento dos cientistas e o nível de conhecimento das pessoas não ligadas as ciências é muito diferente. Por isso os cientistas frequentemente não conseguem explicar o que estão a fazer ou descobrir.

É essencial explicar o que se fez e descobriu de uma forma simplificada mas ao mesmo tempo correta do ponto de vista científico. Este problema existe também dentro das universidades - a formação de cientistas dá pouca importância á comunicação sem uso de termos técnicos de forma a que cientistas de outras áreas, o publico, ou potenciais investidores em novas tecnologias entendam os temas abordados.

São bem formados para fazer investigação, perguntar e discutir (e assim têm que ser pois sem isto a ciência não existiria). Mas a comunicação não é menos importante. Como disse o Sir Mark Walport "Science is not finished until it´s communicated" .

Tribuna Alentejo: Que dificuldades empresariais sentem no País? Que pode ser feito para termos mais empresas e mais empresários?

Dominika Trembecka-Lucas: A nossa empresa é muito nova por isso é difícil neste momento dizer algo sobre dificuldades no País. Já percebi que os impostos são elevados e que há coisas que não correm bem. Vamos ver tudo isto com o tempo. No entanto, sabemos que ter dificuldades faz parte do processo e não é isso que nos vai desanimar. Para além disso, os nossos serviços são prestados principalmente para instituições estrangeiras logo estamos algo "livres" dos problemas económicos locais.

Existem muitos empreendedores no Alentejo. No início deste ano criamos o Open Coffee Alentejo (OCA) e de reunião para reunião sinto o nível de energia a aumentar.

O OCA foi criado para ajudar todos nós a fazer melhores negócios, a partilhar ideias e trocar experiências, contactos e ferramentas de trabalho. Para o bem da região e das suas pessoas é importante estimular o espirito empreendedor e ajudar os interessados a criar as suas empresas - ensinar como começar, dar apoio neste caminho que só as vezes e agradável, mas que muitas vezes pode ser também difícil e frustrante. É importante sentir que há pessoas com vontade de ajudar.

Tribuna Alentejo: O que pode dizer àqueles que querem começar um negócio ou que têm uma boa ideia mas não sabem como fazer dela um negócio.

Dominika Trembecka-Lucas: Só posso partilhar o que eu senti - na vida há momentos para começar e acabar coisas. Criar uma empresa não e fácil, mas para quem sente que é isso que quer para si, a única opção é tentar. Existem pessoas e instituições (Sines Tecnopólo, NERE e PCTA em Évora, etc.) que podem ajudar, é só perguntar, investir no networking (rede) e trabalhar muito - é o essencial.

Bons negócios!

 

Nota do Tribuna Alentejo: A Dominika Trembecka-Lucas é também promotora do Open Coffee Alentejo, uma iniciativa que junta ideias, investidores, empreendedores e empresários e ajuda a lançar projectos empresariais na região.