28 Março 2015      13:34

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RUI NABEIRO

Rui Nabeiro, um nome incontornável do Alentejo, celebra 84 anos.

Foi a 28 de março de 1931 que Manuel Rui Azinhais Nabeiro nasceu, em Campo Maior, no seio de uma família humilde que se sacrificava para que os filhos pudessem ir à escola. Numa entrevista à revista das Seleções do “Readers Digest”, em 2002, disse: “A escola deu-me uma certa vivacidade e um certo querer pela vida.”

Trabalhou onde havia trabalho: vendeu peixe, foi pregoeiro, tudo para ajudar em casa: “Nasci, cresci e vivo para o comércio (…) Hoje tenho a certeza que foi a mercearia da minha mãe que ditou a minha vocação de empresário”. Aos treze anos, após deixar de trabalhar na mercearia, juntou-se ao pai e ao tio no negócio do café. Ter trabalho no interior, à época como agora, era difícil e um privilégio.

Aos 19, após o falecimento do seu pai, assumiu a direção da empresa Torrefação Camelo, Lda. e, de uma pequena empresa com cerca de 50 metros quadrados, deu início à construção do império do café que hoje se conhece.

Após algumas alterações e evoluções na empresa, e numa estratégia que o próprio empresário define como “passos curtos, mas certos”, a meados do anos 70, nasce a marca Delta e a empresa não só se consolidou como iniciou um processo de expansão que hoje toca 35 países como a Bélgica, França, Luxemburgo, Reino Unido, Alemanha, Canadá, Brasil, Angola e um pouco por onde quer que haja portugueses. As exportações representam cerca de 25% do volume de negócios.

“Os primeiros tempos foram difíceis” - disse ao site ceolusofono.com, no ano passado - “A falta de meios próprios para assegurar a cobertura do mercado exigiu muito trabalho, método, disciplina e grandes doses de sentido de oportunidade. Houve momentos decisivos. Momentos em que foi necessário manter a frieza e o sentido prático para garantir o crescimento da Delta”.

Expandiu também a variedade de negócios que abrangem agora áreas como os vinhos, distinguidos recentemente com quatro medalhas no International Wine Challenge 2015, como o Tribuna Alentejonoticiou no início deste mês, o azeite, o imobiliário, a indústria, serviços, comércio, hotelaria, distribuição, entre outras, como a produção de uma máquina de café própria, a “Mayor”, num investimento superior a um milhão de euros.

A marca Delta e o nome Rui Nabeiro são dois nomes incontornáveis da Economia e Sociedade alentejana. Há poucos dias, um estudo elegia o empresário campomaiorense como o empresário em quem os portugueses mais confiam.

E não é por acaso. Nas suas empresas trabalham pessoas de vários locais, aproximadamente 3000 pessoas, estando aproximadamente metade em Campo Maior, e refere Rui Nabeiro que “Eu não trabalho para mim, nem quem trabalha para mim trabalha para eles próprios, nós trabalhamos uns para os outros”, criando uma noção de pertença e satisfação no trabalho raras em empresas tão grandes.

Defendendo que não há nada melhor na vida que as pessoas saberem acarinhar, a humildade, a simplicidade, as lembranças de quem subiu a pulso na vida e o respeito pelo trabalho e pelas pessoas fazem com que, quer a funcionários, quer a fornecedores, quer a clientes, o Comendador Rui Nabeiro trate com igual respeito: “fazer de cada cliente um amigo e de cada amigo um cliente”.

A primeira pessoa a chegar à empresa é ele, bem cedinho, para dar o exemplo e se acha que por si só isto é insuficiente para tanto elogio e distinção a este alentejano, Rui Nabeiro e as suas empresas fazem questão de apoiar associações, coletividades, projetos e outras manifestações sociais que a eles se dirijam em busca de patrocínios e auxílios quer monetários, quer materiais.

Mas também no estrangeiro o nome Rui Nabeiro representa solidariedade, como foi o caso, em 2002, do projeto “Um Café por Timor” - por cada embalagem de Café Delta Timor parte do dinheiro revertia para construir escolas e estruturas básicas em Timor.

A Delta foi também a primeira empresa nacional a conseguir uma certificação em Responsabilidade Social e Alice Nabeiro, esposa, lidera a associação “Um Coração Chamado Delta”, que coloca em prática a forte aposta da empresa na responsabilidade social e, em 2007, foi inaugurado o Centro Educativo Alice Nabeiro, para dar resposta às necessidades extraescolares das crianças de Campo Maior.

Por isso, pelos pequenos gestos ao longo de todos estes anos, a marca Delta e o nome Nabeiro criaram uma relação intrínseca com o Alentejo e o alentejano, existindo uma confiança cega nesta marca, na sua qualidade e no exemplo do homem que a lidera. 

Mas a vida de Rui Nabeiro também conta com batalhas políticas.

Em 1972, ainda durante o Estado Novo, assumiu presidência da Câmara Municipal de Campo Maior, o que víria a fazer por via eleitoral, já no pós-25 de abril, em 1977 e onde se manteve até 1986.

Da perspetiva de Rui Nabeiro, foi o cumprir de serviço público; era necessário na época e ele assumiu.

Quando perguntam qual a razão do sucesso, ao longo de todos estes anos, responde pondo a enfase no trabalho, no inconformismo. Mas assume também que “ninguém faz nada sozinho”.

Em 1995, foi distinguido pelo Presidente da República, Mário Soares, com o grau de Comendador da Ordem do Mérito Empresarial e, em 2006, Cavaco Silva atribuiu-lhe o Grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

Mas foi em 2008 que a população campomaiorense e alentejana o homenageou-o com uma estátua em bronze, da autoria de Laureano Ribatua. Rui Nabeiro disse então que essa estátua, erguida pelo povo, no centro de Campo Maior era mais significativa que a comenda que lhe havia sido entregue por Mário Soares.

Em 2002, foi apresentada a biografia de Rui Nabeiro, intitulada O Homem. Uma Obra – a de Rui Nabeiro, da autoria de Tereza Castro Ribeiro Reis. 

Rui Nabeiro foi ainda nomeado presidente honorário do Sporting Clube Campomaiorense e, em 2008, foi criada a Cátedra Rui Nabeiro, na Universidade de Évora, para apoiar a pesquisa, ensino e divulgação na área da Biodiversidade, naquele que foi a primeira cátedra financiada por privados em Portugal.

Face a estas distinções e outras, Rui Nabeiro responde com a humildade característica: “Uma pessoa não pode desviar-se de uma conduta equilibrada.”

O legado empresarial de Rui Nabeiro é um exemplo e uma marca, não só do norte alentejano, mas de todo o Alentejo e até país.

Na conferência da revista Exame, no ano passado, o empresário alentejano lamentou-se quanto à situação social do país: "Nem com a minha idade as pessoas se reformam.”

Mas concluiu com uma mensagem de esperança: 

"O homem sempre que sonha nunca atinge aquilo que realmente sonhou. 

Ainda tenho sonhos, sonhos de criar mais. Não fiz tudo o que sonhei."