27 Agosto 2015      11:00

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QUERIDO EMIGRANTE, É MUITO MAIS QUE UM ADEUS

O Verão já vai para finados e não podia deixar de evocar neste período estival o nosso querido Emigrante.

 Conheço, infelizmente muitos portugueses que mais ou menos forçosamente decidiram procurar um novo rumo para as suas vidas. E esta escolha que muitas vezes não é mais que uma imposição ditada pelas suas mais básica necessidades e direitos, influencia tanta coisa, não apenas na vida particular do emigrado, mas da conjuntura económico-social do seu pais de origem.

A crise, essa malfadada circunstância de que padecemos ad aeternum, levou-nos novamente e a uma vaga impressionante de emigração que, terá retirado das estatísticas oficiais do país desde 2011 a 2014 aproximadamente 484000 portugueses [PORDATA 2015] para o estrangeiro. Importa ainda assim dar nota de uma pequena/grande configuração desta massa populacional que se foca na distinção entre emigrante permanente e emigrante temporário que neste período ascende aproximadamente aos 275000 do valor total supracitado. Ou seja, sem prejuízo do gravoso fenómeno de êxodo populacional do país, há uma maior aproximação dos emigrantes lusos para com o seu país de origem. Provavelmente este facto estará relacionado com a facilidade de deslocação que outrora era muito diferente e da necessidade de neste mundo global cada vez mais os jovens terá o ímpeto de conhecer países terceiros para melhor enfrentarem o temido mercado de trabalho. Isso é por demais evidente nas universidades nacionais com os programas de mobilidade, tais como o Erasmus. A própria União Europeia e a abolição de fronteiras em muito contribuiu para uma mobilidade de quadros entre os vários países membros, nunca vista antes. E este mundo e mercado global, em certa medida combateram assimetrias regionais e culturais. Se em Portugal era bem mais evidente o risco na emigração da região norte, onde o seu contingente arriscava para países distantes e, muitos dos quais sem afinidades culturais com Portugal, o Alentejo passou muito tempo aparte deste fenómeno, havendo alguma migração para a margem sul. Hoje, tanto emigra o minhoto, como o alentejano para qualquer região do globo terrestre.

E além da crescente importância do estatuto de emigrante temporário no contingente global da emigração nacional, parece-me oportuno dissertar um pouco sobre as virtudes que todo este caudal humano no exterior podem dar ao país. Não, não falo apenas das remessas de capital que estes enviam para Portugal, robustecendo a capacidade da banca e fornecendo maior financiamento ao país. Falo de muito mais. Falo da sua enorme capacidade de adaptação, resiliência e empenho num mundo altamente competitivo, dando inequivocamente sinal da qualidade do nosso ensino superior, pois o grosso deste contingente, alem de jovem é habilitado de cursos superiores. Quem não ouve recorrentemente na imprensa estrangeira e nacional falar da qualidade técnica e humana dos nossos enfermeiros na Alemanha e Inglaterra, da mais vasta panóplia de engenheiros radicados em África, de juristas e advogados em Macau, cientistas na UE e demais instituições, banqueiros dos melhores bancos do mundo, de famosos treinadores e jogadores de futebol, etc?  Temos recursos humanos de excelência espalhados pelo mundo inteiro e isso, é fruto da capacidade técnica e formativa do nosso país, aliadas à cultura e mentalidade de Portugal. Temos através de todos estes emigrantes, disseminados por todos os continentes, pequenos embaixadores da nossa riqueza e cultura, do nosso saber, do nosso empreendedorismo, da nossa resiliência e capacidade de adaptação a novas realidades, e tudo isso é impagável, torna-nos num povo simpático, tolerante, caloroso e trás imensos dividendos a médio prazo, inclusivé o anseio de muitos quererem conhecer in loco a origem deste povo acolhedor. O facto de sermos visto como um povo pacífico e um país apetecível para visitar ou residir é também fruto da imagem que os emigrantes levam até aos seus países de acolhimento. O emigrante traz consigo essa marca, mas leva também na bagagem, a promoção e difusão da língua portuguesa, a nossa gastronomia, a cultura grosso modo.

O nosso emigrante através das suas vindas constantes ao seu país, traz-nos a realidade que vive diariamente, mostra-nos novos horizontes, elucida-nos sobre projectos, ideias, actividades comerciais, questões sociais que antecipadamente podemos processar e adaptar ou implementar no nosso país, sempre com o intuito de podemos estar na vanguarda do progresso económico-social e termos um espaço mais aberto e democrático. O emigrante pode dar-nos uma leitura mais equidistante até da nossa própria conjuntura política e económico-social como observador, olhando para o quotidiano de Portugal com outras lentes que nós, por estamos no centro do processo, podemos ignorar naturalmente. Todo este potencial, todo este valor humano acrescentado tem de ser melhor gerido, tem de ser optimizado e, Portugal deve fazer por que os nossos emigrantes possam sentir-se mais orgulhosos do seu país e, se um dia assim o desejarem que os possa acolher novamente. Não podemos convidar simplesmente os desempregados de Portugal a encetarem uma vida no exterior, até porque as nossas universidades e escolas tem como função primordial formar pessoas e profissionais para desenvolverem os seus recursos cá. Não é de todo despiciendo investir na educação, gastar incalculáveis recursos humanos e financeiros na formação de jovens altamente qualificados e depois convidá-los a sair, a emigrar?

Parece um contra-senso, uma assunção da fraqueza de um Governo. Como deve um Governo fazer mais pelos seus cidadãos e valorizar, numa segunda fase os seus emigrantes, também podem estes contribuir para tornamos este país mais desenvolvido, mais inclusivo, mais aberto às galopantes mudanças económico-sociais vividas no século XXI. Portanto o Governo de um país com forte emigração, deve em primeiro lugar criar condições económicas favoráveis para a criação de novos empregos e fixação da sua população activa, deve também adaptar a sua capacidade formativa às reais necessidades do país, para não criar falsas expectativas aos jovens licenciados e, numa última instância, colaborar assertivamente com todo o contingente de emigrantes, seja por via de canais internos como da Secretaria de Estado das Comunidades, das embaixadas espalhadas por esse mundo fora, do Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora, do Conselho da Diáspora Portuguesa criado em 2012, quer numa perspetiva mais lata, com a CPLP – Comunidade de Países de língua Oficial Portuguesa e com a UE. Ao emigrante pede-se que se envolva mais directamente no processo económico-social do seu país, e até no processo político. O emigrante deve opinar, deve envolver-se nas eleições de Portugal, pode dizer basta às injustiças e assimetrias do país. Não é por ter sido obrigado a sair, que se aligeira a causa da sua pátria, o amor pelo seu país e Portugal e os Portugueses tem de saber reconhecer o papel importantíssimo deste potencial humano na afirmação deste capital.

O emigrante e a causa nacional é muito mais que as meras celebrações do 10 de Junho, dia de Portugal, de Camões e Comunidades e esta temática deve ser uma prioridade na próxima legislatura.

Quanto aos emigrantes, devem saber que o país reconhece o seu insubstituível e relevante papel, pelo que a sua viagem para outros territórios não deve ser vista como um simples Adeus, mas como um Até Já!