30 Setembro 2015      14:57

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PAULA ELIAS

TRIBUNA ALENTEJO (TA) - Porque é que aceitou candidatar-se à Assembleia da República?

Paula Elias (PE) - Porque é preciso apresentar ideias e propostas alternativas. Ajudar a criar uma outra consciência que nos una num caminho de mudança que garanta a Paz. Porque é preciso dar voz a outra visão do homem e da sociedade, no centro da decisão nacional. Porque é preciso falar de coração para coração, usando a razão.

Vivemos num tempo de transição entre dois mundos, ou se quiser, entre paradigmas. Dentro deste velho mundo que conhecemos e que está a colapsar, um outro mundo está a nascer. Podemos vê-lo como uma utopia, mas não é. É real e orienta-nos no caminho para o desenvolvimento. Este mundo está a nascer, dentro de cada um de nós e a refletir-se à nossa volta. As mentes da grande maioria das pessoas e nomeadamente da classe política não o consegue ver, mas nos seus corações, ele já é uma realidade.

É preciso dizer a cada um dos dirigentes políticos que escutem o planeta que grita pela dor que sente. A dor das florestas, dos oceanos, dos animais, das pessoas, a dor que todos nós sentimos com a destruição a que estamos a ser sujeitos, incluindo a dor das gerações futuras que ainda estão por nascer e que têm direito à felicidade, ao bem-estar e a uma casa, que é o planeta. Como diz o Papa Francisco, a nossa Casa Comum.

É preciso dizer na Assembleia da República, que cada um dos dirigentes políticos do nosso país, é capaz de fazer diferente, que é capaz de sair do registo de dependência e do medo em que se encontram e que os leva a viver aprisionados aos interesses de cada partido e dos lobys financeiros e económicos, nacionais, europeus e mundiais.

É preciso dizer que podemos construir uma verdadeira democracia, um país onde as pessoas e os seres vivos podem ser respeitados na sua dignidade, onde todos podem ter acesso a uma educação que incentive o AMOR, a criatividade, a solidariedade, a responsabilidade, a alegria, a felicidade. Onde todos têm acesso aos meios de subsistência e podem trabalhar, partilhando os seus dons para o bem comum e fazendo o que verdadeiramente gostam. Onde todos temos tempo para o que consideramos importante nesta vida.

Já alguma vez se perguntou, se tivesse 2 meses de vida, o que faria? De vez em quando coloco esta questão às pessoas e as respostas mostram bem que as relações entre as pessoas, o bem-estar físico e emocional, o ter tempo para descobrir o mundo, escutar e ajudar o outro, e fazer algo edificante para si e para os que o rodeiam, é uma constante das respostas.

Este mundo em que vivemos hoje, é fruto de um modelo de desenvolvimento económico que assenta no crescimento ilimitado à custa dos recursos limitados do planeta, das desigualdades sociais e económicas, das guerras, da escravatura e da exploração a qualquer custo, da falta de respeito por todos os seres vivos, do egoísmo, da destruição do planeta e da destruição da dignidade das pessoas. Este modelo está falido, este caminho está a acabar.

Eu estou a fazer o que sinto ser, a minha parte nesta fase de transição.

 

TA - Que diferenças existem entre esta candidatura e as restantes?

PE - É uma candidatura que visa a consciência e a mudança da acção no médio e longo prazo. Penso que pelo que foi dito anteriormente, é fácil ver o que distingue uma candidatura PAN – Pessoas, Animais e Natureza, de todas as outras, quer no país, quer mais especificamente no distrito de Portalegre.

Tal como a grande maioria dos candidatos eu não sou do distrito, mas a partir do momento em que aceitei o desafio, enquanto companheira de causa do PAN, integrando as listas pelo círculo de Portalegre, eu sabia que tinha de vir para o distrito e falar do que acredito. Não conhecia ninguém mas sabia que apenas tinha de confiar na vida e ser eu própria. Ser aquilo em que acredito.

Desde o dia 1 de Setembro que estou a viver no distrito, dormindo em casa de pessoas que vão surgindo e que, no círculo da dádiva, numa total generosidade e simplicidade me abrem as portas.

Haverá mais algum candidato a fazer isto, no distrito? No país? As pessoas pensam que sem dinheiro não se pode fazer nada. Os dirigentes políticos e institucionais insistem em dar as velhas respostas aos novos desafios que estamos a viver. É possível fazer diferente.

É preciso sair deste ciclo viciado e mostrar outras perspetivas de ver a realidade e o mundo em que vivemos. É preciso UNIR em torno de uma causa comum a todos. Todos queremos ser felizes, respeitados, sentir que fazemos parte integrante e ativa da sociedade em que vivemos. Todos queremos – mesmo que só no plano inconsciente - construir um mundo melhor para todos.  Todos queremos ter alimentos bons para comer e ser saudáveis. Queremos ter tempo uns para os outros e fazer o que gostamos. Queremos que a escola seja um lugar prazeroso para todos – professores, funcionários, pais e alunos -, que os nossos filhos não sejam obrigados a ir embora da sua terra ou do país. Queremos que os nossos idosos sejam respeitados e tratados com dignidade. Queremos que as politicas sociais ajudem a dignificar as pessoas envolvidas e a empoderá-las para a vida. Queremos que os nossos netos e bisnetos nasçam num país onde possam verdadeiramente ser crianças, brincar descobrindo um país com água potável, com capacidade de disponibilizar alimentos e energia para todos de forma sustentável. Um país com uma outra forma de organização verdadeiramente democrática e que coloca os seres vivos e o planeta no centro das suas políticas.

Uma candidatura PAN mostra que isto é possível. Mostra que é preciso mudar e que a mudança começa dentro de nós. Mostra que este mundo está ao alcance de todos nós e que só é preciso acreditar e trabalhar em conjunto.

Em síntese, uma candidatura PAN é uma candidatura que convida as pessoas a encarar a crise atual e que vai acentuar-se ainda mais, como as “dores de parto” deste novo mundo que está a nascer. Convida-as a sentirem dentro de si este novo mundo, a sonhá-lo. Convida-as a acreditar, a confiar, a ter esperança e a juntarem-se. É uma candidatura que mostra o melhor de cada um de nós e que mostra o que já se faz nesse sentido. E em Portalegre já muito se está a fazer. Estão de parabéns pela coragem e persistência.

 

TA - No seu entender, quais são os pontos fortes e fracos do Alentejo?

PE - De uma forma muito simples os pontos fortes e fracos do Alentejo são as PESSOAS. São sempre as pessoas. Cada um de nós tem em si a capacidade de se autolimitar e condicionar, mas também tem a capacidade de despertar, Ser, estar e fazer diferente. 

É claro que poderia dar outro tipo de resposta. Poderia começar a discorrer sobre aquilo que globalmente se consideram ser os pontos fortes e fracos do Alentejo e inclusive os obstáculos e as oportunidades externas que podem ajudar a reforçar os pontos fortes e a transformar os fracos em fortes. Tecnicamente falamos duma análise SWOT e podem-na encontrar nos vários documentos estratégicos para o Alentejo e para o distrito em particular, quer provenientes dos diversos ministérios, quer das Comunidades Intermunicipais, quer ainda das diversas Redes Sociais, ao nível de cada concelho. Não o vou fazer. Todos os sabem, quer porque leram estes documentos que inclusive norteiam (e condicionam) a captação de financiamentos para o Alentejo, quer porque o comum dos cidadãos, como eu, os sentem na pele e os vivem no seu quotidiano.

Os documentos estratégicos que norteiam a intervenção territorial e consequentemente os financiamentos que vêm para o Alentejo e para o país, em geral, radicam sempre na mesma visão: o crescimento económico a qualquer custo. Marcas diferenciadoras, Competitividade, Internacionalização, Ganhar Escala para a negociação e Coesão Social são as grandes linhas mestras. Pelo meio um pequeno espaço para a inovação que ainda assim, acaba por estar geralmente ligada ao incentivo para o surgimento de pequenas empresas de tecnologia de ponta. Desenham-se as mesmas ações de formação de sempre para ocupar os milhares de desempregados e prepará-los para postos de trabalho que não existem.

Não tenhamos ilusões. Este modelo económico está a colapsar e tudo está a mudar muito rapidamente.

É preciso prepararmo-nos para estas mudanças que já estão a acontecer. É preciso dizer basta! É preciso acordar para uma outra realidade, para outras respostas, para outra visão do mundo e da sociedade que queremos construir. E por isso as PESSOAS. Só elas serão capazes de ultrapassar os seus próprios limites construídos por crenças que sempre foram ouvindo sobre si, sobre os outros e sobre o que está ao nosso alcance fazer.

Sei que estamos todos muito cansados do mesmo, mas temos que arregaçar as mangas e juntarmo-nos. Temos de aprender a pensar e a fazer diferente.

 

TA - Ainda se justifica utilizar os termos “esquerda” e “direita” em política?

PE - Falar em «esquerda» e «direita», assenta na separação, na divisão, no espartilhar das pessoas e dos contextos. Faz parte do jogo. No mundo que já está a nascer, não. Não faz qualquer sentido.

Aqui falamos da CAUSA que é de todos, falamos dos valores que lhe são intrínsecos e falamos da união em torno da mesma. Aqui as divisões dentro e fora de nós tendem a dissipar-se com o tempo, porque este mundo que está a nascer não radica na Separação. Eu sou una dentro de mim, em todas as minhas dimensões – biológica, psicológica, social, ecológica e espiritual – e por consequência sou una com o outro, com o planeta e até com o universo.

Parece complexo? Mas não é. Vamos lá chegar!! 

 

TA - Portugal virado para a Europa e para a União Europeia, ou não?

PE - Portugal é um país de criação de pontes, de união, de diálogo, de entreajuda, de fraternidade. Um país que acolhe e permite ser-se acolhido. Portugal é um país que já levou diferentes mundos ao mundo e que tem por isso a capacidade de se encontrar e fazer o que precisa de ser feito. Há medida que formos sendo capazes de despertar deste sono que nos amarra e entorpece, no qual a pequenez, a ignorância e o medo, nos sugam toda a nossa energia; há medida que formos capazes de ir mais além dentro e fora de nós, vamos ser capazes de recuperar a verdadeira Liberdade e aí..... não tenha qualquer dúvida,  Portugal estará sempre virado e aberto verdadeiramente  para o mundo e consequentemente para a Europa, porque quando aí chegarmos estaremos fora do domínio dos interesses individuais, financeiros e económicos, e não mais será possível uma Europa a várias velocidades completamente subjugada a grupos que pensam que governam o mundo.

 

TA - Regionalização: sim ou não?

PE - Neste mundo e no contexto tal como o conhecemos, sim, na medida em que poderia permitir um olhar mais focado na região e a definição de políticas mais adequadas ao seu desenvolvimento. Mas também neste Portugal de hoje, isto implica imediatamente engordar as despesas do Estado com os lugares que terão de ser  (ainda mais) criados para encaixar os “amigos” ou pagar favores políticos. Implica lutarmos uns contra os outros, competirmos uns com os outros e mais uma vez, isto não resolve o problema porque o país é um só, tal como a nossa Casa Comum.

No mundo que já está a nascer, nada disto faz sentido. Nos próximos anos a Vida vai-nos obrigar a sair da nossa “casca”, do nosso “quintal” e vai-nos convidar a ver a interdependência que existe em todos os seres vivos e sobretudo vai-nos mostrar que o que acontece do outro lado do mundo, rapidamente nos pode chegar ao “nosso quintal”.  A vaga de refugiados a que neste momento assistimos é apenas um exemplo disto que falo. Uma pontinha do iceberg.

Há menos de um mês, em conversa com um colega de trabalho ele dizia-me que eles estavam lá longe e que nunca chegariam a Portugal, isto a propósito do facto de ele me dizer que quase nada no mundo estava a mudar e que as catástrofes eram só lá fora. Pois bem, nem um mês passou e os refugiados que ele via na TV e que acreditava que nunca lhe viriam “bater à porta”, neste momento já vão entrar no concelho onde habita, sendo que como ele está ligado ao município, provavelmente terá este assunto em mãos.

Tudo está a mudar. Nós estamos a mudar. O «mundo velho», tal como o conhecemos, está a acabar naturalmente. Não é preciso ter medo. Vamos passar por momentos difíceis, mas se formos capazes de dar as mãos e escutar o coração, juntos vamos conseguir ultrapassá-los e descobrir uma força que nem imaginávamos ter.

                                                                                                                                             

TA - Se pudesse fazer um só projeto pelo seu círculo eleitoral, qual seria?

PE - Poderia responder rapidamente aquilo que todos de certa forma estão habituados a ouvir, mas mais uma vez não o vou fazer. Quero ir ao fundo da raiz. Estamos em fase de grandes mudanças e é preciso facilitar a criação de condições para que o nascimento do novo mundo possa ocorrer sem tanta dor e sofrimento.

A esperança não se ensina, mas pode-se ajudar a redescobri-la dentro de cada um, e por isso, o projeto poderia ser a Academia da Esperança, uma «escola em rede» de todas as povoações para definir pequenas ações comunitárias que melhorassem o nosso dia-a-dia e nos ajudassem a viver bem com menos dinheiro, em cada lugar, e nos permitisse continuar a descoberta dos dons incríveis que tem cada um de nós ao serviço do Bem Comum. Todos somos corresponsáveis pelo bem-estar de todos, sejam pessoas, animais ou plantas (e demais natureza).

O PAN é uma plataforma de encontro e convergência de pessoas que se reconhecem numa causa que é de todos e que em síntese se resume a três grandes ideias: i) a Felicidade e o Bem-Estar de Todos, sem excepção; ii) o respeito pelos animais e pela natureza; iii) a preservação do planeta para as gerações futuras.

Reconhecendo o que nos une e com toda a nossa dedicação, vamos fazer o que preciso de ser feito, começando pelo que está ao nosso alcance, qualquer que seja o nosso ponto de partida - economia, educação, saúde, justiça, cultura, finanças, trabalho, segurança social, participação cidadã, entre muitos outros.

Diz o ditado, “caminha e o caminho se revelará”. Temos de aceitar que vivemos tempos desafiantes. Sabemos que onde estamos já não serve, mas não sabemos por onde caminhar. Daí a importância do encontro, do debate, da redescoberta de uma consciência coletiva, do foco na sociedade que queremos.

O PAN apresenta um conjunto de medidas nestas legislativas, que nos ajudam a lá chegar (http://legislativas2015.pan.com.pt/index.php/corporate-3/programa/) mas temos espaço para integrar todas as que ainda estão por emergir.

Sublinho, o poder está em cada um de nós. Estejamos ou não na Assembleia da República, todos nós temos o poder e a responsabilidade de fazer ouvir a nossa voz e fazer a mudança que se desenrola.

 

TA - Como vê o Alentejo em 2020?

PE - A Vida é muito mais que sermos escravos dos bancos, do consumo e do trabalho para pagar isto tudo com o despovoamento e o abandono dos mais velhos.

Vejo um Alentejo harmonioso onde as pessoas de dentro e de fora se encontram, partilham saberes e constroem em conjunto com todos, este mundo novo. Vejo um Alentejo a renascer, com novas ideias e mais Esperança, mais consciente e respeitador dos direitos de todos os seres vivos e mais unido, entre si.

Vejo um Alentejo com pessoas que começam cada vez mais a despertar e a amadurecer para o que são em essência e com uma grande capacidade de se adaptar às inúmeras mudanças que já ocorreram e por isso a encontrar novas respostas para os problemas causados por este sistema económico em colapso.

Vejo um Alentejo em que as pessoas que já desenvolvem projetos que refletem já este mundo que está a nascer - e que neste momento se sentem isoladas e sozinhas - vejo-as com muitas mais pessoas à sua volta e com muitos projetos a acontecer. Projetos ligados à autossuficiência alimentar, energética, à recolha de saberes ligados à agricultura, às plantas medicinais, aos diversos ofícios (construção, tecelagem, sapataria, olaria, entre muitos outros), à alimentação assente numa dieta cada vez mais saudável e equilibrada, às energias renováveis, a uma outra educação, à saúde, ao trabalho, à cultura, enfim à sustentabilidade, bem-estar e felicidade.

A Vida tem um Propósito Sagrado e Portugal está a encontrá-lo e o Alentejo também.