20 Setembro 2015      12:35

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ONDE ESTÁ DEUS?

Um monge budista dispôs-se a ser estudado enquanto rezava sentado numa sala com uma máquina de nome SPECT (tomografia computorizada de emissão monofotónica) com um cateter intravenoso no seu braço. Quando entra em transe, a equipa do Dr. Andrew Newberg, do Centro Myrna Brind de Medicina integral da Universidade Thomas Jefferson, em Filadélfia, Estados Unidos, injeta-lhe um rastreador radioativo. Esta substância irá preparar o seu cérebro para que possam ser captadas imagens e contrastes prodigiosos, como de fosse um retrato da alma em êxtase religioso.

“Em poucos minutos, o rastreador chega ao cérebro, enquanto reza ou medita. Então a pessoa para e levamo-la para a sala do scanner. ” disse Newberg ao “El País”. É aí que o SPECT vai iluminar os neurónios que mais sangue consomem, mas, e relativamente a outros scanners do género, o monge – neste caso – já precisa continuar a rezar depois de estar na máquina.

O monitor mostra imagens coloridas e os neurónios em maior atividade e mais irrigados ficam a vermelho e, de mais para menos, a cor vai passando por laranja, amarelo, verde, violeta até ao preto. Por exemplo, as zonas posteriores do lóbulo parietal direito, que nos orientam no espaço, aparecem mais apagadas.

“Se uma pessoa se sente ligada a Deus ou com o universo, encontramos uma quebra de atividade nos lóbulos parietais, os que nos ajudam a estabelecer o sentido do nosso “eu”.”

Pela sala passaram ateus, freiras, budistas e franciscanos. Os não crentes não se desligaram do mundo, a julgar pelas cores fracas dos seus lóbulos temporais.

Haverá diferenças entre um católico, um budista ou um muçulmano?

A ideia de “encontrar” Deus no cérebro faz muito mais sentido para Newberg, e seja qual for a religião, o comportamento cerebral é semelhante: “Não há um circuito específico religioso, mas há muitas áreas que aparecem ligadas de diversas formas, dependendo da experiência.” – e dá alguns exemplos – “Se a experiência religiosa é muito emotiva, o sistema límbico (relacionado com as emoções) é ativado; se alguém está arrependido perante Deus é sinónimo de uma baixa atividade cerebral no lóbulo frontal.”

Em resultado dos seus estudos e das suas experiências, Newberg propõe uma nova disciplina chamada Neuroteologia e que relacione neurónios e religião, ou seja, estudar a fé pelos olhos da ciência.

Durante centenas de anos estes dois mundos pareceram incompatíveis, mas Francisco Rubia, um catedrático de Fisiologia da Universidade Complutense de Madrid e autor da obra “O cérebro espiritual”, fascinado pelo cérebro humano e espantado como o cérebro “é capaz de gerar experiências místicas, transcendentes e espirituais.” às quais chama de segunda realidade e que são experiências que não têm que estar, necessariamente, associadas a qualquer tipo de fé (ainda que as religiões se baseiem no espiritual). Deste modo, este especialista espanhol sugere que o cérebro não está feito de matéria, mas sim de “espiritéria”, visto ser capaz de gerar realidades transcendentes.

 A primeira realidade, as cores, os cheiros, os sons… não existem fora, está tudo dentro de nós, é uma “criação cerebral” – diz o especialista em Neurologia e as novas correntes e avanços dos estudiosos na Física Quântica. Evocar Deus no cérebro pode soar a heresia para o crente, mas os cientistas sabem que as amígdalas cerebrais e o hipocampo, sempre que convenientemente estimulados, podem evocar coisas transcendentes: que um cristão sinta Cristo e que um budista compreenda Buda.

O assunto continua sendo misterioso e continua em estudo. Segundo o Centro de Investigação Pew, nos Estados Unidos, cerca de oito pessoas em cada dez identifica-se com alguma religião ou grupo religioso. Porquê? É a pergunta que surge e explicaria que evoluções nos transformaram em seres crentes.

Newberg sugere que a fé proporciona às pessoas um sentido de relação, de ligação, de existência de códigos morais e comportamentais que melhoram a função social do grupo, “um mecanismo pelo qual os seres humanos crescem e se adaptam, que proporciona objetivos, ser uma pessoa melhor ou desenvolver um sentido, um propósito, o significado da vida.”

Ainda faltam muitas explicações e certamente que as religiões poderão contrariar isto, no entanto, estamos equipados com o equipamento necessário: o cérebro.

 

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